Por quase 300 dias por ano, os colegas de escritório de Abdelrahman Hassanein são guepardos, leões, búfalos e elefantes. Seu espaço de trabalho carece de computadores e empreendimentos mundanos. Ao invés disso, o fotógrafo e naturalista de 39 anos é diretor do safari do Campo de Talek Bush no Quênia e mantém como companhia quaisquer animais que venha a observar.
“Fui cativado pela vida selvagem muito antes da internet”, recordou Hassanein. “Desde muito pequeno, assistia documentários e desenhos relacionados a África e vida selvagem nas fitas de vídeo cassete que meu trazia para a casa”. Agora, seu trabalho é difundido por redes como BBC, National Geographic, Lonely Planet, Forbes, dentre outras. Hassanein prefere a companhia dos bichos à dos seres humanos.
Situado na Reserva Nacional Masai Mara, de 579 km², ligado ao Serenguéti na fronteira com a Tanzânia, o Campo de Talek Bush foi fundado em 2017 por um amigo próximo. Hassanein juntou-se à equipe para organizar safaris e preparar acomodações a visitantes.
O campo fica próximo ao rio Talek, um dos principais afluentes da reserva, quase uma faixa de água corrente pela maior parte do ano, o que permite a todos os animais que perambulem em suas margens. Hassanein não tem uma única função: há muito que fazer. “Às vezes sou gerente; às vezes sou guia turístico e mesmo motorista”, observou. “Contudo, cercado por tamanha vida selvagem, é impossível ficar entediado ou desocupado aqui”.
Spending so much time in the wild, he learns something new every day. “Male lions are my favourite due to their unique characteristics. I always thought that they were lazy compared with the females, but since I started working here I have realised that they spend a lot of time patrolling at night to defend their territory.” The loss of a lioness could reduce the chances of a successful hunt, he added, but the loss of a dominant male could destroy the pride.
Hassanein nasceu e crescem em Fayoum, um oásis a cerca de 100 m a sudoeste do Cairo, junto da biodiversidade local, sobretudo árvores migratórias que chegavam da Europa e da Ásia para fazer seus ninhos. “Fayoum é um santuário dos pássaros. Eles migram até o oásis por seu verde exuberante e pelas águas do Lago Quarun, maior lago de água salgada do Egito. É lindo de ver”.
Inspirado pela vida selvagem com a qual conviveu desde muito pequeno, a paixão de Hassanein em capturar sua beleza começou com rabiscos. Então, pôs suas mãos em uma câmera e passou a documentar as criaturas por lentes analógicas e digitais.
Após graduar-se em Letras Inglesas pela Universidade do Cairo, Hassanein obteve um emprego de escritório no Catar, com um bom salário que lhe permitia viajar. “Nas minhas primeiras férias, fui ao Serenguéti da Tanzânia. Era um sonho de criança. Não muito depois, decidi me demitir e viver integralmente junto aos animais. Um mês por ano não me bastava”.
Hassanein mora no Quênia há cinco anos e se tornou, pouco a pouco, um super-homem da vida selvagem. Deitado à margem dos rios para registrar os crocodilos, ou entre os arbustos para ver a caça dos guepardos, ou absolutamente quieto para fotografar a disputa de território entre as zebras, sua carreira se converteu em uma série de aventuras – algumas das quais, com certeza, implicam em riscos de perder a vida ou algum membro.
“Em uma noite escura e chuvosa, eu voltava a minha tenda sem a minha tocha, quando pisei em alguma coisa que começou a me picar”, comentou o fotógrafo. “Minha perna parecia arder em chamas. Quando dei por mim, um hipopótamo corria em direção a meu caminho. Foi uma noite assustadora”. As picadas, acrescentou, eram de formigas africanas. “Hipopótamos, por sinal, são responsáveis pelo maior número de mortes humanas na África do que qualquer outro animal”.
Apesar de seu estilo de vida movimentado, Hassanein aprecia alguns minutos de paz e calmaria. Seu momento favorito do dia é quando dirige sozinho a uma parte isolada da reserva, longe dos turistas, para tomar um ar e desfrutar da paisagem. É então, diz, que se lembra da maravilha de estar junto da natureza. “As pessoas deveriam prestar mais atenção nesses momentos”.
A natureza não cansa de surpreender, mesmo a alguém que passa a boa parte da vida em suas matas e rios. “Ver o nascimento de uma girafa é algo magnífico. Assim como vi as aventuras de um leopardo chamado Luluka e sua filha Jilime. Eu presenciei o parto de Jilime em setembro de 2020 e acompanhei mãe e filha até que se separassem, no mês passado”.
Como alguém que seguiu seus sonhos pela maioria de sua vida adulta, Abdelrahman Hassanein tem um conselho consideravelmente simples a todos que desejam fotografar a vida selvagem: “Invista em boas lentes, aprenda tudo que puder sobre o sujeito da imagem – jamais fotografe às escuras – e tenha paciência”. Então, vá adiante.
LEIA: Salvando animais da extinção na Faixa de Gaza