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Perfil: Anwar Sadat (25 de dezembro de 1918 – 6 de outubro de 1981)

Então Ministro da Defesa de Israel Ariel Sharon (à esquerda) encontra-se com o Presidente do Egito Anwar Sadat, em Alexandria, 25 de agosto de 1981 [Chanania Herman/GPO/Getty Images]
Então Ministro da Defesa de Israel Ariel Sharon (à esquerda) encontra-se com o Presidente do Egito Anwar Sadat, em Alexandria, 25 de agosto de 1981 [Chanania Herman/GPO/Getty Images]

Pouco antes de visitar a Jerusalém, em 1977, o então presidente egípcio Anwar Sadat prometeu ir “aos confins da Terra” para alcançar a paz. De fato, decidiu negociar o primeiro “acordo de paz” assinado entre um governo árabe e o estado ocupante de Israel. Na imprensa americana, Sadat foi reverenciado como um grande líder e um homem da paz. Porém, muitos de seus colegas no mundo árabe enxergaram de outra maneira: para eles, Sadat vendera os palestinos por alguns tostões, ao abdicar de seu direito nativo à autodeterminação. Desde o primeiro instante, Sadat foi ostracizado na região. Alguns observadores, anos mais tarde, diriam que o acordo culminou em sua morte.

O que levou Anwar Sadat – herdeiro político do líder nacionalista árabe Gamal Abdul Nasser – a seguir um caminho tão diferente de seu predecessor? Como notou o jornalista egípcio Abdullah el-Sinnawi: “É como se Sadat anunciasse uma espécie de divórcio regional com o arabismo”. No entanto, nem sempre foi o caso. Ele e Nasser eram ambos veteranos do Movimento dos Oficiais Livres, um grupo clandestino de militares que depôs o rei Farouk – subalterno ao Reino Unido –em 1952, e cuja filosofia central era a libertação do Egito de qualquer ingerência externa. Ainda assim, com o passar dos anos, foi Sadat quem encorajou a aproximação de seu país com Israel e Estados Unidos.

Nascido em uma aldeia bastante pobre no Delta do Nilo, um entre 13 irmãos, o pai de Sadat era do Alto Egito e sua mãe era sudanesa. Sadat graduou-se na Academia Militar do Cairo em 1938 e se alistou nas Forças Armadas. Foi encaminhado ao Sudão, onde conheceu Nasser e fundaram então o Movimento dos Oficiais Livres. Quando Nasser chegou à presidência, Sadat obteve uma série de cargos de destaque em seu governo, incluindo a vice-presidência da república. Quando Nasser faleceu, em 1970, Sadat o sucedeu como terceiro Presidente do Egito.

Quem sabe, ao tentar construir seu próprio legado, Sadat começou a apartar-se do nasserismo por meio do chamado “movimento corretivo”, lançado pouco após sua posse. Sob o programa, Sadat expulsou correligionários de Nasser do governo e do establishment político e militar. Vale dizer, “movimento corretivo” é a mesma expressão adotada por Hafez al-Assad para descrever seu regime de três décadas na Síria – al-Assad chegou ao poder um ano depois de Sadat. Mais tarde, o então presidente estendeu sua repressão pertinaz a membros de partidos da esquerda, da Irmandade Muçulmana e da comunidade cristã no país norte-africano.

No decorrer de seu mandato, Sadat expulsou ainda muitos soviéticos do Egito, ainda ressentido com a reiterada recusa de Moscou de enviar assistência à coalizão árabe durante a Guerra dos Seis Dias, em 1967. Sob o governo de Nasser, as relações com a União Soviética eram fortes. No entanto – segundo o documento da Al Jazeera intitulado I Knew Sadat –, seu sucessor passou a “encantar-se” com o Ocidente e crer que, caso o Egito estivesse ao lado de Washington, assim como Israel, haveria maiores oportunidades ao país nos campos de tecnologia e investimentos. Sadat abandonou seu alinhamento soviético e caiu nos braços dos Estados Unidos.

Em 6 de outubro de 1973, Egito e Síria juntaram forças na Guerra de Yom Kippur, aquela que se tornou a quarta guerra árabe-israelense. Na ocasião, Sadat prometeu “restaurar a dignidade do Egito”. Contudo, foi novamente derrotado quando a Casa Branca escolheu Tel Aviv em prejuízo do Cairo. O envolvimento de Sadat lhe reconquistou certa popularidade em casa, mas o golpe à economia egípcia, segundo observadores, não lhe deu opção senão aproximar-se do Ocidente e fazer as pazes com Israel. Naturalmente, o político egípcio desfrutou da atenção que adveio da conjuntura. Como recorda I Knew Sadat, o presidente adorava ser um “ator no cenário global” e assinar um acordo de paz com a ocupação israelense de fato o converteu em um estadista aos olhos da comunidade internacional. Em 1975, Sadat tornou-se o primeiro Presidente do Egito a visitar os Estados Unidos.

O “acordo de paz”, não obstante, incorreu em duras perdas para os palestinos. As negociações de Camp David asseveraram o retorno do Sinai ocupado ao Egito; em troca, o Cairo reconheceu Israel, estabeleceu relações diplomáticas e passou a permitir a passagem de barcos israelenses pelo Canal de Suez. Por seus esforços, Sadat e o premiê israelense, Menachem Begin, ganharam juntos o Prêmio Nobel da Paz, tornando o controverso líder egípcio o primeiro muçulmano a ser reconhecido pela premiação.

Para o mundo árabe, todavia, Sadat era um traidor. Após o acordo de Camp David, a Liga Árabe suspendeu o Egito de suas fileiras – um de seus membros-fundadores! – e transferiu a sede do Cairo à cidade de Túnis. Apesar de celebrações de rua financiadas pelo governo, muitos egípcios estavam profundamente descontentes com a normalização promovida por Sadat, ao privilegiar interesses próprios em detrimento do panarabismo. Ironicamente, a impopularidade o forçou a depender mais e mais dos Estados Unidos por apoio político, econômico e militar.

Não foi suficiente. Em 6 de outubro de 1981, Sadat assistia a uma parada militar no Cairo para celebrar a Guerra de Yom Kippur, quando foi assassinado por homens em vestes do exército. Os responsáveis, que atiraram granadas contra Sadat, descreveram a si próprios como “militantes islamitas”. Ao saber da morte, o ex-presidente americano Ronald Reagan afirmou: “Os Estados Unidos perderam um grande amigo, o mundo todo perdeu um grande estadista, a humanidade perdeu um campeão da paz”. Emissários e líderes ocidentais e israelenses compareceram a seu funeral; líderes árabes foram notavelmente ausentes.

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As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.

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