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Soldados israelenses em Gaza ostentam má conduta

Na Copa dos protestos, bandeiras palestinas são destaque

Torcedores seguram uma bandeira da Palestina com a inscrição Palestina Livre durante a partida do Grupo D da Copa do Mundo da FIFA Qatar 2022 entre Tunísia e Austrália no Al Janoub Stadium em Al Wakrah, Qatar. [Foto de James Williamson - AMA/Getty Images]

Na Copa do Mundo no Catar, marcada por protestos justos contra a violação de direitos humanos, a causa que sintetiza as lutas contra toda forma de opressão e exploração no mundo tem se destacado no apoio de torcidas e jogadores, sobretudo através de seu símbolo: as bandeiras palestinas.

Nunca em um megaevento se viram tantas expressões de solidariedade ao povo palestino como agora. Algo fundamental em meio às normalizações crescentes com Israel de regimes árabes ditatoriais, tutelados pelo imperialismo, demonstrando que os povos oprimidos da região opõem-se firmemente a esse processo e são os verdadeiros aliados dos seus irmãos e irmãs palestinos.

Nessa direção, detalhe é a recusa em naturalizar qualquer relação que permita encobrir os crimes contra a humanidade, por exemplo, dar entrevista a TVs israelenses (como a emissora pública Kan e o diário sionista Yediot Ahronot), o que levou a que o Estado sionista declarasse que se tratava de “ambiente hostil” – o Catar, que rompeu relações diplomáticas com Israel em 2009, durante o massacre a Gaza no período, contudo, abriu “exceção” para a Copa. Uma delegação diplomática israelense, segundo o portal G1, desembarcou no país para “prestar serviços consulares aos cidadãos israelenses durante a Copa do Mundo”.

As expressões de solidariedade são algo premente em um ano no qual Israel vem matando cinco vezes mais na contínua Nakba (catástrofe palestina desde a formação do Estado colonial e de apartheid sionista em 1948, mediante limpeza étnica planejada). Conforme reportagem da Al Jazeera de 1º de dezembro, foram 210 palestinos assassinados pelas forças de ocupação somente neste ano de 2022, dos quais 47 eram crianças. E este número não para de crescer.

Com idades entre 15 e 22 anos, são nomes como os dos jovens mártires Raed Naasan, Muhammed Abu Kishk, Ahmed Shehadeh, Mahmoud Al-Sadi, Fulla Masalmeh, Mahdi Hashash, Mofeed Ikhlel e os irmãos Thafer e Jawal Rimawi. Este último, na Universidade de Birzeit, havia mandado o recado: “Não temos medo de morrer. Oh sionistas, escutem. Não temos medo de morrer. Oh sionistas, escutem. Estamos aqui hoje para erguer nossa voz. […] América, cale-se e escute: nosso povo ergueu-se em luta. Com pedras nós enfrentamos seus canhões, para morrer antes que aceitemos a derrota. Erguemos nossa bandeira, e erguemos alto, para morrer antes que aceitemos a derrota. Ela diz, somos palestinos. Escutem, e todos podem escutar. E eu sou testemunha, minha palavra não será vazia. E eu sou testemunha. Somos aqueles que golpeiam com força.”

Durante a Copa, as expressões de solidariedade demonstram ao mundo algo imprescindível: a urgência de isolar o regime colonial e de apartheid, apoiando incondicionalmente a legítima resistência heroica, inclusive agora armada, de uma juventude que tem dado a vida por liberdade e justiça. Algo crucial diante do sentimento palestino de abandono pela comunidade internacional.

LEIA: Copa do Mundo no Catar demonstra centralidade da questão palestina

As bandeiras palestinas são tantas que rompem as barreiras na veiculação dos meios de comunicação de massa, que – salvo quando não é possível ignorá-los – silencia diante dos cotidianos crimes contra a humanidade do Estado racista de Israel.

Durante jogo da seleção do Catar, a torcida entoava o comovente canto: “Sacrificamos nossa alma e nosso sangue por você, Palestina.” No Dia Internacional de Solidariedade ao Povo Palestino – 29 de novembro –, um espetáculo de bandeiras palestinas tremulava no Catar. Um torcedor tunisiano invadiu o campo com a bandeira palestina durante partida em que o time de seu país derrotou a França, que o colonizou por décadas. A celebração à la campeão da Copa encontra raízes históricas, regada à belíssima demonstração de solidariedade com os irmãos e irmãs palestinos. Como tem sido praxe no megaevento em todos os protestos justos, a Fifa tenta coibi-los: no dia 1º. de dezembro abriu processo contra a Federação Tunisiana de Futebol (FTT) por conta da invasão ao gramado pelo torcedor.

Em jogo anterior entre Tunísia e Austrália, os torcedores do país árabe silenciaram por um segundo e estenderam um bandeirão nas cadeiras da arquibancada, com os dizeres: “Palestina livre.” O jogador do Marrocos Jawad El Yamiq e seus colegas celebraram a classificação de sua seleção para as oitavas de final contra o Canadá erguendo a bandeira palestina, que mais uma vez pôde ser vista também na arquibancada. Vários torcedores de times árabes têm usado braçadeira pró-palestina.

Reportagem publicada pelo Portal GE, da Globo, em 26 de novembro, destaca: “O branco, preto, vermelho e verde da bandeira palestina se mistura com as cores das bandeiras em cada jogo de uma seleção árabe no Mundial do Catar, especialmente nos da Tunísia. Torcedores de outros países da região, que não se classificaram para a Copa, prestigiam o torneio para abraçar a causa.” Um exemplo são argelinos. Influenciadores distribuem bandeirolas da Palestina, ao tempo que conscientizam os turistas: “Sabem que bandeira é essa?”

Para além dessas demonstrações dos povos árabes, pôde ainda ser vista a bandeira palestina nas mãos de torcedores e torcedoras brasileiras, bem como de outras seleções.

Generosidade palestina

Solidariedade foi também o que elevou o nome da Palestina às manchetes quando o torcedor embrulhado em sua bandeira, o palestino Husam Safari, amante do futebol brasileiro, carregou Lucca, neto do treinador Tite, por longas distâncias até a estação de metrô para ajudar sua mãe, após o jogo de estreia da seleção canarinho no dia 24 de novembro último, que lhe garantiu a vitória contra a Sérvia.

Husam mostrou ao mundo a generosidade e solidariedade características de seu povo, que emocionaram Tite, o qual fez questão de encontrá-lo em sinal de gratidão. A data do encontro era também o simbólico dia 29 de novembro, e Husam carregava em seus ombros a kuffiah palestina, cuja foto, com o torcedor solidário palestino, o neto Lucca e Tite, viralizou mundo afora.

Não obstante, o apresentador Luciano Huck, ao dar a notícia do encontro, omitiu o fato de que se tratava de torcedor e bandeira palestinos – o que causa estranheza, porque programas transmitidos na mesma emissora mencionaram, e é sabido que a produção levanta tais informações. Quem chamou a atenção para isso, em tom descontraído, foi o influenciador palestino-brasileiro Mahmmud Mashni em seu Instagram: “Essa bandeira é da Palestina, Lulu.”

Ele ensina: “Hoje dia 29/11, dia da solidariedade ao povo palestino, e não tinha data melhor pra eu postar esse vídeo do @lucianohuck (meu querido Lulu) gaguejando e não falando que essa bandeira é da Palestina, o povo palestino é solidário em sua essência e nos seus gestos, somente conhecendo a Palestina ou o seu povo pra saber do que estou falando, o @titecoach teve esse gostinho (…). Busque entender sobre a causa palestina e as atrocidades que o seu povo sofre diariamente. @lucianohuck, se vc não sabia que essa 🇵🇸 é da Palestina, agora sabe.”

Na vitrine representada pelo megaevento, a taça vai até o momento para os protestos contra diversas denúncias de violação de direitos humanos – a despeito de algumas equivocadas generalizações em relação aos árabes e muçulmanos, que encontram amparo na visão orientalista e alimentam a islamofobia, e, portanto, devem ser combatidas. O gol de placa na “festa do futebol” está expresso nas bandeiras da causa internacionalista por excelência, que une todas as lutas justas. Palestina existe. Palestina resiste.

As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.

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