A história dos livros de Shadi

Shadi Abu Nasser, formado em literatura inglesa, atua na área de comércio livreiro desde 2007 até agora.  Começou por acaso, enquanto se preparava para o ensino médio em 2006 devido à difícil situação financeira. “ Eu tinha vários livros que queria vender para ajudar a mim e à minha família.  Fui ao portão da Universidade de Yarmouk com um amigo e comecei a expor livros. Fiquei surpreso desde o primeiro dia com o tamanho da afluência” – lembra Shadi.

O primeiro livro,  ele vendeu no ensino médio por US $ 5. “A ideia não era bem aceita pela  minha família, mas a necessidade me obrigou a fazê-lo, e meus pais aceitaram quando viram seu sucesso.” E aí surgiu a ideia. Ele percebeu que as pessoas perguntavam sobre certos livros e queriam leitura, o que  foi uma fonte de alegria para ele que, depois disso, começou a investir em livros. Comprava uma obra, lia primeiro e depois a colocava à venda.

Nesta entrevista ao Monitor do Oriente Médio, ele fala de uma trajetória de amor por livros e conhecimento que atraiu clientes e admiradores muito além da calçada em que montou sua primeira banca.

 

Conhecimento é poder

No começo eu estava vendendo meus próprios livros, e então comecei a me comunicar com negociantes e editoras e comprar deles e vender, então comecei a importar livros de Beirute, Síria e Egito. E agora, felizmente, na minha pequena loja, existem 10.000 títulos de livros diferentes entre pensamentos, filosofia, política, psicologia, literatura, ciências médicas, livros infantis e desenvolvimento humano, e temos a capacidade de trazer qualquer livro que seja recomendado pelos leitores, em qualquer idioma, com qualquer título ou tópico.

A loja foi criada com muito esforço e trabalho duro. No começo, eu vendia na rua, e surgiu uma disputa entre mim e o município. Infelizmente, eles removeram a banca da calçada. Então os primeiros clientes criaram a hashtag “#Return Shadi’s store” (Devolva a banca de Shadi). Isso foi no início de 2016, e a campanha da hashtag foi encampada pelo povo e o município retirou sua decisão. Após acordo para uma licença anual de US $ 5.000, a banca voltou legalmente. E comecei a fazer exposições em aldeias e províncias remotas que nem livros nem exposições anuais alcançam. Fizemos exposições nas escolas, tentando ao máximo apoiar e motivar as crianças e os jovens a ler sob o lema “Conhecimento é poder”.

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Como a loja funciona

A ideia se cristalizou e o projeto foi lançado, e não nos limitamos apenas à cidade “Irbid”, mas a outras províncias, cidades e países através da ativação da compra eletrônica. Compradores de alguns países foram nossos pioneiros e ficaram clientes de forma permanente, como Palestina, Kuwait, América, Europa, Brasil, Alemanha e Dinamarca, e trabalhamos para entregar livros a eles com a maior rapidez e menor custo de acordo com a demanda e necessidade dos leitores.

A loja tem seus seguidores na comunidade. Sem pessoas e amantes dos livros, eu não teria conseguido e nunca teria continuado. Quando a loja foi removida, a hashtag sobre  a “loja do Shadi” liderou as redes sociais por 3 dias. A notícia da remoção da loja também se espalhou globalmente, então fui contatado pela Reuters, a agência de notícias francesa, e algumas agências de notícias suecas, do Bahrein e árabes, e a pergunta era sobre o real motivo da remoção da loja pelo município. A ideia da livraria é disseminar a cultura e o desenvolvimento comunitário por meio da leitura. Obrigando o ex-prefeito, Hussein Bani Hani, a me visitar e pedir desculpas depois que a ordem legal foi corrigida.

A pior lembrança para Shadi

A situação que mais me incomodou foi que quando eu estava em outra cidade para comprar livros, a prefeitura veio e retirou a loja e colocou os livros no aterro, e eu fui para o aterro e comecei a recolher livros porque é o meu sustento.

Situação mais engraçada

A situação mais engraçada foi a de uma pessoa que chegou às quatro da tarde e, quando viu os livros sem guarda e sem sistema de câmera, escreveu em um pedaço de papel e deixou lá. ‘Muito obrigado por espalhar conhecimento. Era possível roubar enquanto eu passava. Gosto que você tenha deixado livros dessa maneira. Desejo melhoras e obrigado por espalhar conhecimento ao deixar livros para os transeuntes que quiserem.’  Postei isso na minha página e obtive uma ótima resposta dos meus seguidores. Minha mensagem é que deixo livros sem guardas ou sistema de câmeras, e quem vier e pegar um livro, eu o perdôo.

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Meu lugar é este

Senti-me triste e oprimido, então resolvi emigrar de minha terra natal, a Jordânia, por causa da injustiça que me foi infligida por terem jogado livros intelectuais no aterro. Viajei para os Emirados Árabes Unidos e trabalhei como consultor cultural, e depois de um tempo descobri que trabalhar nos Emirados é maravilhoso, mas não é meu lugar favorito. Descobri que meu lugar é a loja mais próxima da simplicidade e que meu conforto psicológico está na simplicidade longe das finanças, lucros e luxo. Tentei reabrir a loja, mas confrontei a autarquia e retiraram os livros mais de uma vez, mas não como da primeira vez, e agora a relação com a autarquia é boa, depois de corrigida a situação legal e pagas as obrigações financeiras.

Livros mais vendidos

Os romances de Ghassan Kanafani, os livros de Gibran Khalil Gibran, a Arte da Indiferença, de Mark Manson e a Enciclopédia Facilitada da História Islâmica de Ragheb Al-Sirjani. Há também alguns livros proibidos disponíveis na loja como O Diário do Rei Talal,  O Gênio do Fracasso, de Khaled Al-Hassan, e alguns dos romances de Ayman Al-Atoum, que foram proibidos.

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Shadi no futuro

Busco ser o dono da maior livraria do Oriente Médio, e essa é minha ambição e trabalho nisso. Tenho a ideia de construir uma editora para difundir nossa cultura e literatura para outras línguas, e trazer literatura congolesa, nigeriana,  portuguesa e sul-coreana, sobre as quais não sabemos muito. É importante continuar trabalhando na loja porque ela se tornou um marco cultural e intelectual da cidade.

Livros sobre a causa palestina

A causa está presente com as personalidades mais fortes e honestas que lutaram contra a normalização e a narrativa sionista, como Nour Masalha, Naji Al-Ali, Ghassan Kanafani, Ibrahim Nasrallah, Ibrahim Khalaf, George Habash, Ahmed Al-Shugairi e muitos outros. Eu me esforço para ter esse tipo de livro sempre presente com os antigos historiadores e escritores que mencionei, como Al-Khalidi, Al-Shugairi, e os novos, como Basil Al-Araj que escreveu Encontrei minhas respostas e Abdullah Al-Barghouti em seu livro O Príncipe das Sombras.

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