A Federação Internacional de Futebol (FIFA) escreveu uma carta às seleções classificadas para a Copa do Mundo de 2022, sediada no Catar, para solicitar a equipes, atletas e dirigentes que “se concentrem no futebol” e não arrastem o esporte a “batalhas políticas ou ideológicas”.
As informações são da agência de notícias Reuters.
O documento – assinado pelo presidente da FIFA Gianni Infantino e sua secretária-geral Fatma Samoura – responde a uma onda de protestos conduzidos por nações classificadas para a Copa do Mundo, sobre questões referentes à comunidade LGBTQIA+ e ao tratamento concedido aos trabalhadores imigrantes que construíram as arenas – entre outros pontos de preocupação.
“Por favor, concentrem-se no futebol”, rogaram Infantino e Samoura, segundo a rede Sky News, em sua carta encaminhada às 32 seleções da Copa do Mundo. “Sabemos que o futebol não vive no vácuo e estamos cientes dos muitos desafios de natureza política em todo o mundo. Porém, por favor, não deixem que o futebol seja arrastado a batalhas políticas ou ideológicas”.
A Copa do Mundo do Catar é a primeira a ser realizada no Oriente Médio. O jogo de abertura – entre o país-sede e o Equador – será disputado em 20 de novembro.
“Se Infantino quer que o mundo ‘se concentre no futebol’, há uma solução simples: a FIFA pode começar a levar a sério violações de direitos humanos ao invés de varrê-las debaixo do tapete”, comentou Steve Cockburn, diretor da Anistia Internacional para Economia e Justiça Social.
A Anistia e outros associações de direitos humanos e trabalhistas promoveram esforços para que a FIFA indenize em US$440 milhões operários estrangeiros radicados no Catar. O valor equivale à premiação pela Copa do Mundo.
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“Um primeiro passo seria comprometer-se publicamente com a criação de um fundo destinado a compensar os operários imigrantes antes que o torneio comece e assegurar que pessoas LGBT não enfrentem discriminação ou assédio no país”, acrescentou Cockburn.
“É aterrador que ainda não fizeram nada disso”, reafirmou. “Infantino está certo em dizer que o futebol não existe no vácuo. As centenas de milhares de trabalhadores vítimas de abusos … não podem ser esquecidas ou ignoradas. Eles merecem justiça e indenização e não palavras vazias – o tempo está se esgotando”.
Na semana passada, a seleção australiana ecoou denúncias de direitos humanos contra o Catar, em particular sobre abusos de direitos humanos e discriminação contra homossexuais. A equipe confirmou receber a carta, mas preferiu não comentá-la.
Os jogadores da Dinamarca viajarão para a Copa do Mundo sem suas famílias, como protesto ao histórico de direitos humanos do regime catariano.
Os organizadores do campeonato insistem que todos – sem discriminação de orientação sexual ou outra – serão bem-vindos. Contudo, alertam contra exibições públicas de afeto.
O Catar reconheceu previamente que há “lacunas” em seu sistema empregatício, ao afirmar ter conduzido reformas progressistas devido à Copa do Mundo.
“Na FIFA, tentamos respeitar todas as opiniões e crenças, sem dar lição de moral ao restante do mundo”, declarou Infantino em sua mensagem às vésperas do torneio.
“Uma das grandes forças de nosso mundo é a diversidade; temos que respeitá-la caso a inclusão signifique algo”, insistiu a mensagem. “Nenhum povo, cultura ou nação é melhor do que outro. Esta é a pedra angular do respeito mútuo e da não-discriminação – um dos valores basilares do futebol. Portanto, peço que todos se lembrem disso e deixem o esporte ser protagonista”.
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