“Este livro será um clássico para nós entendermos a causa Palestina” – previu João Pedro Stédile, dirigente do Movimento Sem Terra (MST), sobre a obra que está sendo agora lançada e que traz, em poesia, história, arte e reflexões sobre Ghassan Kanafani, multiplas luzes para conhecer o poeta palestino.
Ghassan Kanafani – Anticolonialismo e alternativa socialista na Palestina, organizado por Yasser Jamil Fayad, e publicado pela Editora Fedayin, com apoio do MEMO, reúne escritos do – e sobre o – jovem palestino assassinado há 50 anos pela agência de espionagem de Israel, o Mossad, porque sua arte ameaçava mais a ocupação do que as armas violentas que ele não precisava usar.
Ele morreu aos 36 anos, em um atentado em Beirute, no Líbano. Mas deixou uma obra indispensável para se compreender o sentimento e a história de luta do povo palestino que não desiste de defender o retorno e a defesa de sua terra. A Palestina brilha e chora em seus contos, e resiste na memória dos laranjais que ficam para trás, quando o menino palestino é arrancado pela Nakba – a instalação violenta do Estado de Israel – mas deixa em meio às ruínas do massacre e expulsões sionistas as suas raízes vivas até hoje.
Kanafani vai sendo aos poucos mais conhecido e admirado no Brasil e seus contos, romances e ensaios uma referência da literatura de resistência para as esquerdas. São dele obras como Homens ao Sol (Rijal fi-a-shams), Tudo o que resta para você (Ma Tabaqqah Lakum) ou o ensaio Literatura de Resistência Palestina sob Ocupação. Mas sua figura já é uma velha companheira do movimento que luta pela terra, o MST, desde que em 2011 este teve contato com a vida e obra do palestino, decidindo dar seu nome à Brigada Internacionalista Ghassan Kanafani. O que liga as duas histórias é a resistência revolucionária que os camponeses do Brasil descobriram no artista e militante – e que Stédile homenageia ao recomendar a leitura.
O livro organizado por Jamil Fayad traz justamente a conexão entre as esquerdas brasileiras e palestinas, através das facetas de um jovem jornalista, militante, dramaturgo, pintor, escultor, escritor, intelectual que explica ter chegado à política por ser um romancista da vida palestina e não o contrário. Nele, a arte é sua própria militância. Ou o caminho que o transformou em dirigente da Frente Popular de Libertação da Palestina (FPLP).
Dividido em duas partes, a obra traz na primeira uma série de textos em português e árabe escritos especialmente para o projeto, com autores da Palestina e do Brasil. Traz tanto intelectuais e dirigentes partidários das forças de resistência palestinas, como do atual editor-che da revista Al Hadaf, fundada por Kanafani – que explica o impacto cultural que teve a publicação em seus primeiros anos. Do Brasil, escrevem dirigentes nacionais dos partidos de esquerda, além do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) e do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), ao lado de apoiadores da publicação, intelectuais e outros textos literários.
A segunda parte traz contribuições biográficas, com relatos, depoimentos próximos, cartas e escritos do próprio Kanafani, tanto de cunho político como literário. Em um deles, ao fazer uma análise marxista da Revolta de 1936, Ghassan leva o leitor à Palestina anterior à Nakba e, conforme o livro explica, “expõe o movimento das classes sociais palestinas, assim como as articulações com forças externas, desnudando os atores, sujeitos, instrumentais e objetivos”.
Além dos textos de reflexões e históricos, o livro reúne cartazes, fotos e poesias de Kanafani, permitindo diferentes passeios pela mesma obra. Neles, é possível compreender o olhar do poeta e político que se orienta pelo compromisso com as lutas das gerações que virão, como as de hoje, por libertação, cinquenta anos após sua morte. Sua poesia é auto-explicativa: “Condiciono os caminhos do presente ao futuro desejado. Sobretudo sou escritor da profecia”.
O livro está disponível agora via Kombi Livros Marcelino Chiarello
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