O governo em Teerã não descarta a possibilidade de um encontro nos bastidores da Assembleia Geral das Nações Unidas, realizada anualmente em Nova York, para retomar seu acordo nuclear com as potências globais, destacou nesta segunda-feira (19) o porta-voz da chancelaria iraniana Nasser Kanaani.
Meses de conversas indiretas entre Irã e Estados Unidos foram tomados por diversos impasses, incluindo a insistência iraniana de que a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) feche suas investigações sobre traços de urânio encontrados em locais não-declarados.
Teerã insiste ainda que Washington garanta seu compromisso vinculativo ao tratado nuclear – assinado em 2015, revogado três anos depois pelo então presidente Donald Trump. Durante a campanha eleitoral, seu sucessor Joe Biden prometeu reaver o pacto; contudo, como chefe de estado sob o sistema federalista americano, nega ter jurisdição para convertê-lo de política de governo a política de estado.
“Ali Bagheri Kani, chefe de negociações atômicas, estará presente … na Assembleia Geral como parte da delegação [iraniana], mas não há planos em particular para discutir o acordo”, afirmou Kanaani. “No entanto, não descarto a possibilidade de realizarmos conversas”.
Segundo Kanaani, o governo iraniano jamais deixou a mesa de negociações.
O porta-voz, porém, rejeitou a possibilidade de um encontro direto com oficiais americanos. Teerã e Washington não têm quaisquer relações diplomáticas desde o advento da república islâmica, em 1979, e ainda trocam farpas sobre diversas questões de geopolítica.
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Em entrevista à rede CBS transmitida neste domingo (18), o presidente iraniano Ebrahim Raisi insistiu no compromisso de seu país em reaver o pacto, caso haja garantias de que não volte a ser abandonado – como fez Trump, ao restabelecer duras sanções econômicas.
“Se é um acordo justo e bom, vocês têm nossa palavra”, declarou Raisi.
O acordo nuclear previa restrições ao programa nuclear iraniano em troca da suspensão de sanções internacionais. Todavia, desde a retomada do embargo americano, Teerã retomou gradualmente o enriquecimento de urânio a níveis considerados militares.
A república islâmica, todavia, nega quaisquer propósitos de guerra e reitera que seu programa nuclear tem fins pacíficos. Adversários regionais – como Israel e Arábia Saudita – pressionam a Casa Branca para não retomar o tratado.
Não há sinal de avanços ou superação dos impasses, mas Teerã espera manter as negociações em curso em meio à Assembleia Geral das Nações Unidas, ao reforçar seu mantra de que está disposto a conservar um pacto considerado sustentável.