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Irã acusa EUA de tentar usar protestos para prejudicar o país

Cerca de mil pessoas se reúnem na Universidade Berkeley, na Califórnia, em protesto ao regime iraniano [Tayfun Coskun/Agência Anadolu]

Nesta segunda-feira (26), Teerã ameaçou retaliar devidamente aos Estados Unidos, ao acusar a Casa Branca de utilizar a mais recente onda de protestos populares na república islâmica para tentar desestabilizar o estado. As informações são da agência de notícias Reuters.

O Irã vive seus maiores protestos desde 2019, sem sinal de arrefecimento.

O regime tenta reprimir as manifestações em escala nacional, deflagradas pela morte de Mahsa Amini, cidadã curdo-iraniana de 22 anos, em custódia da “polícia de costumes”, apreendida por supostamente transgredir as regras sobre o uso do véu.

A polícia iraniana alegou que Amini adoeceu na cadeia; seu pai, no entanto, denunciou sinais de tortura. O incidente atraiu condenação internacional.

Em resposta, Teerã acusou Washington de conferir apoio a “provocadores” com o objetivo de sabotar a estabilidade na república islâmica.

“Washington está sempre tentando enfraquecer a estabilidade e segurança do Irã, embora sem qualquer sucesso”, alegou Nasser Kanaani, porta-voz da chancelaria iraniana, em comunicado emitido pela rede de notícias Nour, filiada ao establishment de segurança.

Em sua página do Instagram, Kanaani acusou líderes americanos e europeus de se apropriar da tragédia para favorecer “provocadores”, ao ignorar “a presença de milhões de pessoas nas ruas e praças do país para expressar apoio ao sistema”.

Na segunda-feira, o governo alemão convocou o embaixador iraniano em Berlim para prestar esclarecimentos sobre a repressão brutal contra as manifestações, corroborou um porta-voz do ministério de política externa do estado europeu.

Questionado sobre a possibilidade de novas sanções contra Teerã, em resposta à repressão aos protestos, o porta-voz insistiu que “todas as possibilidades estão sobre a mesa”, para que sejam debatidas com outros estados-membros da União Europeia.

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Na última semana, os Estados Unidos impuseram novas sanções à polícia moral iraniana, devido a sua perseguição sistêmica às mulheres do país, cujo ápice foi precisamente a morte de Amini.

Teerã convocou no domingo (25) os embaixadores do Reino Unido e da Noruega para repreendê-los por suposta ingerência nos interesses nacionais e cobertura hostil das manifestações.

Os protestos contra o regime são os maiores a varrerem o território iraniano desde os levantes contra os preços dos combustíveis em 2019. Na ocasião, segundo a Reuters, ao menos 1.500 pessoas foram mortas pela repressão do governo – maior massacre institucional sobre levantes internos na história da república islâmica.

Até então, desde 17 de setembro, ao menos 41 pessoas foram mortas, entre manifestantes e policiais, segundo dados divulgados pela televisão estatal.

A despeito da repressão policial, o presidente ultraconservador Ebrahim Raisi reafirmou que seu regime assevera a liberdade de expressão e prometeu investigar a morte de Amini.

Chamado a greve

Em nota divulgada nas redes sociais, neste domingo, o principal sindicato de professores do Irã convocou alunos e profissionais de ensino a realizar a primeira greve nacional desde o início dos levantes, nesta segunda e quarta-feira.

Os protestos contam com o protagonismo das mulheres, que defendem sua liberdade de expressar sua identidade. Jovens cidadãs removem e queimam seus véus nas ruas do Irã.

Em um vídeo que viralizou nas redes sociais, a irmã de um rapaz morto durante os protestos contra o governo, Javad Heydari, é vista cortando seus cabelos sobre o túmulo do mártir, em desafio aberto ao rigoroso código de vestimenta estabelecido pelo regime.

O estado tentou organizar comícios para mitigar a crise e travar uma guerra de números.

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Contudo, as manifestações pela morte de Amini avançam. Analistas afirmam, não obstante, não haver ameaça imediata à liderança nacional, dado que as tropas de segurança reprimiram protestos similares no passado, em favor da elite teocrática.

Teerã tentou culpar ainda supostos dissidentes curdos pelas manifestações, em particular, no noroeste do país, onde residem mais de dez milhões de curdo-iranianos.

As Guardas Revolucionárias lançaram um ataque de drones e artilharia pesada contra supostas bases da oposição no Curdistão iraquiano, para além da fronteira, reportou a agência de notícias Tasnim. A dimensão potencial da crise permanece incerta.

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