Na história da Palestina existem muitos grandes líderes que sacrificaram tudo para defender sua terra e sua causa. No entanto, sabemos muito pouco sobre eles e sua história quase esquecida. É claro, há muitas razões para isso: ignorância, indiferença e negligência das autoridades responsáveis. Infelizmente, em alguns casos, tamanha negligência é deliberada. Por décadas, a história de sua luta desapareceu das páginas dos livros e não obteve seus direitos de divulgação na imprensa. Portanto, como pesquisadores e profissionais de mídia, temos o dever de estudar e pesquisar a biografia desses heróis para transmitir seu legado às novas gerações e erguer um farol para a libertação da Palestina.
(Episódio 2)
Bahjat Abu Gharbiyah
“Lutei na Grande Revolução Palestina [1936-1939] e testemunhei a Nakba em 1948; então me perguntam: O que vocês conquistaram? Eu digo: Manter a resistência por tanto tempo é nossa maior conquista, após 60 anos desde a criação de seu estado terrorista, os sionistas não foram capazes de quebrar a resistência. Esta é a verdadeira vitória. Clamo às próximas gerações que sigam este caminho, até a libertação de toda a Palestina e o fim do estado ocupante”.
Tais são as palavras de Bahjat Abu Gharbiyah – o sheikh dos militantes palestinos –, encontradas em sua biografia de duas mil páginas, nas quais depositou esperanças, dores e sonhos; recordou histórias de heroísmo e fé em Jerusalém; e denunciou conspirações de bastidores das gangues sionistas e seus aliados regionais e internacionais.
Bahjat Abu Gharbiyah nasceu na cidade de Khan Yunis, na Faixa de Gaza, em 1916. Suas raízes remontam a uma antiga família de Hebron (Al-Khalil). Participou de todas as etapas da luta armada palestina, sobretudo a Grande Revolução da década de 1930 e a resistência contra a Nakba – ou “catástrofe”, como ficou conhecida a criação do Estado de Israel, mediante limpeza étnica, em maio de 1948. Travou diversas batalhas, incluindo a célebre batalha de al-Qastal. Foi ferido e encarcerado diversas vezes ao longo da vida.
Em 1949, Abu Gharbiyah ingressou no Partido Socialista Árabe Ba’ath da Jordânia. “O que mais me atraiu no Ba’ath foi seu chamado ao movimento nacional, para levar à mobilização de uma organização árabe capaz de atingir seus objetivos, sobretudo a união e libertação da Palestina”, comentou Abu Gharbiyah. Neste contexto, tornou-se membro da liderança regional do partido, sob a crença na centralidade da causa palestina e na necessidade de união em todo o mundo árabe para conquistar seus objetivos.
Sob perseguição política na Jordânia, Abu Gharbiyah foi detido mais de uma vez pela inteligência local e seu paradeiro exato se tornou desconhecido entre 1957 e 1959. Após declaração da lei marcial na monarquia hachemita, Abu Gharbiyah foi formalmente preso e mantido em custódia em condições precárias. Após outros dois anos de cárcere, foi libertado sob anistia geral.
Abu Gharbiyah também exerceu um papel fundamental no estabelecimento da Organização de Libertação da Palestina (OLP) e do Exército de Libertação Nacional (ELN), junto do notório líder político Ahmad al-Shukeiri. Abu Gharbiyah foi eleito membro do Comitê Executivo da entidade nacional e do Conselho Nacional Palestino. Não obstante, renunciou de suas funções na OLP em 1991, em protesto ao reconhecimento do estado sionista por Yasser Arafat e à Resolução nº 242 do Conselho de Segurança das Nações Unidas.
Após a derrota de 1967 – quando Israel ocupou toda a Palestina, incluindo a cidade de Jerusalém –, Abu Gharbiyah tentou reunir residentes para formar um núcleo de resistência. No entanto, a queda da cidade antecedeu seus esforços. “Foi o pior dia da minha vida”, recordou mais tarde. “Minha amada Jerusalém caiu perante meus olhos e não pude fazer nada. Então, parti com companheiros desconhecidos … ao desconhecido”.
Abu Gharbiyah teve de deixar a cidade e se exilar em Amã. Em 1993, publicou a primeira parte de suas memórias; em 2004, concluiu a obra, com seu volume histórico intitulado “Da Nakba à Intifada”. Contudo, o departamento de cultura da Jordânia censurou parte de seus escritos por razões jamais reveladas.
Em 26 de janeiro de 2012, faleceu o “sheikh dos militantes palestinos” – Bahjat Abu Gharbiyah. Como legado, deixou 96 anos de luta e amor por sua terra. Todavia, foi sepultado na diáspora, em Amã, capital da Jordânia.