A Iniciativa Direito à Memória e Justiça Racial comunga de teorias críticas radicais e entende que a universidade produz um debate sobre segurança pública, por vezes, míope e equivocado ao não relacionar a violência urbana com as estruturas e os sistema capitalista racializado mundial. Pois, o militarismo é uma das alavancas de acumulação capitalista contemporânea como indicou Rosa Luxemburgo em seus escritos.
Pouco discutimos sobre a produção de tecnologia de morte em outros países e sua relação com o Brasil, insistimos nos mantras de controle das forças militares a partir de protocolos e do sistema judiciário. E, deixamos de lado a compreensão da indústria armamentista, principalmente o fomento de estratégias e práticas para enfrentar a produção de morte através de tecnologias cada vez mais letais.
Acreditamos que é necessário uma incidência política internacional e articulada com movimentos sociais, organizações sociais e institucionalidades para controlar, monitorar e impedir os avanços da produção de morte realizada pela indústria de tecnologia. Um caso emblemático de desafio local com a indústria armamentista é a relação do Rio de Janeiro com Israel.
A partir do nosso projeto de Olho na Alerj, de monitoramento de proposições legislativas sobre segurança pública, identificamos que a Secretaria de Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro assinou 02 contratos:
- Contrato nº 104/2022. PARTES : Secretaria de Estado de Polícia Militar e a Empresa ISRAEL WEAPON INDUSTRIES LTDA. (51-358258-5). OBJETO : Aquisição de Armas para Emprego Tático Policial – Carabinas calibre 5,56 x 45mm e .223 de plataforma Modular com mira holográfica e magnificador x3, para atender as necessidades da SEPM. Prazo: 12 (doze) meses, contados a partir da data de publicação em DOERJ. VA L O R TO TA L : U$D 915.006,96. (novecentos e quinze mil seis dólares e noventa e seis centavos de Dólar)
- Contrato nº 103/2022. PARTES : Secretaria de Estado de Polícia Militar e a Empresa ISRAEL WEAPON INDUSTRIES LTDA. (51-358258-5). OBJETO : Aquisição de Armas para Emprego Tático Policial – Carabinas Semiautomáticas cal 5,56 x 45 mm, com acessórios e conjunto de reposição imediata, para atender as necessidades da SEPM. Prazo: 12 (doze) meses, contados a partir da data de publicação em DOERJ. VA L O R TO TA L : U$D 720.364,50 (setecentos e vinte mil trezentos e sessenta e quatro dólares e cinquenta centavos de Dólar).
Estes contratos materializam a relação que o Estado mantém com o capital privado do setor armamentista mundial, um amplo investimento em consumo de tecnologias de produção de morte. Afinal, Israel vem protagonizando junto ao Brasil uma parceria entre as forças militares e policiais mais genocidas do mundo, com trocas de experiências de treinamentos, formações, armamentos e atuação em conflitos armados.
A partir da invasão da Palestina, Israel construiu uma das formas mais exitosas de consolidar-se como uma potência econômica, política e militar mundial baseada no comércio e produção de tecnologias de produção de morte. Além da possibilidade de disponibilizar produtos de expertise para assessoria armada para polícias, forças armadas, agências de inteligência e segurança nacional em todo o mundo, seja através de suas empresas públicas ou privadas como, por exemplo, a ISDS (International Security, Defence Systems).
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No caso exposto aqui das compras realizadas pelo governo do Rio de Janeiro pela SEPM com a empresa Weapon Industries Ltda, evidencia a alta participação de empresas israelenses como principal fornecedor de armas e treinamento para os policiais militares do Brasil desde o ano 2000.
Para ratificar essa economia de produção de morte e seu comércio, na América Latina, o Brasil têm a previsão de gastar de 1 a 2% do PIB em verbas para o Ministério da Defesa, com previsão de R$12 bilhões, um aumento de quase 150 milhões em relação a 2021. E este montante é do comércio formal e legal, mas sabemos que os Estados possuem participação no comércio ilegal de armas, por conseguinte, esses valores podem ser ainda maiores.
Diante desse quadro alarmante, se faz necessário uma articulação mundializada de enfrentamento a esta produção de tecnologia de morte, pautandodenúncias e boicotes internacionais destas empresas que fomentam o genocídio em várias partes do mundo financiadas por orçamentos públicos. Por isso, discutir o desfinanciamento das polícias é uma tarefa urgente para enfrentar as violações cotidianas perpetradas por esse modo de produção de vida baseado na exploração da força de trabalho e acumulação de riquezas.
Publicado originalmente em dmjracial
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