Os Emirados Árabes Unidos (EAU) não se classificaram para a Copa do Mundo FIFA no Catar, a ser realizada entre 20 de novembro e 18 de dezembro deste ano. No entanto, sairão vitoriosos do evento de qualquer forma, diante de uma enxurrada de torcedores aos hotéis, restaurantes e rotas aéreas de toda a região.
Com pouco investimento adicional, os Emirados – Dubai, em particular – devem lucrar bastante caso, como esperado, torcedores decidam hospedar-se no centro de turismo regional, ao invés do minúsculo vizinho do Golfo, durante o torneio de quase um mês.
O custo altíssimo das acomodações em Doha, capital do Catar, e o ambiente mais permissivo de Dubai, incluindo maior disponibilidade de álcool, pode atrair cerca de um milhão de fãs durante a Copa do Mundo, afirmam especialistas.
A companhia aérea flydubai – considerada econômica – pretende realizar ao menos 30 voos de retorno a Doha por dia, com distância de apenas uma hora. Trata-se de uma ponte aérea diária estabelecida para fornecer 160 serviços rápidos a cidades do Golfo.
“Dubai tem parâmetros sociais relativamente flexíveis no que se refere a certos aspectos de sua cultura, incluindo para consumo de álcool e códigos de vestimenta”, explicou James Swanston, economista da Capital Economics especializado em Oriente Médio e Norte da África.
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O iminente excedente econômico e a glória compartilhada pela realização da Copa do Mundo de Futebol em solo árabe sucedem em menos de dois anos a retomada de relações entre Emirados e Catar, após a imposição de um bloqueio a Doha por seus vizinhos regionais.
O Conselho Desportivo de Dubai mensurou que cerca de um milhão de turistas devem chegar à cidade para a Copa do Mundo. Dado que o Catar espera números muito parecidos, a previsão pode ser deveras ambiciosa.
Não obstante, Dubai se prepara ao estabelecer zonas dedicadas aos fãs nos parques, nas praias e nos centros financeiros. Às vésperas do evento, hotéis oferecem pacotes especiais a cada vez mais turistas. Tais acordos incluem voos diários de ida e volta e transporte aos aeroportos e aos locais onde os jogos serão exibidos.
Os Emirados também decidiram ofertar vistos de entrada válidos para sucessivas visitas, sob um valor nominal de cem dirhams – em torno de US$27 – a turistas que possuam ingressos a jogos da Copa do Mundo.
Transeuntes da Copa do Mundo
Torcedores estrangeiros não serão os únicos transeuntes pendulares da Copa do Mundo. Firas Yassin, residente franco-libanês de Dubai, agendou uma viagem de um dia para ver a segunda partida da seleção nacional francesa, contra a Dinamarca, em 26 de novembro, após ficar “chocado” com o preço dos hotéis na cidade de Doha.
Yassin e sua esposa viajarão ao país-sede cinco horas antes da disputa e deixará o Catar poucas horas após o apito final, realizando assim seu sonho de ver os “Les Bleus” jogarem ao vivo. “Vou visitar a cidade, acompanhar a partida e voltar para minha casa em Dubai”, destacou Yassin, de 34 anos, em entrevista à rede AFP.
A agência Expat Sport – licenciada pela FIFA para vender pacotes de hospedagem para os jogos em Doha – insistiu que a “conveniência” representa um fator central para que turistas prefiram permanecer em Dubai. A empresa citou “voos regulares de ida e volta entre as duas cidades e distância de apenas uma hora”.
Além disso, o hotel One Dubai, localizado nas ilhas artificiais Palm, entre outras acomodações, será reservado exclusivamente a fãs de futebol.
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“Tivemos um pico de reservas do México, Reino Unido, Europa e Índia”, declarou a Expat Sport. “Os pernoites estão esgotando rapidamente e, neste ritmo, esperamos atingir a ocupação total dos quartos para a Copa do Mundo”.
A taxa de ocupação hoteleira dos Emirados neste ano já é 40% maior do que no ano de 2019, à véspera da pandemia de coronavírus. Espera-se uma “forte performance” do setor de turismo neste fim de ano, como afirmou o emir de Dubai e vice-presidente emiradense Mohammed bin Rashid al-Maktoum, em meados de setembro.
Até maio deste ano, Dubai possuía 769 hotéis e mais de 140 mil quartos – aumento significativo em relação ao início de 2019, segundo as estimativas oficiais.
Voos pendulares também serão realizados da Arábia Saudita, Kuwait e Omã, para amortecer a pressão sobre os hotéis de Doha – cidade com 2.4 milhões de habitantes. No entanto, segundo Swanston, “em comparação a outros estados do Golfo, Dubai efetivamente tem vantagem como destino turístico majoritário já estabelecido”.
Este artigo foi publicado originalmente em inglês pela rede Middle East Eye
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