O apoio à Palestina demonstrou um pico nos Estados Unidos nos últimos anos, sobretudo entre jovens adultos. A mudança sísmica é considerada um ponto de inflexão na política americana, registrado desde 2014.
Estima-se que 60% dos cidadãos americanos com 30 anos ou menos expressam um ponto de vista favorável ao povo palestino, segundo informações da rede FiveThirtyEight, contra 56% que mantêm apoio ao regime do apartheid israelense.
Cada vez mais democratas apoiam a causa palestina, o que resulta em uma divisão notória nas alas do partido, confirmou o relatório publicado pelo site filiado à emissora ABC News, conforme pesquisa de opinião. O estudo em questão apresentou detalhes sobre as mudanças na política nacional e propôs explicações para o aumento no número de pessoas que repudia as práticas da ocupação israelense.
Segundo as informações, a mudança é um processo de duas décadas, dado que uma pesquisa similar, conduzida pela empresa de análise de dados Gallup, registrou em 2001 que apenas 16% dos americanos empatizavam com os palestinos contra 51% de apoio espontâneo a Israel.
Vinte anos depois, a paisagem é distinta. A percentagem total de americanos que simpatiza com os palestinos é de 26% – entre os democratas, o apoio mais do que dobrou. Hoje, cerca de 38% dos democratas tendem a favorecer a narrativa palestina.
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A desconfiança sobre a versão israelense e o advento das redes sociais foram considerados as principais razões para a ascensão da solidariedade à Palestina ocupada. Segundo a pesquisa, a internet mudou como as pessoas enxergam e vivenciam os conflitos ao redor do mundo, sobretudo os mais jovens.
A ofensiva militar de Israel contra a Faixa de Gaza sitiada em 2014 é vista como um divisor de águas neste sentido. O massacre deixou 2.251 palestinos mortos e 11 mil feridos.
O número de baixas afetou a perspectiva global sobre a situação assimétrica na Palestina, dado que a narrativa israelense de “autodefesa” para justificar seus ataques deixou de ser aceita universalmente, explicou Dov Waxman, diretor do Centro Nazareno Y&S de Estudos Israelenses na Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA).
Segundo Waxman, as mudanças são particularmente notáveis nos últimos dez anos – “quando diversos eventos e fatores transformaram o ideário presente no domínio público”. O professor destacou que 2014 foi a primeira escalada regional de larga escala na era das redes sociais.
Desde então, pesquisadores observam que o engajamento online reformulou a percepção da guerra em tempo real, seja na última década, para os palestinos, ou mais recentemente, no caso da invasão russa da Ucrânia.
Para muitos, o massacre israelense de 2014 foi a primeira vez que foram expostos ou tiveram acesso em primeira mão aos relatos dos palestinos sob ocupação. Os testemunhos mudaram ou ao menos contextualizam em detalhes as informações repassadas pela grande mídia.
Outros fatores incluem a ascensão do movimento Black Lives Matter (Vidas Negras Importam) e grupos de justiça social em geral. Sua campanha contra o racismo estrutural agregou denúncias sobre as sete décadas de colonização e apartheid impostas por Israel contra os palestinos.
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Um terceiro motivo mencionado pelos pesquisadores é o aumento na percepção entre políticos democratas e progressistas de que seus valores são incongruentes com as práticas da ocupação sionista. “No passado, o apoio a Israel era percebido como devidamente alinhado ou consistente com valores liberais”, reiterou Waxman. “Contudo, cada vez mais, é visto como colidente a tais valores”.
Além disso, a abordagem polarizada do ex-presidente republicano Donald Trump e sua aliança com o então premiê Benjamin Netanyahu – incluindo sua decisão ilegal de reconhecer a cidade de Jerusalém como capital de Israel – também afastou setores democratas da população.
Desde então, o apoio irrestrito e incondicional a Israel se tornou característico de políticos datados ou associados à ultradireita nos Estados Unidos e de outros países.