Mais de 200 palestinos da aldeia beduína de Khan al-Ahmar, leste de Jerusalém ocupada, estão sob risco de perder suas casas e fontes de subsistência, à medida que o novo governo de Israel planeja implementar a demolição e despovoamento da comunidade no futuro próximo.
Em 29 de setembro, a Suprema Corte deferiu um pedido da entidade colonial Regavim, liderada por Bezalel Smotrich – ministro das Finanças e líder do partido Sionismo Religioso – para que o premiê e ministro da Defesa esclareçam aos tribunais a razão para não exercer ordens emitidas há dois anos, contra a aldeia.
O judiciário sionista conferiu um novo prazo, que se encerra em fevereiro.
Segundo o jornal israelense Yedioth Ahronoth, o governo tem duas semanas para responder ao apelo da Regavim, deixando os residentes em estado de ansiedade contínua.
A aldeia beduína situa-se perto dos assentamentos ilegais de Ma’ale Adumim e Kfar Adumim, com uma área de 40 dunams (40 mil m²), e abriga ao menos 40 famílias que vivem em tendas e casas de latão, além de caravanas financiadas pela União Europeia.
Para despejar as famílias, membros do Knesset (parlamento), sobretudo do partido de extrema-direita Otzma Yehudit (Poder Judeu), chefiado pelo ministro de Segurança Nacional Itamar Ben Gvir, organizaram no domingo (15) uma visita às terras supostamente destinadas à relocação à força dos residentes de Khan al-Ahmar, em meio a medidas rigorosas de segurança.
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Eid Khamis, porta-voz da comunidade palestina, reiterou que o governo aplica medidas racistas como preparativo ao despejo nos próximos dias. Em entrevista à agência Safa, Khamis explicou que as medidas mais notáveis são o passeio armado dos congressistas e a escalada dos ataques coloniais contra a aldeia.
Khamis alertou que Ben Gvir e Smotrich veem a evacuação de Khan al-Ahmar como prioridade, a fim de implementar o projeto de assentamentos ilegais conhecido como E1, a leste da cidade ocupada de Jerusalém.
Segundo o porta-voz, os residentes vivem em situação de medo, agravada pela ascensão de um novo governo de ultradireita em Israel, empossado em 29 de dezembro.
“Todos estão apreensivos”, relatou Khamis. “Os residentes não conseguem dormir, sobretudo, mulheres e crianças”.
Khamis convidou cônsules, embaixadores e diplomatas europeus a visitar a aldeia, antes de sua demolição, para se informar sobre as políticas discriminatórias de Israel.
Khan al-Ahmar é central à vida das comunidades beduínas a leste de Jerusalém; caso destruída, Israel avançará com facilidade às outras localidades. A aldeia tem uma escola que provê ensino a 200 estudantes, entre meninos e meninas, de diversas comunidades beduínas da região.
A Administração Civil de Israel – órgão que comanda a gestão dos assentamentos ilegais – alega reassentar os residentes de Khan al-Ahmar a 300 metros de distância de seu endereço atual.
No entanto, a implementação dos planos abrirá caminho ao projeto E1, cujo objetivo é dividir a Cisjordânia em duas, incluindo ao apartar Jerusalém do restante do território palestino.
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