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Copa do Mundo 2022: Torcedores ricos são cortejados com luxo

Uma propensão ao luxo no Catar – que possui um dos maiores PIBs do mundo – resultou em gastos sem precedentes para um campeonato tradicionalmente voltado às massas
Interior do hotel Hyatt Regency Oryx Doha, que servirá de base para a seleção de futebol do Equador durante a Copa do Mundo FIFA 2022 [Hyatt]

Com pacotes luxuosos estimados em milhares e milhares de dólares, hotéis cinco estrelas e um comércio intenso, a Copa do Mundo FIFA 2022, sediada no Catar, adquiriu um ostentoso brilho de glamour a um esporte tradicional com raízes operárias.

Uma propensão ao luxo no estado do Golfo, cuja riqueza em insumos energéticos lhe consagrou um dos maiores produtos internos brutos (PIB) do mundo, resultou em gastos sem precedentes para realizar um campeonato tradicionalmente voltado às massas.

Ao singelo custo de US$ 4.950 por um ingresso VIP a uma partida da fase de grupos, o torcedor pode desfrutar de drinks, refeição completa e entretenimento exclusivo em um camarote com vista para o meio de campo do estádio Lusail, na zona norte da capital Doha.

Aqueles cujo orçamento não tem fim terão acesso a opções bastante atrativas de hospedagem, com preços que variam de US$4.000 por noite a até US$26.000 por uma “suíte presidencial” – com estadia mínima de 30 noites consecutivas.

As coisas não são tão simples para torcedores comuns. Opções mais baratas incluem uma cama de ferro em um quarto coletivo em uma área semiárida na periferia de Doha, ao custo de US$84 pernoite, e quartos simples improvisados em barcos ancorados na zona portuária, com preço entre US$179 e US$800.

As multidões de torcedores devem incluir alguns operários estrangeiros que ajudaram a erguer as enormes arenas, com acesso exclusivo a um punhado de ingressos pelo valor de 40 riyals (ou US$11), para assistir um esporte cujos entusiastas costumam ser trabalhadores.

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Segundo Ronan Evain, diretor executivo da Football Supporters Europe, o ônus das experiências “premium” claramente deixou torcedores de fora. “É notável que o foco é um tipo de turista de luxo, embora a maioria dos fãs que costumam viajar à Copa do Mundo sejam de classe média”, afirmou Evain à rede AFP. “Não são o tipo de pessoa que pode arcar com um cruzeiro de US$5.000 por semana”.

 ‘Solução é cancelar’

As hordas de torcedores sem ingresso que costumam viajar à Copa do Mundo serão reduzidas, dado a restrição de entrada instituída pelo governo do Golfo a somente compradores e até três convidados cada, no período do torneio.

Muitos viajantes serão alojados em outros países da região, incluindo Emirados Árabes Unidos, Arábia Saudita, Kuwait e Omã. Calcula-se que haverá cerca de cem a 200 voos rápidos de ida e volta por dia entre os países vizinhos, para transportar turistas à Copa do Mundo.

No entanto, tais opções também são caras.

Em Dubai – a apenas uma hora de distância de avião, provavelmente um destino majoritário –, um pacote oficial da Copa do Mundo custa em torno de US$1.500 por quatro noites em quarto compartilhado, incluso um voo de retorno a Doha; contudo, excluso o ingresso para as partidas.

Não obstante, a Copa do Mundo no Catar é compacta, com seus oito estádios-sede erguidos na capital ou arredores, erradicando a necessidade de viagens continentais que incorreram sobre as edições prévias do Brasil, em 2014, e da Rússia, quatro anos depois.

“O problema com a Copa do Mundo no Catar é a enorme falta de alternativas”, explicou Evain. “Nas Copas do Mundo do Brasil ou da Rússia, era possível pegar um trem, alugar um veículo, se hospedar a 200 quilômetros dos estádios ou viajar ao local somente para o dia da partida. Isso não é possível no Catar. Ou você não encontra lugares vagos ou a acomodação é cara demais”.

“As pessoas buscam uma solução; no entanto, para algumas delas, a solução é cancelar, porque não conseguem arcar com esse tipo de custo”.

 Experiências de ponta

Entretanto, Sue Holt, diretora executiva da agência emiradense Expat Sport, que vende pacotes para a Copa do Mundo no Catar, insistiu que há uma gama de acomodações para “adequar-se à maioria dos orçamentos”.

Estados Unidos, Grã-Bretanha, França, México, China e Índia são os países com maior interesse de mercado em comprar pacotes de hospedagem nos Emirados Árabes Unidos, confirmou Holt.

“Turistas esportivos costumam ser mais velhos e viajar em grupos, que podem ser suas famílias, amigos ou torcedores”, observou Holt. “Parte do apelo para este tipo de viagem é a experiência coletiva, ao ver com outras pessoas sua seleção ou seus jogadores favoritos”. Esta categoria de torcedores “inclui pessoas que jamais se aventuraram à região”, reiterou Holt.

Segundo Robert Mogielnicki, pesquisador do Instituto de Estados Árabes do Golfo, radicado em Washington, receber uma Copa do Mundo alude a “prestígio” para o Catar, uma monarquia de apenas 2.8 milhões de pessoas, com vasta maioria de trabalhadores estrangeiros.

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“O que os catarianos não querem é serem pegos em uma situação na qual sua infraestrutura de turismo seja sobrecarregada por um segmento de turistas improvável de retornar ao país ou de manter uma presença consistente em seu território”, destacou Mogielnicki, ao elucidar a razão por trás da escassez de alternativas.

“Suspeito que o Catar queira continuar a atrair turistas abastados dos círculos de elite”, afirmou o estudioso americano, também professor adjunto nas Universidades de Georgetown e George Washington. “Boa parte do impulso por trás de projetos regionais de turismo, em particular, na Arábia Saudita, parece concentrar-se em experiências luxuosas de ponta no mundo atual”.

Este artigo foi publicado originalmente em inglês pela rede Middle East Eye

As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.

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