Diretores e artistas repudiaram a decisão da 15ª Feira de Arte Moderna Documenta de suprimir a exibição de filmes solidários à causa palestina. O evento de cem dias, sediado na cidade alemã de Kassel e realizado a cada cinco anos, foi marcado por uma veemente disputa sobre a censura a obras pró-Palestina.
O festival teve início em 18 de junho e se encerra em 25 de setembro.
Um grupo consultivo incumbido de supervisionar a programação recomendou a censura de uma série de filmes sobre a causa palestina, reportou o Art Newspaper. A série Tokyo Reels inclui peças restauradas por pesquisadores e produtores do coletivo audiovisual Subversive Film. Conforme o grupo, sua exposição tinha como objetivo dar visibilidade à “solidariedade anti-imperialista ignorada e pouco documentada entre Japão e Palestina”.
Em comunicado, o conselho consultivo descreveu a série como “propaganda pró-Palestina realizada entre as décadas de 1960 e 1980” e alegou que os vídeos são “repletos de peças antissemitas e antissionistas”.
A censura, contudo, foi condenada tanto pelo grupo responsável pela exibição, o coletivo indonésio ruangrupa, quanto pelo Comitê de Pesquisa para Direção Artística, órgão que o escolheu como curador da exposição.
Nesta quinta-feira (15), o comitê de direção artística da 15ª Feira de Arte Moderna Documenta divulgou um comunicado para destacar sua solidariedade aos curadores e produtores culturais alvejados pelos esforços contundentes para censurá-los.
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“As pressões impostas pela imprensa e por políticos sobre toda a equipe do evento se tornaram insuportáveis”, observou a nota. “Acreditamos que sua voz [do grupo ruangrupa] também deve ser ouvida. Aplaudimos a resiliência dos artistas cuja integridade foi agredida, que conservaram seu compromisso a seus princípios comunitários”.
Mais de cem participantes do evento condenaram as acusações de “antissemitismo” proferidas pelo grupo consultivo do festival Documenta. “Seu relatório representa uma nova transgressão e o rejeitamos categoricamente”, denunciaram os artistas em carta aberta.
“Tamanha transgressão é marcada por um esforço racista ratificado por meio de uma estrutura perniciosa de censura”, acrescentou o documento. “Denunciamos essa tentativa vil de suprimir a apresentação da série Tokyo Reels”.
Sob a controvérsia, um porta-voz do festival, contudo, transferiu a responsabilidade ao coletivo curatorial ruangrupa, ao lhe conferir “direito exclusivo de decisão” e negar a recomendação de remover temporariamente a obra audiovisual de sua programação.
Alegações de “antissemitismo” assolam o 15ª Feira de Arte Moderna Documenta desde janeiro, quando jornalistas e políticos pró-Israel passaram a atacar o apoio expresso de alguns artistas à causa palestina e ao movimento de Boicote, Desinvestimento e Sanções (BDS) – campanha civil contra a ocupação e o apartheid israelense.
Nos anos recentes, muitas instituições alemãs adotaram a altamente controversa definição de antissemitismo promovida pela Aliança Internacional de Memória do Holocausto (IHRA). Onze dos 13 exemplos de antissemitismo descritos no documento não-vinculativo – promovido por entes sionistas – associam críticas legítimas ao Estado de Israel com racismo antijudaico.
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Na última semana, um tribunal alemão julgou contra a corporação de imprensa Deutsche Welle, por demitir a jornalista palestina Farah Maraqa sob o pretexto de “antissemitismo”, conforme a definição da IHRA. Maraqa foi exonerada junto de seis colegas em fevereiro.
A vitória de Maraqa é o segundo processo perdido pela gigante alemã das comunicações após a demissão dos sete profissionais de seus serviços em árabe. Em julho, uma corte em Bonn julgou ilegal a rescisão do contrato da repórter palestina Maram Salem.
Tais vereditos criam precedente de ilegalidade a atos de censura sob pretexto de combate ao “antissemitismo”, ao descrevê-los como difamação e violação da liberdade de expressão.