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Após sediar a ‘melhor Copa de todas’, persiste contra o Catar o melindre ocidental

Estádio Internacional Khalifa em Doha, Catar, 1º de dezembro de 2022 [Salih Zeki Fazlioglu/Agência Anadolu]
Estádio Internacional Khalifa em Doha, Catar, 1º de dezembro de 2022 [Salih Zeki Fazlioglu/Agência Anadolu]

Conforme Gianni Infantino, presidente da Federação Internacional de Futebol (FIFA), a Copa do Mundo de 2022, organizada pela primeira vez por um estado árabe e islâmico, no Catar, foi um “sucesso incrível em todas as frentes”. Infantino foi ainda além, ao descrever a Copa do Mundo que terminou neste domingo, 18 de dezembro de 2022, com a consagração do tricampeonato argentino, como a “melhor de todas”. Para o cartola, o fato de que fãs do esporte puderam “se encontrar com o mundo árabe é de suma importância para o futuro de todos”. Infantino insistiu em exaltar uma “atmosfera alegre … de congregação”.

No entanto, não ficou sozinho em elogiar o Catar pela organização do evento. O ex-proprietário e vice-presidente do clube de futebol britânico Arsenal, David Dein, destacou: “O Catar ganhou muitos amigos por causa dessa Copa do Mundo e sua abordagem organizacional … Seu torneio foi muito bem-sucedido”. Dein agradeceu o “privilégio” de estar presente no Catar. “Vimos uma grande Copa do Mundo, uma Copa como nenhuma outra! Jamais vi nada parecido antes, nunca mais vamos viver isso!”

No Instituto dos Estados do Golfo Árabe em Washington, o autor americano Robert Mogielnicki observou que o êxito catariano terá um impacto positivo em vários setores, sobretudo turismo.

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Torcedores de futebol de todo o mundo viajaram ao país ou assistiram às partidas na televisão, enfim conectados à cultura dos povos árabes e islâmicos. Muitos torcedores as abraçaram com curioso entusiasmo. Lenços árabes nas cores das equipes foram vistos nas arquibancadas. Nas arenas sem comércio ou consumo de álcool, mulheres e famílias relataram um ambiente mais seguro. Vídeos também mostraram turistas abraçando respeitosamente os ritos do Islã durante sua estadia no pequeno estado do Golfo.

Tudo isso teve um custo. O Catar gastou mais de US$220 bilhões para sediar a Copa do Mundo. Seu intuito não era multiplicar os recursos, mas obter reconhecimento internacional, sobretudo no que se refere a seu status cultural e geopolítico.

A mídia ocidental e sua oposição à Copa do Mundo no Catar
[sabaaneh]

“Cumprimos nossa promessa de organizar um torneio excepcional em um país árabe”, declarou o Emir do Catar Tamim bin Hamad al-Thani. “Este campeonato deu a todos os povos do mundo uma oportunidade para aprender sobre a riqueza de nossa cultura e nossos valores”.

Infantino argumentou que os turistas apenas conheciam o Catar sob as lentes da representação ocidental. “Agora, no entanto, descobriram o verdadeiro mundo árabe. Isso basta ao Catar; ver as pessoas conhecendo seu país e sua região a partir de dentro e não de terceiros”.

Entretanto, a mídia ocidental concentrou-se em criticar o emir Tamim por envolver o triunfante capitão argentino, Lionel Messi, em um tradicional abaya árabe antes de entregá-lo o troféu. A capa cerimonial costuma servir para celebrar momentos únicos de nossas vidas, incluindo ritos de graduação e matrimônio. Não obstante, observadores orientalistas insistiram em vinculá-la a uma burocracia corrupta e coercitiva, como insistem em descrever o país-sede. A interpretação sobre as intenções dos anfitriões do torneio foi absolutamente equivocada.

O jornal britânico Daily Mail, por exemplo, publicou a seguinte chamada: “Momento egoísta na Copa do Mundo do Catar; anfitrião força Lionel Messi a cobrir sua icônica camisa dez com uma capa árabe para lhe entregar o troféu”. Em seguida, enfatizou: “Este é o momento dos atletas e não dos anfitriões”.

O periódico conservador, entretanto, explicou corretamente: “Os bishts [abayas] são usados no mundo árabe há milhares de anos para eventos formais. São comparados ao smoking ocidental, embora detenham conotações de poder, muito comuns entre membros da realeza, do clero e autoridades do governo”. Tudo isso, insistiu, reflete a mensagem ambicionada por Doha.

O tabloide The Mirror foi além: “Lionel Messi forçado a cobrir camisa argentina para erguer seu troféu da Copa do Mundo”. Gary Lineker, comentarista da rede BBC e ex-atacante da Inglaterra, não ficou nada satisfeito: “Cenas incríveis, imagens grandiosas de alto e baixo enquanto vemos o tricampeonato da Argentina na Copa do Mundo. Mas é uma vergonha, de certa maneira, que tenham coberto a camisa da seleção de Lionel Messi”.

Laurie Whitell, jornalista do The Atlantic, afirmou no Twitter: “O Catar obviamente queria estar presente nas fotografias da premiação; portanto, decidiu cobrir Messi com um robe preto. Não obstante, pareceu estranho e desnecessário, em um mar alviceleste de camisas de futebol. Este deveria ser um momento dos jogadores e não dos anfitriões. Grosseiro e indulgente”.

Pablo Zabaleta, também comentarista da BBC e ex-jogador da Argentina, questionou: “Por quê? Não há razão para isso”. Kaveh Solhekol, editor-chefe da Sky Sports, declarou: “Normalmente, é claro, quando o capitão recebe o troféu, ele está vestindo a camisa de seu país. Vale dize que a camisa da Argentina é uma das mais famosas do futebol global. Salvo esta noite, quando Messi pôs as mãos na taça, vestia um robe cerimonial árabe chamado de bisht”.

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Segundo James Pearce, do The Atlantic, o ato “arruinou” a alegria de erguer o troféu. “A maior espera de todas para ganhar uma Copa e fizeram seu melhor para arruinar o momento”, tuitou Pearce. “Por que cobrir a camisa de Messi com aquilo? Ridículo! Ainda bem que ele tirou!”

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Mark Ogden, articulista da rede ESPN, chegou a deletar um tuíte mais agressivo; não obstante, insistiu: “Este momento não pertence ao Catar, para cobrir o uniforme argentino de Messi com uma veste tradicional sua!”

O robe era transparente. Portanto, não cobriu completamente a camisa de Messi. Colocá-lo nos ombros do jogador não foi um movimento político tampouco tentativa de apropriar-se de seus instantes de glória. Foi meramente um ato para honrá-lo como grande atleta que é, segundo as tradições do país-sede, reconhecido por seu chefe-de-estado.

Não nos esqueçamos que o robe usado com distinção nas formaturas universitárias em todo o mundo deriva do abaya islâmico. Historiadores ocidentais podem ter razão ao dizer que o robe foi uma tradição obtida de religiosos cristões nos séculos XII e XIII, mas podemos indagar onde tais padres viram o costume em primeiro lugar. A primeira universidade no mundo foi fundada por muçulmanos, muito antes de emergirem as mesmas instituições no continente europeu. Os abayas são usados desde então.

A crítica ao “abaya de Messi” parece, deste modo, emanar da determinação em desacreditar o Catar tanto quanto possível. Embora aclamada como a “melhor Copa de todas”, comentaristas ocidentais parecem não saber lidar com isso. Muitos ainda ressentem que o torneio foi cedido a um estado árabe e islâmico.

Todo país tem defeitos, seja no Ocidente ou no mundo árabe. O Catar tem muito a melhorar. Contudo, que reconheçamos o mérito quando de fato conquistado. Para mim e para muitos, foi sim a melhor Copa da história das Copas – realizada no Catar. Que fique assim e caminhemos a um futuro melhor e mais compreensivo para todos.

As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.

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