Boric do Chile desperdiçou oportunidade para Palestina na ONU

O presidente chileno Gabriel Boric pode ser atualmente o mais eloquente líder latino-americano no que se refere aos direitos do povo palestino e às violações cometidas por Israel. Contudo, sua retórica deixa muito a desejar. De fato, levanta dúvidas sobre como o Chile – país com maior comunidade palestina na região – pode distinguir-se de seus vizinhos e se tornar um modelo a seguir, ao invés de meramente acompanhar o consenso internacional sobre a concessão de dois estados e o paradigma de segurança de Israel.

Em seu primeiro discurso na Assembleia Geral das Nações Unidas, o jovem presidente chileno falou sobre o direito do povo palestino por liberdade e soberania, mas maculou sua mensagem ao inserir uma falsa equivalência com Israel que elimina o contexto colonial. “O povo palestino obter seu direito inalienável de estabelecer um estado próprio, livre e soberano. Igualmente, é preciso garantir o direito legítimo de Israel de existir dentro de fronteiras seguras, reconhecidas internacionalmente”, declarou Boric.

O discurso de Boric foi descrito como “politicamente correto”, ao valer-se da postura histórica de seu país em defesa dos direitos palestinos e israelenses, ao promover a chamada “solução de dois estados” – assim como o resto da comunidade internacional. Em todo caso, o ativismo de Boric parece ter pouco ou nenhum impacto na diplomacia chilena. Seu governo adota a mesma postura de seu antecessor Sebastián Piñera – um presente a Tel Aviv, apesar da feroz campanha sionista contra a vitória eleitoral de Boric.

Dias antes de seu discurso nas Nações Unidas, o presidente chileno adiou uma cerimônia para receber as credenciais do novo embaixador israelense no país latino-americano, Gil Artzyeli, em resposta ao assassinato do jovem palestino Odai Trad Salah, de 17 anos, por forças israelenses, na aldeia de Kufr Dan, perto de Jenin. Sua posição ganhou manchetes internacionais, mas foi mitigada por seu discurso em Nova York, no qual pareceu equivaler colonizado e colonizador, ao simplificar – senão obliterar – a razão pela qual os palestinos não têm direito a seu estado.

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Boric está ciente do sofrimento do povo palestino como resultado da colonização sionista. Sabe também que os palestinos e os povos originários do Chile – os mapuches – sofreram agressão similar devido à criminalização institucional de sua luta por terra e autonomia política. Ainda assim, o conhecimento e o ativismo de Boric parece se diluir por demandas diplomáticas, por exemplo, ao ceder à “solução de dois estados”, que falhou miseravelmente com os palestinos e se tornou um cadáver presente apenas na retórica internacional.

Antes de ser eleito à presidência, Boric ganhou notoriedade como um dos mais expressivos ativistas do Chile. Como chefe de governo, no entanto, o jovem líder político navega em meio a uma realidade complexa que inclui o legado da ditadura de Augusto Pinochet e seus laços com Israel, além da dependência do país sul-americano a itens de segurança e vigilância testados sobre os palestinos e exportados por seus opressores.

Agrupar “Israel” e “legitimidade” em uma única sentença é uma aberração, sobretudo ao tentar equilibrar a retórica de segurança israelense com a defesa dos direitos palestinos. Boric perdeu uma oportunidade de ouro, em seu primeiro discurso na Assembleia Geral das Nações Unidas, de denunciar a violência colonial israelense e reiterar como tais crimes efetivamente invalidam sua legitimidade. Não cabe à comunidade internacional garantir a existência de Israel, mas Boric sabe que seu país pode exercer um papel fundamental em assegurar que a mesma comunidade internacional caminhe em direção à legitimidade política do povo palestino.

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As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.

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