Em 13 de setembro de 1993, a Organização para a Libertação da Palestina (OLP) e o governo israelense assinaram os chamados Acordos de Oslo, que estabeleceram um precedente histórico sobre o reconhecimento palestino ao estado ocupante e concederam certo verniz de legitimidade a uma concessão que Tel Aviv jamais imaginou. Sequer em seus sonhos mais loucos, os ideólogos sionistas conceberiam que um dia os representantes do povo palestino – que detêm o verdadeiro direito nativo à Palestina histórica – reconheceriam a “titularidade” israelense de suas terras, assim como seu subsequente controle.
Quase três décadas após a assinatura, é evidente que os Acordos de Oslo não levaram ao fim da ocupação tampouco à autodeterminação do povo palestino. Muito ao contrário, o pacto fracassou com os palestinos em todos os níveis – político, econômico e social – e avançou quase exclusivamente a favor dos interesses da ocupação. Os palestinos compreendem que seus “representantes” fazem o trabalho sujo de Israel, ao reprimir atividades legítimas de resistência em seu nome e lhe conceder a oportunidade de normalizar relações com países árabes.
Mesmo os israelenses sabem deste fato. Desde o primeiro instante, os líderes sionistas sabiam muito bem que os Acordos de Oslo continham as sementes do próprio fracasso. Sua única tarefa seria manter a segurança de Israel às custas do povo palestino e sua justa causa.
Dada a falta de horizonte político entre palestinos e israelenses e a recente conversão destes à extrema-direita, é notório que Israel tenta abandonar os Acordos de Oslo, embora seu compromisso alivie a ocupação do fardo econômico de administrar os assuntos palestinos. Simultaneamente, os termos do pacto mantiveram todas as questões políticas e militares nas mãos de Israel. Graças a Oslo, trata-se de uma ocupação de luxo – gratuita e exclusiva!
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As alegações de populistas israelenses de extrema-direita de que Oslo causou a morte de milhares de seus cidadãos carecem de objetividade e precisão. Entre sua assinatura e setembro de 2000, o movimento Fatah não conduziu uma única operação armada contra Israel. Neste entremeio, outras facções – sobretudo o Hamas e Jihad Islâmica – concentraram suas atividades entre setembro de 1993 e fevereiro do ano seguinte. As ações de resistência abrangiam ataques a faca e armas de fogo. Esta fase da resistência foi semelhante à Primeira Intifada, que durou entre 1987 e a assinatura dos acordos. Entre 1990 e 1993, Gaza e Cisjordânia vivenciaram 9.323 ataques armados contra Israel – média de sete operações por dia; entre 1993 e 1999, foram 4.216 ataques – duas operações por dia.
Os números demonstram que os Acordos de Oslo resultaram na queda dos atos de resistência palestina em 70% – muito embora não tenham cessado por completo. As estatísticas comprovam ainda uma queda evidente e dramática em operações armadas desde os Acordos de Oslo, sobretudo desde abril de 1996, quando a coordenação de segurança entre a Autoridade Palestina (AP) e o exército israelense atingiu uma nova escala. Entre 1997 e 1999, atividades de resistência decresceram drasticamente a uma única operação por dia.
Os israelenses reconhecem que a coordenação de segurança com a Autoridade Palestina – um dos resultados diretos de Oslo – frustrou a maior parte dos esforços de resistência. Uma comparação simples mostra a importância dos Acordos de Oslo ao estado ocupante em termos de segurança: entre 1987 e 1993, duzentos israelenses foram mortos; entre 1993 e 2000, faleceram 288 israelenses sob operações de resistência. Porém, sob aumento da cooperação de segurança, o número de israelenses mortos caiu substancialmente. Entre 1997 e 2000, cinquenta israelenses foram mortos por operações realizadas por palestinos; entre 1999 e 2000, somente nove foram mortos. No período entre 1987 e 1993, os palestinos executavam em média 289 ataques por mês; entre 1997 e 2000, o mesmo índice desabou a 111 operações mensais. Os números são bastante eloquentes. Caso o processo de Oslo seguisse como planejado, o número de operações de resistência chegaria a zero e a Segunda Intifada – também conhecida como Intifada de Al-Aqsa – jamais teria começado.
As alegações da direita israelense de que o conflito é exacerbado por Oslo são outro exemplo de seus esforços para encobrir o fato de que a ocupação – e ninguém mais – é a raiz do problema. É irônico, portanto, que os mesmos israelenses que tanto atacam os Acordos de Oslo são aqueles que mais se beneficiam de suas concessões. O pacto ajudou a ocupação a conservar seus assentamentos ilegais na Cisjordânia, ao seccionar o território em três áreas distintas, com intuito de manter controle militar e administrativo sobre a maior parte e incentivar colonos a impor uma realidade em campo que possibilidade a anexação. A partilha conferiu também uma soberania limitada a aldeias e cidades palestinas, como verniz de legitimidade. A quem quer que tenha redigido Oslo, Israel deve enorme gratidão.
O que reforça essa nova abordagem israelense como alternativa aos Acordos de Oslo é – podemos supor – a falta de qualquer vontade política para conduzir negociações efetivas com o lado palestino, assim como a persistente indiferença de Washington a qualquer eventual solução do conflito. Como se não bastasse, é notório que a Autoridade Palestina não representa a totalidade dos palestinos, devido à natural divisão política entre a população originária.
Há muito a dizer sobre os impactos negativos dos Acordos de Oslo à questão nacional palestina. O maior perigo repousa precisamente em sua reciclagem, na forma de acordos dúbios que negligenciam os direitos legítimos dos palestinos e estabelecem, em seu lugar, modelos de “paz econômica” e semiautonomia. Trata-se de levar a população de volta a um tempo de tutelagem regional e internacional, ao reproduzir o que há de pior nos Acordos de Oslo.
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