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Chanceler: Brasil vai reconstruir sua inserção no mundo

Ministro Mauro Vieira [Ministério das Relações Exteriores]

O embaixador Mauro Vieira assumiu o cargo de ministro das Relações Exteriores do terceiro mandato do presidente Lula. Durante a cerimônia de transmissão de cargo, no Palácio do Itamaraty, em Brasília, Vieira falou sobre o intenso trabalho que precisará ser feito para que o País volte a ocupar seu lugar de protagonismo na comunidade internacional. Ele também falou sobre a importância da retomada das relações bilaterais, das relações com a América Latina e Caribe, e com os países da África.

“O Brasil tem muito a fazer para reconstruir sua reinserção no mundo e em sua própria região. Não temos tempo a perder neste trabalho que é de todos os brasileiros, todos os Poderes, de todo o governo, mas muito, especialmente, do Itamaraty sob a condução experiente do presidente Lula”, disse. Vieira destacou ainda que o mundo passa por uma crise de governança global, agravada pela emergência climática. A cerimônia ocorreu nesta segunda-feira (02).

Para o embaixador, os três pilares fundamentais para a gestão pública serão o econômico, o social e o ambiental. Vieira enfatizou que a proteção do clima e o desenvolvimento de ações cada vez mais sustentáveis pautarão sua atuação frente ao ministério. O diplomata também anunciou que o Brasil continuará sendo um país ancorado no agronegócio, cuja intenção é expandir os acordos para a exportação de alimentos, suprindo a cadeia internacional.

Política externa

O presidente Lula reafirmou, em seu discurso de posse, seu compromisso com a reconstrução do País e de suas pontes com o mundo, relembrou o ministro. “A primeira instrução que dele recebi foi a de reabrir canais de diálogo bloqueados”, disse.

“Teremos de recompor relações bilaterais danificadas e retomar o protagonismo construtivo nos foros e organismos internacionais onde temos uma contribuição singular a oferecer. O Brasil será um parceiro confiável, um ator incontornável, uma liderança e uma força positiva em favor de um mundo mais equilibrado, racional, justo e pacífico”, declarou Vieira.

A política externa, segundo o diplomata, “voltará a traduzir em ações a visão de um País generoso, com mais justiça social, comprometido com os direitos humanos, apegado ao direito internacional e disposto a dar uma forte contribuição à sua região e ao mundo”.

África e Oriente Médio

A África, região da qual o Brasil esteve ausente nos últimos anos, voltará a ser prioridade, disse o chanceler. “Continente dinâmico, a África tem avançado em seu processo de desenvolvimento; constrói, agora, uma gigantesca área de livre comércio; e abrigará, em alguns anos, quase metade da juventude mundial”, declarou.

O diálogo político de alto nível com países africanos e suas organizações regionais será restabelecido, segundo o ministro, para tratar de desafios comuns, como segurança alimentar, mudança do clima, comércio e investimentos e intercâmbio de tecnologias. “Fortaleceremos a Zona de Paz e Cooperação do Atlântico Sul”, disse Vieira.

Sobre o Oriente Médio, o ministro afirmou que o Brasil retomará sua tradição de boas relações com todos os países. “Trabalharemos para avançar na implementação dos acordos do Mercosul com Egito, Israel e Palestina, bem como para explorar a possibilidade de novas frentes negociadoras. Buscaremos parcerias diversificadas, envolvendo produtos de maior valor agregado, investimentos e a ampliação do intercâmbio em tecnologia e inovação”, disse.

O chanceler também falou sobre a questão Palestina. “Com relação a Israel e Palestina, dois países amigos do Brasil, retornaremos à posição tradicional e equilibrada mantida há mais de sete décadas, apoiando a solução de dois Estados plenamente viáveis, coexistindo lado a lado em segurança, e com fronteiras internacionalmente reconhecidas. Nossa bússola nesse tema voltará a ser, como sempre foi, o direito internacional”, afirmou.

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América Latina e Caribe

“Coletivamente, a América Latina e o Caribe podem ser uma força a favor da multipolaridade e em benefício de ganhos reais para seus países”, disse Vieira. Ele enfatizou que o retorno do Brasil à sua própria região significará o engajamento e o diálogo com todas as forças políticas, para recuperar a capacidade de defender seus interesses e contribuir para o desenvolvimento e a estabilidade regionais.

Sobre as relações com a América do Sul, o ministro disse que o fortalecimento dos laços do Brasil no Mercosul é uma situação de primeira importância em sua gestão. O estreitamento de relações com Argentina, Uruguai e Paraguai será uma prioridade do Itamaraty.

Histórico

Esta é a segunda vez que Mauro Vieira assume o Itamaraty. O diplomata foi chanceler durante o segundo mandato de Dilma Rousseff, de 2015 a 2016. Ele já foi embaixador do Brasil na Argentina (2004-2010); nos Estados Unidos (2010-2015); representante permanente nas Nações Unidas em Nova York (2016-2020) e seu último posto foi como embaixador do Brasil na Croácia, desde fevereiro de 2020, até ser indicado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva para desempenhar a função de ministro das Relações Exteriores do Brasil.

“Não é comum que a nós seja dada uma segunda oportunidade de voltar a fazer algo que foi brusca, involuntariamente interrompido. Em maio de 2016, deixei o cargo a que hoje regresso (…) Aceito agora o desafio de retornar a esse lugar e a essas tarefas, consciente de que mudanças importantes ocorreram no Brasil e no mundo nestes mais de seis anos e meio desde a minha saída”, disse o chanceler.

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Mauro Vieira agradeceu o presidente da República pela confiança. Além de Lula, expressou sua gratidão e admiração pelos ex-ministros Celso Amorim e Renato Archer. A ex-presidenta Dilma Rousseff também integrou a lista de homenageados.

O embaixador Mauro Vieira nasceu em Niterói, no estado do Rio de Janeiro, e tem 71 anos. É bacharel em Direito pela Universidade Federal Fluminense e em Diplomacia pelo Instituto Rio Branco, além de doutor honoris causa em Letras, pela Universidade de Georgetown, em Washington, nos Estados Unidos.

Publicado originalmente em Anba

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