Progressistas têm ‘direito de excluir sionistas’, confirma expert em antissemitismo

Kenneth Stern, proeminente especialista em antissemitismo, observou que grupos universitários “têm o direito de excluir os sionistas” de seu circuito de atividades progressistas. Em artigo ao jornal Times of Israel, Stern afirmou que, embora possa ser “doloroso” e “contraproducente”, o direito de grupos progressistas de alienar defensores do estado colonial deve ser respeitado. Stern é o advogado americano que ganhou destaque ao participar da redação da altamente controversa definição de antissemitismo adotada pela Aliança Internacional de Memória do Holocausto (IHRA).

Sua intervenção coincide com o debate sobre a exclusão de estudantes sionistas de espaços progressistas. Estabelecido sobre o ideário nacionalista do sionismo colonial, Israel é considerado há décadas, nos círculos mais progressistas, como um estado racista que promove o assentamento ilegal de terras nativas e a limpeza étnica de sua população. Trata-se de um consenso cada vez mais contundente nos últimos tempos, sobretudo após influentes organizações de direitos humanos denunciarem Israel por perpetuar crimes de apartheid.

Com o avanço cada vez maior do reconhecimento do sionismo como ideologia racista e imperialista, grupos que defendem a igualdade, os direitos humanos, as minorias e os valores progressistas, em geral, passaram a excluir apoiadores de Israel de seus espaços. O distanciamento ocorreu apesar de alegações feitas por correligionários de que o sionismo e a afinidade com o estado ocupante são supostamente intrínsecos à identidade judaica. Entretanto, analistas contestam o argumento ao rejeitar a noção de que uma ideologia política deve ser tratada como “categoria protegida” – como gênero, religião ou raça.

A recente polêmica sobre a definição de antissemitismo da IHRA reflete uma demanda de entidades sionistas para reaver seu apoio entre a sociedade, ao alegar que o sionismo e o apoio a Israel devem ser aceitos como “categoria protegida”. Trata-se de uma busca por excepcionalismo que é rechaçada absolutamente quando outros grupos reivindicam o mesmo direito. Por exemplo, o “islamismo político” ou a busca por um “estado islâmico” não são somente veementemente contrapostos e condenados, como todo e qualquer muçulmano que insista que seu ideário político e sua crença são “categorias protegidas” tem seu apelo prontamente ignorado ou descartado – como deve ser.

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Um exemplo semelhante de tamanha discrepância é o Partido Barathiya Janata (BJP) comandado pelo premiê indiano Narendra Modi. Sob qualquer denúncia de discriminação contra minorias, o partido governista alega racismo – muito embora reivindique publicamente a formação de um estado exclusivamente hindu. É cada vez mais nítido que os extremistas do “hinduísmo político” se põem em franca rota de colisão com a constituição secular promulgada pela Índia. Embora as promessas de proclamar a Índia como único estado hindu no mundo sejam frequentemente ignoradas, o objetivo expresso é nada mais nada menos que a conversão do estado a um regime etno-religioso, ao conceder privilégios a hindus por meio de um sistema de cidadania com base em diversas classificações. O estado modelo para os extremistas indianos é precisamente Israel. O paralelo entre ambas as ideologias ilustra bem o tratamento especial consagrado ao sionismo.

Israel e seus apoiadores têm um privilégio único – que nenhuma outra comunidade política contemporânea tem acesso. Órgãos públicos e privados em todo Ocidente não apenas consentem como adotaram a chamada “definição de trabalho” de antissemitismo produzida pela IHRA, que associa críticas legítimas a Israel com o racismo antijudaico.

Muito embora não compare o sionismo e suas ideologias análogas ao redor do mundo, Stern insiste em tratar Israel e sua ideologia fundadora da mesma forma que qualquer outra abordagem política. O direito de criticar livremente sem ser difamado como racista deve ser preservado, reiterou Stern. O professor admite que o próprio sionismo é um termo a ser contestado; não obstante, o sentimento pessoal sobre o termo dentre algumas comunidades judaicas não deve ser desculpa para reprimir a liberdade de expressão ao rotular como “antissemitas” quaisquer críticos da ideologia que alicerça o Estado de Israel.

Ao comentar sobre as diferentes percepções do sionismo e as razões pelas quais progressistas excluem apoiadores de Israel, observou Stern: “Alguns estudantes progressistas podem compreender o sionismo como um termo referente ao tratamento deferido por Israel ao povo palestino; outros podem entendê-lo como muitos estudantes judeus – isto é, o direito dos judeus à autodeterminação em sua pátria histórica”. Stern explicou ainda que há um crescimento dentre judeus tradicionais e “agnósticos” de tendências antissionistas, ao sugerir que o sionismo e a suposta afinidade com Israel não são – afinal – tão fundamentais à identidade judaica como associações sionistas tanto alegam ser.

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“Estudantes antissionistas podem sentir que permitir que um sionista opere em seu meio é equivalente a ignorar um nazista”, corroborou Stern. “Da mesma maneira, algumas organizações judaicas podem sentir que acolher judeus apoiadores do movimento de Boicote, Desinvestimento e Sanções (BDS) é o mesmo que ignorar o antissemitismo”. Stern pessoalmente discorda de ambos os pressupostos; contudo, defende que outras pessoas no campus têm o direito de definir sua própria abordagem política.

Ao discorrer sobre a questão central de seu artigo ao Times of Israel – se é antissemita ou não excluir sionistas dos espaços progressistas –, Stern defende o direito a seletividade de associações progressistas. “Se um grupo decide que, para ser um membro, é necessário que um indivíduo tenha um ponto de vista particular sobre Israel e o sionismo, o direito de tomar tamanha decisão deve ser respeitado. Aqueles não convidados – embora a exclusão possa ferir seus sentimentos – podem encontrar outras maneiras de se expressar adequadamente, incluindo ao criar novos grupos e coalizões”.

Stern é um crítico eloquente da forma como a definição de antissemitismo da IHRA foi empregue por grupos sionistas para perseguir críticos do estado do apartheid. Sua intervenção mais recente representa uma defesa da liberdade de expressão e associação contra o que muitos descrevem como repressão contumaz a vozes pró-Palestina, sob ameaça constante de serem difamadas como antissemitas.

“Associações judaicas usam a definição como arma para dizer que expressões antissionistas são inerentemente antissemitas e devem ser reprimidas”, advertiu Stern no mesmo espaço dois anos atrás. Suas preocupações coincidem com a tese do comentarista americano Peter Beinart – também judeu – de que a luta contra o antissemitismo “se perdeu no caminho”.

As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.

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