Na história da Palestina existem muitos grandes líderes que sacrificaram tudo para defender sua terra e sua causa. No entanto, sabemos muito pouco sobre eles e sua história quase esquecida. É claro, há muitas razões para isso: ignorância, indiferença e negligência das autoridades responsáveis. Infelizmente, em alguns casos, tamanha negligência é deliberada. Por décadas, a história de sua luta desapareceu das páginas dos livros e não obteve seus direitos de divulgação na imprensa. Portanto, como pesquisadores e profissionais de mídia, temos o dever de estudar e pesquisar a biografia desses heróis para transmitir seu legado às novas gerações e erguer um farol para a libertação da Palestina.
(Episódio 1)
Hilarion Capucci
Hilarion Capucci nasceu em 2 de março de 1922, em Aleppo, na Síria. Sua jornada a um dos mais notórios cargos da Igreja Católica no Oriente Médio – arcebispo da Cesareia – começou com a morte do pai, quando Capucci tinha cinco anos de idade. Estudou no Líbano e atendeu seu chamado eclesiástico ao ingressar no Mosteiro de Santa Ana em Jerusalém, período no qual criou vínculos profundos com a Palestina ocupada.
Em Jerusalém, Capucci testemunhou diversas violações contra o povo palestino e ataques das milícias sionistas no período que antecedeu a Nakba (ou “catástrofe”), incluindo o atentado ao Hotel King David, em 1946. A explosão – planejada pela gangue Irgun, sob comando do futuro primeiro-ministro israelense Menachem Begin – deixou 90 mortos, sobretudo funcionários do governo britânico.
Nascido George – de pais cristãos; como o santo, muito popular na região –, Capucci adotou o nome Hilarion em homenagem a um eremita que viveu em Gaza, no século IV d.C..
Em 1965, foi eleito e consagrado arcebispo. Em junho de 1967 – quando Israel atacou Cisjordânia e Gaza (Palestina), Sinai (Egito) e Golã (Síria) –, Capucci testemunhou a atrocidades da ocupação e enterrou ao menos 400 palestinos em Jerusalém. Em suas memórias, Capucci relatou um episódio pessoal de resistência: três dias após a tomada de Jerusalém, um soldado israelense cuspiu no sacerdote cristão; Capucci respondeu ao acertá-lo com uma vara. “Estou convencido de que esses invasores somente se beneficiam de um chicote; a violência é necessária para superar seus espinhos e sua brutalidade”.
Desde então até sua morte, Capucci clamou por resistência e boicote a instituições e eventos protocolares no estado israelense. A ocupação decidiu prendê-lo em 18 de agosto de 1974, sob acusação de contrabandear armas à resistência. Dos doze anos aos quais foi condenado, Capucci cumpriu três anos e três meses, libertado sob intervenção do Papa Paulo VI. Após meses de negociações entre Vaticano e Tel Aviv, Capucci deixou a penitenciária de Ramle, em 1977; contudo, foi expulso da Palestina.
Não obstante, prosseguiu sua luta e desfrutou do reconhecimento pontífice para manter suas denúncias sobre as violações militares perpetradas por Israel na Palestina ocupada. Seu desejo de retornar a Jerusalém jamais se esvaneceu.
Décadas depois, Capucci manifestou sua solidariedade material às iniciativas para encerrar o cerco israelense contra a Faixa de Gaza. Em 2009, o influente arcebispo participou da Flotilha da Liberdade, que buscava transportar bens alimentares à população carente no território sitiado. Esteve entre os tripulantes do navio turco, Marmara, cuja missão seria quebrar o cerco a Gaza, em 2010; no entanto, frustrada por um ataque de agentes especiais israelenses em águas internacionais. Dez ativistas foram mortos.
Uma série dramática – sob o título “Guardião de Jerusalém” – foi produzida na Síria, como retrato da vida do arcebispo Hilarion Capucci e sua passagem por Aleppo, Beirute, Jerusalém e Roma, além dos eventos históricos que testemunhou.
Capucci recebeu homenagens – dentre as quais, a impressão de selos postais comemorativos –em diversos países árabes, como Palestina, Sudão, Egito, Líbia, Iraque, Síria e Kuwait. Hilarion Capucci faleceu em janeiro de 2017, aos 94 anos, na cidade de Roma; foi sepultado no Líbano.
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