Entre 20 e 26 de setembro deste ano, a Assembleia Geral das Nações Unidas realiza sua 77ª sessão, evento no qual chefes de estado e governo se encontram na sede do fórum internacional, na cidade de Nova York, para debater questões globais. A maioria dos líderes nacionais discursou sobre seus próprios problemas políticos, sociais e econômicos. Não obstante, figuras de destaque na América Latina – sobretudo do Chile e do Peru – subiram ao plenário e falaram abertamente dos direitos do povo palestino e da perseguição imposta pela ocupação militar israelense em suas terras ancestrais.
O presidente chileno Gabriel Boric – líder mais jovem do mundo contemporâneo – ressoou o alarme sobre as violações de Israel contra os palestinos. Em seu primeiro discurso na Organização das Nações Unidas (ONU), Boric demandou dos estados-membros que “não normalize a permanente violação de direitos humanos contra o povo palestino, fazendo valer o direito internacional e as resoluções que, ano após ano, esta mesma assembleia estipula”. Ademais, Boric reivindicou apoio internacional ao estabelecimento de um estado palestino – “próprio, livre e soberano”.
Boric – notório apoiador da causa palestina e ativista por direitos humanos – destacou que o mundo vive uma era de incerteza, de modo que nenhum país está isolado ou imune das ondas de choque produzidas por eventos conjecturais e planetários. “O Chile precisa do mundo, o mundo precisa do Chile”, reafirmou.
No entanto, o jovem líder chileno não foi o único emissário latino-americano a usar seu espaço nas Nações Unidas para comentar sobre a causa palestina. O Presidente do Peru Pedro Castillo Terrones também manifestou uma denúncia eloquente dos crimes cometidos pela ocupação israelense e pediu intervenção internacional para rematá-la. O líder peruano advertiu para o amortecimento das negociações diplomáticas voltadas à solução do conflito e reiterou urgência em robustecer e expandir os esforços de paz das Nações Unidas.
Castillo reafirmou, no entanto, que a ocupação dos territórios palestinos desde 1967 é ilegal. “Não há intervenções armadas boas ou más”, insistiu. Em seguida, reforçou apelos para que a comunidade internacional assuma sua responsabilidade para produzir uma “solução de dois estados” – consenso global que prevê o estabelecimento de um estado palestino composto por Gaza, Cisjordânia e Jerusalém Oriental.
Em entrevista ao MEMO, a jornalista e ativista política peruana Luz Marina Gutiérrez destacou que seus conterrâneos estão satisfeitos com a posição de seu governo sobre as demandas por justiça do povo palestino. “Sem dúvida, é um enorme passo na relação fraterna entre Palestina e Peru, sobretudo no processo de libertação palestina. Temos de reconhecer a contribuição e as ações de ativistas, parlamentares e membros da comunidade palestina no Peru, que conduziram esforços para conscientizar o presidente Pedro Castillo”.
Gutiérrez foi além: requereu que seu país e outros estados latino-americanos rompam relações diplomáticas com Tel Aviv – “dado que a ocupação não é um amigo ou aliado confiável, sequer em termos de cultural e colaboração agrária”. Gutiérrez observou que os estados globais têm de agir concretamente “contra a limpeza étnica e o apartheid perpetrado impunemente por Israel contra o povo palestino, há mais de 74 anos”.
Segundo a ativista peruana, a conjuntura latino-americano mudou a favor da Palestina, mas é possível que o processo seja ainda “longo e doloroso”. “Dia após dia, torna-se mais e mais difícil a Israel cobrir o sol com a peneira. As pessoas começam a acordar, pouco a pouco, diante da verdade e do conhecimento dos fatos”. Gutiérrez reiterou que a sociedade civil em seu país trabalha arduamente em favor do povo palestino. “Há um veemente trabalho de solidariedade internacional, mas é necessário unir esforços”.
Durante seu discurso na Assembleia Geral, o presidente peruano anunciou sua intenção de abrir em breve um escritório de representação na Palestina – medida que deve fortalecer relações de amizade entre os países. O Peru reconheceu o Estado da Palestina em 2011, ao tornar-se a 11ª nação sul-americana a fazê-lo. Segundo Gutiérrez, as declarações de Castillo podem servir de inspiração a outros líderes da América Latina, com potencial de reaver a veemente participação do bloco continental nos esforços para libertar o povo palestino.
Dia após dia, o retrato se torna mais claro perante o mundo; as mentiras da ocupação estão expostas. O mundo contemporâneo, cada vez mais, exige respeito aos direitos dos palestinos nativos, tanto nas Nações Unidas quanto em outros fóruns internacionais. “Estamos conectados à Palestina por um senso de justiça, liberdade e paz e por valores de solidariedade”, concluiu Gutiérrez.
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