O influente acadêmico sunita Yusuf al-Qaradawi, líder espiritual da Irmandade Muçulmana, faleceu nesta segunda-feira (26) aos 96 anos, em seu exílio no Catar. A notícia foi corroborada por sua conta oficial do Twitter.
Nascido no Egito sob Mandato Britânico, em 1926, al-Qaradawi ganhou notoriedade ao presidir a União Internacional de Estudiosos Muçulmanos. Ainda jovem, al-Qaradwi combinou sua educação islâmica com seu ativismo anticolonial.
Na década de 1950, al-Qaradawi foi preso diversas vezes, sobretudo devido a sua filiação com o movimento da Irmandade Muçulmana. A perseguição política eventualmente o levou ao exílio na década seguinte.
Não obstante, tornou-se reitor da Faculdade Sharia da Universidade do Catar.
No decorrer dos anos, sua imagem refletiu traços complexos e supostamente contrastantes, ora identificado como “islamita moderado” por sua interpretação do papel das comunidades árabes no Ocidente e sua defesa da democracia, ora criticado por expressar apoio à resistência armada contra a ocupação israelense da Palestina e a invasão dos Estados Unidos no Iraque.
Na última década, al-Qaradawi se tornou um eloquente crítico do presidente sírio Bashar al-Assad, sobretudo após deflagrar-se a guerra no país árabe, devido à repressão do regime a protestos por democracia. Centenas de milhares foram mortos, torturados, encarcerados ou desaparecidos à força desde 2011.
Em 2013, após Assad conduzir um notório ataque com armas químicas contra comunidades civis na periferia de Damasco, al-Qaradawi convocou “todo muçulmano sunita com qualquer treinamento militar a viajar [à Síria] e lutar” contra o regime e seus aliados.
Quanto ao Egito, onde nasceu, al-Qaradawi condenou abertamente o golpe militar de 2013 contra Mohammed Morsi – primeiro presidente eleito democraticamente do estado norte-africano e seu companheiro da Irmandade Muçulmana –, ao reafirmar sua oposição ao presidente e general Abdel Fattah el-Sisi.
Al-Qaradawi foi indiciado e condenado pelo regime militar e impossibilitado de retornar a sua terra por uma segunda e última vez.
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