Torcedores árabes e marroquinos festejaram nesta quinta-feira (1º) a classificação do Marrocos às oitavas de final da Copa do Mundo FIFA, realizada no Catar. Trata-se da única seleção árabe ainda presente no torneio – pela primeira vez, sediado por um país árabe e islâmico.
Os torcedores dançaram e cantaram no Estádio al-Thumama e nas ruas de seus países.
As informações são da agência de notícias Reuters.
O Marrocos derrotou o Canadá por dois a um e encerrou a primeira fase do torneio no primeiro lugar de seu grupo. Nas partidas anteriores, a seleção conhecida como Leões de Atlas empatou com a atual vice-campeã Croácia e bateu a favorita Bélgica – até o atual torneio, segundo lugar no ranking da Federação Internacional de Futebol (FIFA).
“Nossa seleção pode chegar às finais da Copa do Mundo!”, comemorou uma jovem abraçada na bandeira marroquina, de dentro de um carro lotado nas ruas de Rabat. Centenas de pessoas se reuniram no centro da capital norte-africana para festejar a conquista.
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No Catar, a seleção anfitriã foi eliminada ainda na segunda rodada da fase de grupos. A Arábia Saudita não conseguiu se classificar mesmo após derrotar a favorita Argentina em sua primeira partida. A Tunísia venceu a França – atual campeã –, mas foi eliminada devido a uma vitória da Austrália contra a Dinamarca, no mesmo grupo.
O Marrocos agora carrega o manto e a torcida do mundo árabe e enfrentará a Espanha, campeã em 2010, na próxima fase.
Segundo a Reuters, mediante tamanho entusiasmo, centenas de torcedores se aglomeraram na parte externa do estádio, para tentar entrar e ver o jogo, muito embora alguns fãs carecessem dos caríssimos ingressos.
“Os torcedores que estão aqui não podem entrar na arena”, informou Abdulmajid Mohammed, da Arábia Saudita, em meio à multidão. “Quase todos esses fãs não têm ingressos, mas amam o Marrocos e querem ver o jogo!”
A confusão parece ter impedido alguns turistas que possuíam ingressos a entrar também. “Nós temos ingressos, mas eles fecharam todas os portões e não deixam que ninguém entre”, alegou Mohammad Abdelhadi, da Líbia. O ingresso da fase de grupos custou mais de US$200.
A FIFA e os organizadores locais da Copa do Mundo – o Supremo Comitê de Legado e Realização – não comentaram até então os incidentes no acesso ao estádio.
Dia de festa
O apoio ensurdecedor se tornou um 12º homem em campo.
“Eles provaram em campo que são leões”, comentou Talal Ahmed Obeid, cidadão saudita que viu o jogo na cidade marroquina de Casablanca. “Nós, sauditas, perdemos ontem, mas a vitória do Marrocos compensou nossa derrota!”
O Marrocos é considerado um membro orgulhoso da Liga Árabe. Contudo, nas últimas décadas, passou a abraçar uma identidade mais própria, incluindo ao enaltecer seu patrimônio africano e berbere. O amazigue – junto do árabe – é reconhecido como idioma oficial do país.
“Esperamos carregar alto a bandeira do futebol africano”, reafirmou Walid Regragui, técnico da seleção marroquina, na quarta-feira (30).
Mohamed Tahiri, advogado que festejou a classificação histórica em Rabat, em meio à multidão de bandeiras e ao barulho das buzinas, apesar do tempo chuvoso, reforçou que o Marrocos é a última seleção árabe que ainda disputa a atual Copa do Mundo.
“Hoje é um dia de festa, não apenas para nós, marroquinos, mas também para todos os árabes e norte-africanos”, declarou Tahiri.
Horas antes do apito inicial, torcedores procuravam cafés com televisões para ver a partida.
“Minha geração vive isso pela primeira vez”, observou Oufae Abidar, de 38 anos. Ela era apenas uma menina na Copa do Mundo do México, em 1986, quando o Marrocos passou da primeira fase do torneio pela última vez.
Na Copa do Mundo da Rússia, há quatro anos, sua seleção parou na fase de grupos.
De volta a Doha, o cidadão omani, Saeed al-Maskari, de 30 anos, confirmou sua torcida para o Marrocos. “Somos árabes do lado asiático; eles são árabes do lado africano. No entanto, somos os mesmos, falamos o mesmo idioma!”
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