A habilidade da Argélia de unir o mundo árabe foi colocada em dúvida à medida que surgem rumores sobre o adiamento da reunião de líderes da Liga Árabe marcado para novembro, na cidade de Argel, reportou a rede al-Quds al-Arabi.
O governo argelino manifestou decepção pela campanha por postergação e alegou não ceder à pressão. Ao contrário, destacou que manterá os arranjos para o encontro em coordenação com a Secretaria-Geral da Liga Árabe.
Após sessão regular do parlamento argelino, o chanceler Ramtane Lamamra confirmou a jornalistas que a Argélia está pronta para sediar o evento.
O Egito sugeriu adiar a cúpula, iniciativa ecoada à imprensa por diplomatas anônimos. Segundo as informações, as partes alegam que há dificuldades para organizar o encontro. Alguns pedem adiamento por divergências no calendário e diferenças políticas entre Argel e regimes vizinhos.
Dentre as questões mencionadas: o bom relacionamento da Argélia com o Irã, em contraponto aos governos do Golfo; a proposta argelina de reaver o assento sírio na Liga Árabe; e as tensões persistentes junto ao Marrocos, sobretudo devido à disputa do Saara Ocidental.
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Uma questão mais recente é a relação forte entre Argélia e Etiópia e o viés do estado árabe em firmar acordos com Addis Ababa, considerados pejorativos pelo Egito, sobretudo devido à crise referente ao acesso a recursos hídricos do Rio Nilo.
No final de agosto, o premiê etíope Abiy Ahmed visitou a Argélia, com intuito de discutir e ampliar a coordenação entre os países, com ênfase na indústria alimentar, ensino superior, treinamento de segurança e pesquisa científica e farmacêutica.
Segundo queixas, Argel favorece a Etiópia em sua disputa com Egito e Sudão sobre a construção da Grande Represa do Renascimento, projeto multibilionário na bacia do Rio Nilo.
Em janeiro, o presidente argelino Abdelmadjid Tebboune visitou a cidade de Cairo e reafirmou em nota conjunta com seu homólogo egípcio Abdel Fattah el-Sisi que ambos “concordaram na necessidade de alcançar um acordo legal para regulamentar o preenchimento e a operação da barragem, de modo a respeitar os interesses dos três países”.
A Argélia buscou mediar a questão em 2021 por meio de seu chanceler, que visitou as três capitais em meio à disputa. Seus esforços não obtiveram êxito.
Segundo Nasser Hamdaouche, membro do Movimento Sociedade pela Paz, o adiamento da cúpula é uma forma de “chantagem”.
“Há uma campanha para coagir a Argélia sobre algumas de suas posições sobre casos polêmicos no mundo árabe, como a normalização [com Israel], a abordagem sobre a resistência [palestina] e a disputa com o Marrocos”, declarou o ex-parlamentar à imprensa.
“Recentemente, uma disputa com Egito emergiu sobre o relacionamento entre Argélia e Etiópia, assim como o esforço argelino para reunir os países árabes, sua tentativa de reaver o assento da Síria na Liga Árabe, a recusa de alguns países em relacionar-se com o Irã e a nossa atitude sobre a solução da crise líbia”, concluiu Hamdaouche.
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