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Artistas denunciam censura de filmes palestinos em festival na Alemanha

Socorristas procuram por desaparecidos sob os escombros de um edifício de quatro andares em Amã, capital da Jordânia, em 13 de setembro de 2022 [Diretoria de Segurança Pública da Jordânia/Agência Anadolu]

Diretores e artistas repudiaram a decisão da 15ª Feira de Arte Moderna Documenta de suprimir a exibição de filmes solidários à causa palestina. O evento de cem dias, sediado na cidade alemã de Kassel e realizado a cada cinco anos, foi marcado por uma veemente disputa sobre a censura a obras pró-Palestina.

O festival teve início em 18 de junho e se encerra em 25 de setembro.

Um grupo consultivo incumbido de supervisionar a programação recomendou a censura de uma série de filmes sobre a causa palestina, reportou o Art Newspaper. A série Tokyo Reels inclui peças restauradas por pesquisadores e produtores do coletivo audiovisual Subversive Film. Conforme o grupo, sua exposição tinha como objetivo dar visibilidade à “solidariedade anti-imperialista ignorada e pouco documentada entre Japão e Palestina”.

Em comunicado, o conselho consultivo descreveu a série como “propaganda pró-Palestina realizada entre as décadas de 1960 e 1980” e alegou que os vídeos são “repletos de peças antissemitas e antissionistas”.

A censura, contudo, foi condenada tanto pelo grupo responsável pela exibição, o coletivo indonésio ruangrupa, quanto pelo Comitê de Pesquisa para Direção Artística, órgão que o escolheu como curador da exposição.

Nesta quinta-feira (15), o comitê de direção artística da 15ª Feira de Arte Moderna Documenta divulgou um comunicado para destacar sua solidariedade aos curadores e produtores culturais alvejados pelos esforços contundentes para censurá-los.

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“As pressões impostas pela imprensa e por políticos sobre toda a equipe do evento se tornaram insuportáveis”, observou a nota. “Acreditamos que sua voz [do grupo ruangrupa] também deve ser ouvida. Aplaudimos a resiliência dos artistas cuja integridade foi agredida, que conservaram seu compromisso a seus princípios comunitários”.

Mais de cem participantes do evento condenaram as acusações de “antissemitismo” proferidas pelo grupo consultivo do festival Documenta. “Seu relatório representa uma nova transgressão e o rejeitamos categoricamente”, denunciaram os artistas em carta aberta.

“Tamanha transgressão é marcada por um esforço racista ratificado por meio de uma estrutura perniciosa de censura”, acrescentou o documento. “Denunciamos essa tentativa vil de suprimir a apresentação da série Tokyo Reels”.

Sob a controvérsia, um porta-voz do festival, contudo, transferiu a responsabilidade ao coletivo curatorial ruangrupa, ao lhe conferir “direito exclusivo de decisão” e negar a recomendação de remover temporariamente a obra audiovisual de sua programação.

Alegações de “antissemitismo” assolam o 15ª Feira de Arte Moderna Documenta desde janeiro, quando jornalistas e políticos pró-Israel passaram a atacar o apoio expresso de alguns artistas à causa palestina e ao movimento de Boicote, Desinvestimento e Sanções (BDS) – campanha civil contra a ocupação e o apartheid israelense.

Nos anos recentes, muitas instituições alemãs adotaram a altamente controversa definição de antissemitismo promovida pela Aliança Internacional de Memória do Holocausto (IHRA). Onze dos 13 exemplos de antissemitismo descritos no documento não-vinculativo – promovido por entes sionistas – associam críticas legítimas ao Estado de Israel com racismo antijudaico.

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Na última semana, um tribunal alemão julgou contra a corporação de imprensa Deutsche Welle, por demitir a jornalista palestina Farah Maraqa sob o pretexto de “antissemitismo”, conforme a definição da IHRA. Maraqa foi exonerada junto de seis colegas em fevereiro.

A vitória de Maraqa é o segundo processo perdido pela gigante alemã das comunicações após a demissão dos sete profissionais de seus serviços em árabe. Em julho, uma corte em Bonn julgou ilegal a rescisão do contrato da repórter palestina Maram Salem.

Tais vereditos criam precedente de ilegalidade a atos de censura sob pretexto de combate ao “antissemitismo”, ao descrevê-los como difamação e violação da liberdade de expressão.

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