Neste domingo, dia 18 de dezembro de 2022, a seleção argentina sagrou-se campeã da Copa do Mundo do Catar. Um embate entre duas grandes seleções, Argentina e França, resultou em um jogo muito emocionante e dinâmico demonstrado pelo placar, um 3×3 (pela Argentina, dois gols de Messi, aos 23 minutos do primeiro tempo, de pênalti, aos 3 minutos do segundo tempo da prorrogação e Ángel Di María aos 36 minutos do primeiro tempo; Mbappé aos 30 minutos do segundo tempo, de pênalti, aos 31 minutos do segundo tempo e aos 13 minutos do segundo tempo da prorrogação). Pode-se dizer que tenha sido a melhor final de Copa do Mundo até o momento, mas, sem dúvidas, é uma síntese do que foi a Copa do Mundo do Catar, a primeira no mundo árabe, que despertou corações e mentes para temas pouco observados pela mídia ocidental.
Ninguém pensaria que uma seleção tal qual a toda poderosa Argentina, que possui um elenco estrelado como Messi, Di Maria, Dybala e Lautaro Martine, pudesse perder para a esforçada seleção da Arábia Saudita na estreia da Copa. Tampouco ninguém esperava que também que a abalada seleção argentina poderia, depois desta derrota, dar a volta por cima e sagrar-se campeã em cima da seleção francesa. Existem histórias que nem o melhor contador de histórias poderia imaginar, mesmo imbuídas de imenso drama, como os encenados por Dario ou um típico tango argentino. Tudo isso levou muitos de nós, brasileiros, a torcerem pela celeste, ainda que nossa “rivalidade” tenha sido levada até os últimos limites por nossos grandes narradores.
A jornada do herói – encampada por Messi e cia. – levou também muitas pessoas a tentarem desqualificar a seleção francesa em razão do passado – e claro, sempre presente – colonial francês. Contudo, esquecem muitas vezes os críticos que as seleções são compostas por jogadores, que muitas vezes não concordam com as ações dos seus governantes. Isso pode ser exemplificado, com a surpresa de muitos, pelo fato de que a seleção francesa é composta majoritariamente por negros – filhos de imigrantes africanos e em grande parte muçulmanos. Em verdade, há um certo tempo, a seleção francesa não representa o estereótipo do “francês”; ao contrário, representa o presente e futuro daquele país, com uma crescente parcela da população negra, árabe e muçulmana. O presente da seleção francesa contrasta com o seu passado colonial, sendo esta contradição sintetizada na imagem de seu principal jogador: Kylian Mbappé, filho de camaronês com argelina – portanto, filho da imigração e da colonização.
Neste sentido, apesar de compreender que futebol nem sempre é espaço para razão, devemos considerar essa final uma vitória pois reuniu, pela primeira vez em campo, os frutos dos povos oprimidos, mesmo que não os “representem” na camisa, muito embora carreguem consigo sua história e a de seus antepassados. Por isso, podemos dizer que esteve em campo a América do Sul – como a síntese máxima da América Latina – representada pelos hermanos, enquanto do outro lado estavam os nossos irmãos árabes e africanos – representada pelos jogadores franceses –, que são também parte de nós. Em suma, viva a diversidade e a pluralidade das existências que tornam o mundo sempre mais livre e dinâmico. Viva a possibilidade de encontrarmos com o outro, em campo e fora dele, e reconhecermos no outro, nós mesmos. Viva a Copa do Mundo do Catar que nos deu tanta surpresa e emoção e mostrou que podemos viver em conjunto, respeitando sempre nossas particularidades.
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