O Partido Conservador britânico, que detém a liderança do governo, interrompeu às escondidas medidas para definir oficialmente o crime de islamofobia. Persiste, deste modo, duras críticas a Londres sobre sua falta de ações para combater a discriminação nas instituições públicas.
Em reportagem publicada pelo The Independent, o Secretário de Comunidades do Reino Unido, Michael Gove, expressou sua oposição a estabelecer uma definição formal para islamofobia, de modo que seu governo pretende abandonar esforços para adotar as recomendações do Grupo Pluripartidário de Parlamentares Muçulmanos.
A definição – proposta em 2019 – foi adotada pelos partidos Trabalhista e Liberal, mas rejeitada pelos Tories (conservadores). Segundo o conceito, a islamofobia “tem raízes no racismo e é um tipo de racismo que busca atacar expressões da identidade islâmica”.
Na ocasião, o Secretário de Comunidades James Brokenshire insistiu que o Partido Conservador evitaria adotar o conceito para estabelecer seu próprio – “a fim de avaliar melhor a natureza da discriminação e das divisões subsequentes”.
Em julho de 2019, o pesquisador muçulmano Muhammad Asim foi nomeado para aconselhar o governo na busca de uma “definição apropriada”. No entanto, suas cartas e e-mails ao gabinete de governo foram ignorados.
Asim foi exonerado em junho, sem qualquer aviso prévio, sob alegação de apoiar publicamente protestos contra a exibição de um controverso filme retratando a filha do Profeta Muhammad. Asim nega veementemente as acusações.
Em um evento sediado pelo Grupo de Contra-extremismo, em outubro, Gove – na ocasião, não incumbente de seu cargo atual – sugeriu “riscos caso uma universidade ou organização, casa do livre debate, adote uma definição para policiar e punir o que uma pessoa pode ou não dizer”.
Gove declarou ainda que a definição do grupo parlamentar é um “disparate” e descreveu o “Islã político” como um “vírus”. Gove negou ser islamofóbico e insistiu que o governo britânico tem certa “resistência” a medidas contrárias para “não causar ofensa”.
Conforme o The Independent, um porta-voz do Departamento de Habitação e Comunidades do Reino Unido afirmou em nota: “Continuamos comprometidos em conter o ódio islamofóbico e todas as formas de preconceito religioso; divulgaremos os próximos passos no devido tempo”.
O Partido Conservador é rechaçado por leniência com atitudes e políticas islamofóbicas. Críticos denunciam a existência de uma cultura flagrante de islamofobia dentro da instituição.
A deputada conservadora Nusrat Ghani, por exemplo, reportou que um oficial de maior escalão admitiu a ela que sua demissão ocorreu devido a sua fé, ao supostamente “deixar seus colegas desconfortáveis”.
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