O governador do Rio eleito em 2018 é o ex-juiz Wilson Witzel. Foi cassado em manobra jurídica de perda de apoio na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (ALERJ) e com o STJ atropelando o rito jurídico. Witzel pegou carona no bolsonarismo e deixou seu vice, até então um notório desconhecido – tal como ele próprio – e habitual frequentador de cargos em comissão na péssima política fluminense. Esse é o mandatário do estado do Rio, Cláudio Castro.
Antes, em 2018, sob intervenção federal, então comandada pelo general Braga Netto (candidato a vice na chapa que busca a reeleição com Bolsonaro), ocorreu o assassinato da vereadora pelo PSOL RJ, Marielle Franco, além do motorista do gabinete, Anderson Gomes. O atentado, organizado pelo ex-PM Ronnie Lessa, foi “comemorado” por um dos delegados da Polícia Civil do Rio de Janeiro que estão presos e sendo investigados pelo Grupo de Atuação Especial no Combate ao Crime Organizado (GAECO), do Ministério Público do RJ. São eles, Maurício Demétrio e Allan Turnowski, que atende pela alcunha de “amigo de Israel”.
Ambos foram presos em momentos distintos pelos agentes do MP sendo acusados de envolvimento e proteção ao bicheiro Rogério Andrade, mas também de administrar a disputa com seu rival, Fernando Ignnácio Miranda (genro de Castor de Andrade), sendo este assassinado em heliporto da Zona Oeste do Rio em novembro de 2020.
Fernando Iggnácio herdou o poder fracionado da família Andrade, já que ele sucedeu ao cunhado Paulinho de Andrade, assassinado em 1998, um ano após a morte natural do patriarca, Castor de Andrade. O sobrinho do fundador do clã mafioso, Rogério Andrade, seria o maior contratante de assassinos de aluguel, boa parte destes com origens nas forças policiais, assim como a administração da economia política do crime, tal como os delegados acima citados.
Demétrio está preso desde maio de 2021 e Turnowski foi detido no dia nove de setembro do corrente ano, dois dias após estar presente no ato a favor do presidente Jair Bolsonaro na Praia de Copacabana, dia sete. O ex-secretário da Polícia Civil se licenciou do cargo em março e para concorrer ao cargo de deputado federal pelo PL-RJ (mesmo partido do presidente e do governador do Rio) e é abertamente um apoiador do mandatário identificado com a extrema direita e notório defensor da entidade sionista.
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A união entre os dois homens do primeiro escalão da Polícia Civil fluminense está nas gravações e trocas de mensagens, citadas no programa Fantástico da Rede Globo: “Nós somos um CNPJ, um CPF só! Irmãos de embrião”. Allan declarava isso para Maurício, de modo a poderem administrar as disputas entre a cúpula da contravenção.
Outro vínculo de suspeição é com o Escritório do Crime (EC), empresa de agenciamento de pistoleiros que foi comandada pelo finado capitão Adriano da Nóbrega, “o matador”, com familiares empregados no gabinete do então deputado estadual Flávio Bolsonaro. Esta organização criminosa tinha um plano para eliminar Fernando Iggnácio. Já a prisão de Turnowski implica outra investigação, onde haveria planos de execução de Rogério Andrade, talvez até por “equilíbrio concorrencial”.
Maurício Demétrio – o irmão de CPF e CNPJ de Allan – receberia propina do EC, ainda sob o comando de Adriano Magalhães da Nóbrega (morto em operação policial na Bahia, em fevereiro de 2020). O ex-oficial do BOPE e sniper era chamado de “amigo da montanha” nas conversas investigadas. Outra correlação apresentada pelo MPRJ seria um plano dos dois delegados para prejudicar a então possível candidatura do prefeito carioca Eduardo Paes e de Felipe Santa Cruz (ex-presidente da OAB). O segundo nome citado, é filho do ex-guerrilheiro e mártir do povo brasileiro Fernando Santa Cruz, e notório opositor a Bolsonaro e sua pregação a favor da tortura.
O “amigo de Israel” foi chefe da Polícia Civil entre 2009 e 2011, quando pediu exoneração do cargo ao ser alvo de uma operação da Polícia Federal apurando relações entre agentes da ordem civis e militares vinculados ao jogo do bicho e milícias. Turnowski foi acusado de vazar inormações – quebra de sigilo funcional – mas as investigações contra ele acabaram arquivadas.
Seu número de candidato, 2227 – segundo a Rede Globo – faria alusão aos mortos do Jacarezinho, em uma operação da força de elite da Polícia Civil fluminense neste complexo de comunidades. Ocorrida em seis de maio de 2021, a matança se deu quando o STF proibia esse tipo de ação repressiva, em função da pandemia à época. Turnowski defendeu a ação de seus subordinados e disse: “A inteligência já confirmou todos os mortos como traficantes. 19 com folhas corridas até agora” .
Allan Turnowski se defende em vídeo postado no seu canal do YouTube, onde afirma ter pedido a prisão de outros líderes do jogo do bicho, como José Caruzzo Escafura (o Piruinha) e Bernardo Bello (esse seria mais um cliente do Escritório do Crime) e o ex-vereador, ex-sargento bombeiro e chefe de milícia para-militar na região do Gardênia Azul, Cristiano Girão. O delegado afirma que “não tenho medo de bandido no tráfico, na milícia, na contravenção e não tenho medo de bandido na Federal e no Ministério Público”.
No mesmo canal de vídeos, aparece um arquivo onde o senador Flávio Bolsonaro aparece apoiando-o, assim como no programa O Jogo do Poder (Rede CNT), o delegado acusa “políticos que defenderam fazer memorial de traficante no Jacaré”.
Allan e a guerra de Israel
Quando era chefe de Polícia Civil do ex-governador preso por corrupção Sergio Cabral Filho (entre 2009 e 2011), Turnowski assinou artigo na Folha de São Paulo, datado de 10/08/2009. No texto, intitulado “Quando todos vão à guerra”, narra uma missão oficial realizada em 2007 quando fez parte de uma comitiva da Secretaria de Segurança Pública do Rio de Janeiro, em viagem ao Estado de Israel, para a compra de veículos leves e equipamentos de uso individual para policiais civis e militares. O material de opinião é um libelo em homenagem ao emprego da população do Apartheid Sionista como fonte de recrutamento imediato e pondera, tecnicamente, que a vida dos operadores policiais deve estar à frente dos custos de reposição.
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Sobre o “custo de vidas civis”, nenhuma palavra. O que mais chama atenção é o fato de já em 2007, Allan Turnowski estar lidando com o processo de compra “Trata-se de equipamentos de ponta, de uma empresa com orçamento anual de US$ 600 milhões, utilizados por diversas polícias do mundo, entre elas de Suécia, Alemanha e Israel. Muitas dessas polícias atuam em países onde não há a realidade de confrontos do Rio de Janeiro, mas que adquiriram esses equipamentos para proteção de seus policiais e redução de distúrbios urbanos.”
Ao final do texto, o delegado que foi preso este ano pelo MPRJ afirma: “Enquanto isso, solicitamos aos nobres sociólogos que nos incluam em sua luta de classes por uma sociedade mais justa e respeitadora dos direitos humanos. Detalhe: não conseguimos importar os blindados.”
Turnowski não é exceção quando se correlaciona apoio a Bolsonaro, elogio da violência policial e manifestações de simpatia aos invasores europeus que ocupam a Palestina. O delegado também obedece a um padrão de lealdades duvidosas quando se trata da economia política do crime no Rio de Janeiro, este de raiz mais antiga, anterior mesmo do fenômeno da nova extrema direita.
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