“Não existem dois Brasis. Somos um único país, um único povo, uma grande nação”. Tais foram as palavras do presidente eleito do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, ao começar seu discurso da vitória sobre o incumbente de extrema-direita Jair Bolsonaro, com 50.8% dos votos no segundo turno das eleições no domingo, 30 de outubro de 2022. Trata-se de um marco ao ex-presidente antes preso por alegações de corrupção posteriormente revogadas.
Lula postou no Twitter uma fotografia de sua mão sobre uma bandeira do Brasil, com a legenda “democracia”. Aos 77 anos, sua vitória representa um retorno da esquerda progressista latino-americana aos centros de poder, ao juntar-se aos líderes de Chile, Peru, Argentina e Colômbia.
Na Palestina ocupada, Lula obteve a maioria dos votos depositados por cidadãos brasileiros que moram e trabalham na Cisjordânia, em um colégio eleitoral montado no Consulado do país em Ramallah. Lula conquistou 584 votos contra apenas 61 votos a Bolsonaro.
O triunfo de Lula culminou em comemorações de massa, incluindo dentre a diáspora palestina no Brasil e em toda América Latina. A comunidade correu a felicitar o presidente eleito. “Viva o povo brasileiro, que escolheu o caminho da liberdade e da democracia em lugar do ódio, da intolerância, do fascismo. O mundo agradece, especialmente o povo palestino, que vive o único apartheid do mundo atual, imposto pelo regime criminoso Israel. Presidente Lula, um comovido muito obrigado desta diáspora brasileiro-palestina”, destacou a Federação Árabe Palestina do Brasil (FEPAL) em sua página do Instagram.
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Segundo os palestinos, a vitória de Lula representa uma mudança considerável ao status de sua causa em Brasília e nos fóruns internacionais; os palestinos voltam a ter um amigo brasileiro na Organização das Nações Unidas (ONU). Lula é conhecido por seu apoio a causas populares e direitos humanos. Em seu governo anterior, Lula implementou uma série de medidas favoráveis à Palestina, incluindo ao promover o status da representação diplomática entre ambos os países e alocar um lote de terra perto do palácio presidencial para uma embaixada palestina.
Em âmbito internacional, líderes dos Estados Unidos, Canadá, França e outras nações ocidentais e latino-americanas rapidamente reconheceram o resultado das eleições e parabenizaram Lula. Da Colômbia – onde vivem mais de 13 mil palestinos –, o presidente progressista Gustavo Petro tuitou: “Viva Lula”. O presidente mexicano Andrés Manuel López Obrador comemorou em suas redes sociais: “Ganhou Lula, bendito o povo do Brasil. Haverá igualdade e humanismo”. Alberto Fernández, presidente da vizinha Argentina, reiterou que a vitória abre caminho a uma nova era na história da América Latina. “Um tempo de esperança e de futuro começa hoje … Após tantas injustiças que viveu, o povo do Brasil o elegeu e a democracia venceu. Sonha a América Latina”.
No Chile – que abriga a maior diáspora palestina da América Latina –, o presidente Gabriel Boric apressou-se a parabenizar o candidato progressista eleito: “Lula. Alegria!”
A Venezuela foi o primeiro estado latino-americano a reconhecer o Estado da Palestina com as fronteiras de 1967; quinze mil palestinos vivem no país. O presidente Nicolás Maduro estendeu um “grande abraço” a Lula: “Longa vida aos povos determinados a sua liberdade, soberania e independência! Hoje, no Brasil, triunfou a democracia”.
Entretanto, o extremista Jair Bolsonaro e sua família não reconheceram a derrota até então. Sua lista de apoiadores inclui o Estado de Israel. A primeira-dama, Michelle Bolsonaro, compareceu às urnas no domingo com uma camiseta estampada com a bandeira israelense. “Que as bençãos do nosso Deus estejam sobre o Brasil e sobre Israel”, escreveu a esposa do incumbente em sua página do Instagram. “Deus, Pátria, Família, Liberdade”, concluiu com o lema do marido, slogan tradicionalmente fascista. No momento em que os brasileiros buscavam votar nas eleições mais cruciais de sua história recente, o clã Bolsonaro demonstrou que sua prioridade jamais esteve sobre os interesses da população, mas sobre um regime estrangeiro.
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Há expectativas de que a vitória de Lula levará a mudanças substanciais na arena política latino-americana. O Brasil é o mais recente e maior país da região a voltar-se à esquerda. Os governos progressistas podem refletir um verdadeiro baque à hegemonia histórica dos Estados Unidos na América Latina. A comunidade palestina no Brasil tem esperanças de que Lula administre suas preocupações de modo diametralmente oposto à discriminação sofrida nas mãos de Bolsonaro.
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