Um dossiê de 300 páginas, contendo evidências de crimes e atrocidades executados por forças britânicas na Palestina histórica, foi encaminhado ao atual governo em Londres. O documento é parte de uma petição que quer reconhecimento formal dos crimes cometidos durante o período de colonização britânica na Palestina, entre 1917 e 1948.
As evidências compreendem detalhes de práticas desumanas herdadas pela ocupação israelense, dentre as quais: execuções sumárias, tortura, uso de escudos humanos e demolição de edifícios civis como forma de punição coletiva.
Segundo a BBC, boa parte das violações foram realizadas sob diretrizes oficiais do Reino Unido na ocasião, com consentimento do alto comando.
Exemplos das atrocidades abarcam a chacina na aldeia de al-Bassa, norte da Palestina histórica, perto da fronteira com o Líbano. Em 1938, no ápice da revolução popular contra o Reino Unido, residentes foram cercados, forçados a entrar em um ônibus e dirigir a uma mina terrestre, cuja explosão matou todos os passageiros.
Um policial britânico fotografou a cena, enquanto mulheres tentavam resgatar partes mutiladas dos corpos de seus entes queridos, enterradas às pressas em uma cova coletiva.
Evidências de outro crime incluem imagens de palestinos cercados por arame farpado sem água ou comida. Testemunhos de aldeões e soldados detalham a invasão armada de residências civis. Na ocasião, ao menos 150 homens foram reunidos detrás de uma mesquita e encarcerados em gaiolas de arame farpado a céu aberto; muitos faleceram.
O pesquisador Matthew Hughes, especialista em história militar, descreveu os crimes britânicos na Palestina histórica como “violentos e espetaculosos”. O Reino Unido introduziu um sistema de “pacificação diária … fundamental em reprimir cumulativamente os palestinos”, corroborou Hughes. As práticas compreendem restrição de movimento, toque de recolher, expropriação de propriedades ou colheitas, detenção arbitrária e trabalho forçado.
“Todo o país se tornou uma espécie de prisão”, prosseguiu o historiador, autor do livro Britain’s Pacification of Palestine (A pacificação britânica da Palestina, em tradução livre).
O pedido por desculpas formais foi retomado por Munib al-Masri, de 88 anos, empresário e ex-político palestino – baleado por soldados britânicos quando era um menino, em 1944.
“O papel do Reino Unido me afetou bastante porque eu vi o abuso sofrido pelas pessoas … Não tínhamos qualquer proteção, ninguém para nos defender”, reafirmou al-Masri à rede BBC, de sua casa em Nablus, na Cisjordânia ocupada.
Moreno Ocampo, ex-promotor-chefe do Tribunal Penal Internacional (TPI), radicado em Haia, e Ben Emmerson, advogado britânico e ex-relator de direitos humanos e contraterrorismo da Organização das Nações Unidas (ONU), foram indicados por al-Masri para analisar as provas.
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