‘Espero que meu livro possa ajudar os deslocados da Síria’, afirma Zoulfa Katouh

Zoulfa Katouh escreveu As Long as The Lemon Trees Grow (Enquanto crescem os limoeiros) publicado pela editora Bloomsbury

Zoulfa Katouh, nascida no Canadá, se tornou a primeira escritora de descendência síria publicada pela editora Bloomsbury, em sua categoria Jovens Árabes, com seu romance de estreia As Long as The Lemon Trees Grow (Enquanto crescem os limoeiros).

Situado no contexto da revolução síria, As Long as The Lemon Trees Grow não é somente uma ficção poderosa, mas também um chamado à consciência e à compreensão da situação na Síria. O livro acompanha Salama Kassab, estudante de farmácia quando deflagrou a guerra. Em um piscar de olhos, a jovem perde sua família, sua casa e sua liberdade. Após se voluntariar em um hospital de Homs, Salama passa a tratar e mesmo conduzir cirurgias nos mártires do conflito. No intuito de escapar da violência, decide sair do país com sua cunhada grávida, mas descobre que o caminho escolhido também é árduo.

Katouh relata ao MEMO ter se inspirado na leitura de alguns livros baseados em fatos reais. “Eu queria mostrar o que acontece na Síria por meio de uma história ficcional. Há alguns anos, li as obras Salt to the Sea e Between Shades of Grey, de Ruta Sepetys, que escreveu sobre os eventos da Segunda Guerra Mundial por uma perspectiva pouco conhecida. Ruta trouxe realidade a sua ficção e é isso que busquei com As Long as The Lemon Trees Grow”.

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“Eu queria fazer isso para meu país e construir uma narrativa ficcional inspirada em fatos reais ainda em curso”, reafirmou. “No entanto, os personagens são ficcionais e, portanto, penso que é possível aproximá-los do imaginário das pessoas”.

Katouh começou a escrever durante seu curso universitário na Suíça. Neste entremeio, Katouh equilibrou estudo, família e seus esforços literários. “Eu comecei meu mestrado em ciências farmacológicas e passei a escrever no intervalo entre as aulas. Ambas as jornadas pesaram sobre mim, mas fico contente em ver seus frutos”.

Katouh expressou surpresa e entusiasmo em se tornar a primeira autora de raízes sírias a ser publicada pela editora Bloomsbury nos Estados Unidos e Reino Unido. “Sou muito grata, graças a Deus. Se não fosse por Ele, eu não estaria aqui”.

Seu livro retrata também o relacionamento entre Salama e Kenan, após a jovem voluntária tratar da irmã mais nova de Kenan em um centro médico. Os personagens manifestam esperanças em meio à guerra e seus iminentes traumas. Sua relação é como “uma luz nas trevas”, em particular, seus “momentos de silêncio e afeto”, reiterou a autora.

Katouh também tem esperanças de que sua obra derrube alguns estereótipos negativos sobre os refugiados e mobilize solidariedade à sua luta.

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Ninguém escolhe ser refugiado; ninguém sai ao mar sob risco de vida caso não deixe para trás algo ainda mais tenebroso. Os refugiados navegam em direção a um futuro que pode ou não existir, o que demanda enorme coragem.

 

 

Katouh insiste que a “revolução síria” – e não a “guerra civil” – fornece o cenário de seu livro. “Sinto que é algo muito interessante porque tivemos revoluções antes nas quais o povo se revoltava contra uma ditadura ou um grupo de opressores. A população sentia fome, era jogada às prisões de maneira injusta e queria apenas sua liberdade. Por que com a Síria é diferente? A definição é precisamente a mesma: há o povo que deseja liberdade e um grupo de pessoas que o oprime. A ideia geral é de revolução – a revolução síria que teve início com um chamado por liberdade e que penso que conquistará resultados”.

Seu uso da linguagem é fundamental a seu objetivo de encorajar o público a explorar em mais detalhes os acontecimentos na Síria. “Tive alguns leitores que decidiram fazer doações ao país e foi algo maravilhoso para mim. Leitores que vivem na Europa e no Ocidente e nada sabem sobre a Síria presentearam suas famílias com meu livro, com intuito de que todos saibam o que está acontecendo. Tenho esperanças de que minha obra alcance alguém que possa ajudar as pessoas deslocadas de suas casas. Ainda podemos ajudar aqueles sofrem. Sinto que posso fazê-lo com minhas palavras. Sinto que, quem sabe, se alguns de nós sabermos melhor do que acontece, podemos fazer algo para ajudar aqueles que mais precisam”.

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