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Fundo Nacional Judaico: Entidade cúmplice da limpeza étnica

Autor do livro(s) :Uri Davis
Data de publicação :Janeiro de 2023
Editora :MEMO
Número de páginas do Livro :491 páginas
ISBN-13 :978-1-901924-015

O livro JNF/KKL: A Charity Complicit with Ethnic Cleansing – em tradução livre, Fundo Nacional Judaico: Entidade cúmplice com a limpeza étnica –, do pesquisador e ativista por direitos civis Uri Davis, é a mais recente publicação da Editora MEMO no Reino Unido. A obra busca trazer à luz esforços para encobrir os crimes de apartheid conduzidos por Israel, mediante “greenwashing” materializado nas ações do chamado Fundo Nacional Judaico – Keren Kayemeth Le’Israel (FNJ – KKL), entidade internacional que conferiu as bases ideológicas para a criação do Estado sionista.

O “guia alternativo” sobre a organização é produto de anos de pesquisa acadêmica e de campo de Davis e consiste em documentos relevantes e estudos de caso realizados pelo autor ao longo de duas décadas. O prefácio é do historiador israelense antissionista Ilan Pappé, que descreve a obra como “exposição do que realmente repousa no passado, no presente e no futuro dos atos conduzidos pelo Fundo Nacional Judaico” e “análise dos crimes de Israel contra os palestinos”, ainda em curso no período contemporâneo.

“O FNJ é registrado, de maneira falaciosa, junto das Nações Unidas como ong, ao projetar-se no exterior como entidade voltada ao desenvolvimento sustentável”, reitera Davis. Deste modo, a entidade “beneficia-se de isenções tributárias na maioria dos estados-membros da ONU”.

O Fundo Nacional Judaico foi fundado em 1901, como entidade sem fins lucrativos cujo intuito seria comprar terras na Palestina histórica para remetê-las colonos judeus. A princípio, o órgão foi registrado no Reino Unido como “companhia limitada”, mas incorporado ao Estado de Israel após ser estabelecido o regime sionista sobre as ruínas das comunidades palestinas, em 1948.

Após a assinatura do pacto institucional entre o FNJ e Israel, em 1961, reafirma Davis, estado e entidade se tornaram “parceiros em pé de quase igualdade, na administração de 93% das terras ocupadas” ainda antes de 1967 – isto é, expropriadas durante a Nakba ou “catástrofe”, através da limpeza étnica planejada dos árabes nativos. Contudo, as atividades do FNJ se estenderam muito além deste escopo, implicadas na destruição de diversas aldeias palestinas nos territórios capturados ilegalmente em 1967.

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Como parte de sua missão no desenvolvimento colonial de Israel, o FNJ continua a trabalhar na reivindicação das terras, sob pretexto de reflorestamento e conservação. Não obstante, o órgão supostamente beneficente enfrenta denúncias de políticas e práticas discriminatórias e de agir para deslocar as comunidades originárias. Dentre as graves violações, está o despejo arbitrário de populações inteiras, além do envolvimento na construção de assentamentos exclusivamente judaicos nos territórios palestinos ocupados. Segundo Davis, os projetos ambientais do FNJ são usados para encobrir tais crimes. “O Fundo Nacional Judaico busca omitir a natureza verdadeira do apartheid israelense sob o véu de ações ambientais”.

Sabemos ainda que boa parte dos projetos de “reflorestamento” supervisionados pelo FNJ são batizados em homenagem a outros países, como Parque Canadá, Parque Grã-Bretanha, Bosque Sul-africano, entre outros. Trata-se de um esquema de relações pública que retrata o apartheid israelense como “única democracia no Oriente Médio”. Não obstante, à sombra destes projetos repousa uma história sinistra do FNJ. A maioria das florestas plantadas pela organização foram estabelecidas sobre os escombros de cerca de 500 aldeias palestinas, com registros fotográficos que não deixam dúvida sobre sua existência histórica nas terras expropriadas. Davis reuniu tais evidências por meio de seu trabalho de campo, a despeito dos esforços pertinazes do FNJ para encobrir crimes de guerra e lesa-humanidade.

Por exemplo, o Parque Canadá foi alojado sobre as ruínas de três aldeias palestinas destruídas: ‘Imwas, Yalu e Beit Nabu. No caso de ‘Imwas – completamente aniquilada pelas ações coloniais sionistas –, a única estrutura sobrevivente é o santuário de Abu ‘Ubydah Ibn Al-Jarrah.

“O plantio do Parque Grã-Bretanha sobre terras de aldeias árabe-palestinas obliteradas, dentre as quais ‘Ajjur, e a imposição de instalações recreativas nas florestas do Fundo Nacional Judaico não podem ser descritos como ‘beneficentes’ e não deveriam receber isenção fiscal conforme a lei britânica. Muito ao contrário, devem ser consideradas como atos e políticas de cumplicidade a crimes de guerra”, elucida Davis.

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O livro expõe ao público os esforços de Israel para encobrir crimes passados e presentes contra os palestinos. Como reivindica Davis, o Fundo Nacional Judaico deve ser responsabilizado e seu status de entidade beneficente registrada na ONU deve ser revisto, mediante reconhecimento de sua cumplicidade com crimes hediondos de limpeza étnica na Palestina. Além disso, o livro ilustra a cumplicidade ativa de países da comunidade internacional à expansão colonial sionista, cujos recursos contribuem diretamente a esses projetos “ambientais”.

O livro JNF/KKL: A Charity Complicit with Ethnic Cleansing foi publicado pela Editora MEMO em Londres nesta segunda-feira, 9 de janeiro de 2023, durante evento que contou com a presença do autor, Uri Davis, e dos pesquisadores Ilan Pappé e Nur Masalha.

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