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Mochilão MEMO: Kadiköy, o mercado de pulgas de Istambul

Pôr do sol próximo ao Estreito de Bósforo, em Istambul, na Turquia, em 3 de janeiro de 2023 [Lucas Siqueira/MEMO]

Antes de começar, temos de esclarecer algumas coisas. Primeiro, Istambul não é a capital da Turquia; sua capital é Ancara. Turcos não são árabes; árabes são povos que falam o idioma árabe. Na Turquia, fala-se turco e dependendo da região, outros dialetos. Nem todo turco é muçulmano – embora o Islã seja a religião predominante, a presença do cristianismo e judaísmo também é forte e constitui parte da história do país.

Esclarecido esses pontos, vamos falar um pouco sobre nossa chegada até aqui.

Sobre o voo, infelizmente não posso falar muita coisa. Como sempre, tomei alguns remedinhos para dormir e esquecer que tenho pânico ao voar – considerando a cara e o humor da minha camarada esposa, Diana Emidio, eu não devo ter me comportado muito bem!

Diana Emidio:

No avião, fiquei horas a fio sem dormir, erguendo a cabeça do Lucas a cada cinco minutos – ele se dopa para conseguir voar; eu, pelo contrário, me recuso a dormir, na esperança de viver cada segundo de nossa aventura.

A Turquia é mais um novo país na nossa coleção. No entanto, despertou meu interesse, mesmo antes de conhecer a vontade de morar em outro país. Costumo ver vídeos e documentários antes de viajar a algum lugar. A Turquia me parece especial, não sei ainda por que – certamente já conquistou meu coração. Alguns minutos antes de pousar, senti aquele peculiar frio na barriga, com a certeza de que nossa viagem será uma experiência extraordinária. Desta vez, há um tempero a mais, uma ligação invisível – quem sabe, certa “cafonice de mochileira”, uma visão romantizada que eu mesmo criei. Minha única certeza é que será uma viagem bela, intensa e surpreendente. Caso beire a cafonice, aceito também – afinal de contas, não é todo dia que vivemos um sonho.

Lucas Siqueira:

A primeira coisa que fizemos ao chegar foi trocar de roupas. Saímos do Brasil no calor do verão e viajamos para o Hemisfério Norte do planeta, onde é inverno, e a Turquia não é nada gentil com suas temperaturas. Gostaria de esclarecer outra coisa: nós, ocidentais, tendemos a pensar que qualquer canto do Oriente Médio é deserto e faz calor. Trata-se de uma visão orientalista, a qual o autor palestino Edward Said descreveu como “Oriente como invenção do Ocidente”. Isso quer dizer que pouco ou nada sabemos nada sobre a cultura oriental, apenas especulamos; muitas vezes, tiramos conclusões precipitadas e equivocadas – uma percepção que o cinema americano e as novelas da Globo ajudaram a formar. Esqueça tudo que assistiu em “O clone” – até porque ele se passa no Marrocos, ou seja, outro país em outro continente.

A região da Capadócia será o ponto mais frio de nossa viagem; demanda preparo. Daí, surgiu a ideia de ter como primeira parada o mercado de pulgas de Kadiköy. No entanto, comecemos a falar de Kadiköy pela cidade gigantesca onde se situa. Muito embora não seja capital da Turquia, Istambul é a maior cidade do país, mais populosa e movimentada. Aqui está situado o coração econômico que movimenta o país. A cidade é dividida pelo estreito de Bósforo: a parte ao norte fica no continente europeu; a maior porção está na Ásia. Aqueles que assistiram Otomanos no Netflix podem estar acostumados com o nome Corno de Ouro.

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A Turquia é banhada pelo Mar Mediterrâneo e pelo Mar Negro. Istambul antecede seu nome: a cidade já esteve nas mãos de persas, espartanos, atenienses, macedônios, celtas, romanos e bizantinos. Em 29 de maio de 1453, Mehmed II entrou a cavalo na metrópole e a tornou capital do Império Otomano. A data marca também o fim da Idade Média. O Império Otomano findou durante a Primeira Guerra Mundial. Em 29 de outubro de 1923, a Turquia se tornou república. Os turcos se orgulham de não viver mais em uma monarquia, mas boa parte de sua herança cultural deriva dessa época.

Dado uma pequena introdução de mais de dois mil anos de história, voltemos ao frio de congelar os ossos. Como chegamos cedo, deixamos as malas no hotel e saímos para “bater perna” e fazer “comprinhas” para não virar picolé. Istambul é enorme: antes de chegar ao mercado de pulgas de Kadikoy, atravessamos toda a cidade de trem e metrô, com a missão de comprarmos nossa passagem rumo à Capadócia. Um turco gentil nos ajudou bastante; por coincidência ou não, seu nome é Mehmed, justamente o primeiro sultão otomano, que tomou Constantinopla – antigo nome de Istambul – do Império Bizantino. A população é generosa: em muitas ocasiões em que nos perdemos, um cidadão turco caminhou conosco e nos apontou o caminho.

Senhor turco lê seu jornal em Istambul; a vida passa em tempos distintos na metrópole histórica da Turquia, 3 de janeiro de 2023 [Lucas Siqueira/MEMO]

Rumo a Kadiköy, voltamos a nos perder, diante das muitas maravilhas que a cidade de Istambul tem a oferecer. Porém, gostaria de esclarecer uma última coisa: mercado das pulgas é um termo popular usado para bazares medievais que vendiam roupas – junto com as roupas, também suas pulgas.

Exaustos, seguimos viagem de ônibus à Capadócia.

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Nota: Todos os textos do Mochilão MEMO são produzidos em trânsito; por gentileza, peço que compreenda que pode haver falhas ou erros que serão corrigidos ao longo da viagem. Obrigado a todos pela compreensão.

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