Göreme, Kaymakli e Nevşehir, 6 de janeiro de 2023
Acordamos bem cedo, olhamos pelas janelas do quarto, abrimos a porta e olhamos para o céu: e nada. Não vimos os balões. Fomos tomar café com esperança de ainda ser cedo demais, mas quando chegamos ao restaurante do Henna Hotel, um dos funcionários apontou para o terraço e pronunciou a palavra que estávamos esperando há dois dias: balloons!
Subimos correndo e por todos os lados lá estavam eles, balões enormes colorindo o céu da Capadócia.
Os balões surgem por todos os lugares, subindo lentamente junto com os primeiros raios de sol. Eles aparecem de trás das montanhas do Sunset Point, das chaminés de fadas, no horizonte, por todos os lugares – até sobre nossas cabeças havia alguns balões.
Ficamos quase uma hora observando o espetáculo colorido, ali mesmo do terraço do Henna Hotel.
Os balões foram os primeiros veículos aéreos da humanidade. O primeiro relato histórico de um balão de ar quente surge na China, durante a Era dos Três Reinos (220 – 280 d.C). No entanto, eram menores, não tripulados e tinham por intuito emitir sinais militares. Existem também especulações de que balões tenham sido usados pelos povos pré-incas no Peru, como auxílio para formação das famosas linhas do deserto de Nazca. Balões tripulados, como os que hoje decoraram a manhã em Göreme, foram confeccionados pela primeira vez pelos irmãos franceses Montgolfier, em 1783. No entanto, com o objetivo de analisar os efeitos da altitude em seres vivos, a primeira tripulação a voar de balão foi um carneiro, um pato e um galo.
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Os balões se popularizaram em Göreme na década de 1990 e ajudaram a mudar o cenário da economia local. A cidade que hoje é a capital turística da região da Capadócia, era um vilarejo agrícola e desconhecido até poucas décadas atrás, mesmo possuindo tantas relíquias naturais, culturais e históricas para se ver. Os baloeiros ajudaram a transformar o cenário e atrair cada vez mais turistas, mudando o padrão de vida dos aldeões, que na grande maioria passaram a morar em cidades vizinhas maiores e transformaram suas antigas casas esculpidas nas cavernas em hotéis.
Para os turistas, os balões se tornaram um espetáculo imperdível, principalmente para aqueles que diferente de mim não tem pavor de altura. Mesmo com os pés fincados como âncoras no chão, o espetáculo foi único.
Não consigo tirar os olhos do céu ao meu redor
As palavras estão presas e tudo está confuso
Só um desajustado preso à Terra, eu.
Learning To Fly, Pink Floyd.
O que vimos nessa manhã foi uma cena inesquecível e inspiradora que nem mesmo Julio Verne seria capaz de descrever. E se nem ele seria capaz de descrever, o melhor que tenho a fazer é compartilhar com vocês um pouco das nossas fotos!
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A cidade subterrânea de Kaymakli
Após o show dos balões em Göreme, pegamos um ônibus até Nevşehir e de lá para a cidade subterrânea de Kaymakli.
Saindo da cidade subterrânea de Kaymakli, o que mais precisávamos era esticar um pouco as pernas. Resolvemos fazer algo que é um costume frequentemente em nossas trips: caminhar e conversar. Ao invés de pegar o ônibus de volta para Nevşehir, resolvemos seguir andando pela estrada. Caminhamos cerca de nove quilômetros pelo acostamento sem se preocupar com o tempo. Nosso assunto principal foi a relações internacionais que nosso país perdeu ao longo dos seis anos que sucederam ao golpe, principalmente com os últimos quatro anos do falecido governo Bolsonaro. Vou tentar explicar, não como analista político, mas como um mochileiro que conhece um pouquinho do mundo.
O Brasil sempre foi um país pacifista e com boas relações com o Oriente. Em 2002, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva rejeitou a proposta do norte-americano George W. Bush para participar da invasão do Iraque.
“Em 2002, fui visitar o Bush e ele veio com uma preleção de 40 minutos me mostrando o quão importante era acabar com o terrorismo. Isso fazendo um apelo para que o Brasil participasse do que ele chamou de luta extraordinária para acabar com o terrorismo, invadindo o Iraque. Eu simplesmente disse para ele: eu não conheço Saddam Hussein. […] Eu tive outra guerra: a fome. No meu país, a fome atingia 54 milhões de pessoas. E essa guerra eu iria fazer e iria ganhar”, disse Lula durante seu giro pela Europa em 2022.
Lula apesar de negar participar de uma guerra contra o Iraque, não perdeu as relações que tinha com os Estados Unidos, não foi cúmplice do assassinato de milhares de inocentes e de mais uma invasão do Ocidente ao Oriente. Essa atitude estreitou ainda mais os laços comerciais do Brasil com países orientais. Jair Bolsonaro caminhou no lado aposto, tentou se aproximar de Donald Trump (presidente americano) e Benjamin Netanyahu (primeiro-ministro israelense), ao criticar mais de uma vez as nações orientais, seus governos e seus povos. Duas relações que não favoreceram ninguém, salvo a indústria armamentista americana e israelense, além deixar o Brasil em uma situação de rejeição com aproximadamente 40 países do bloco oriental.
Caminhando por uma estrada na região da Capadócia chegamos à conclusão que precisamos novamente retornar nossos vínculos de amizades com esse bloco tão injustiçado. Hoje, quando vi os balões em Göreme, senti uma sensação de paz, apesar de todas as injustiças que nosso planeta enfrenta. Sinto que chegou o momento de o Brasil voltar ao que foi nos governos anteriores e valorizar mais as pessoas que sobem balões do que apoiar aqueles que despejam suas bombas.