A mistura de referências e vivências de Yara Lapidus é o que torna sua música tão cosmopolita. A cantorafranco-libanesa tem um afeto especial, ainda, pelo Brasil. Em entrevista concedida à ANBA no bairro da Bela Vista, na capital paulista, ela lembra que o seu primeiro nome, por exemplo, veio da língua indígena tupi e foi apresentado para a mãe dela por uma brasileira. Além disso, esta não é a primeira vez que Lapidus, que mora na França, vem ao País. “Tenho muitos primos aqui, porque uma tia por parte de pai se casou com um brasileiro e veio morar no Rio de Janeiro”, revelou ela.
A intimidade com o País e os brasileiros também rendeu admiração por artistas daqui. “Meu preferido é o Chico César”, revelou ela sobre o músico com quem já gravou duas canções. A primeira, “Tenho Saudade de Você”, foi escrita pelo brasileiro. No segundo encontro, Lapidus propôs uma troca: “L’amor C’est La Vie” foi escrita pela franco-libanesa e musicada pelo brasileiro.
Beirute na memória
A artista conta que nasceu na capital libanesa, mas que os conflitos locais empurraram a família para diversos deslocamentos. Assim, ainda na infância e adolescência, ela chegou a viver em países como o Inglaterra e Egito. Na última despedida do país do Levante, aos 18 anos, Lapidus se mudou de vez para a França. “Senti muito por ter deixado meu país, que eu amava, e meus amigos. Sabe aquele sentimento de ‘eu era feliz e não sabia’?”, relembrou.
Por outro lado, o afastamento das origens foi o que fez a cantora redescobrir as canções árabes. “Só depois que deixei o Líbano eu comecei a me interessar por música árabe, por exemplo. Quando morava lá, eu achava muito feio. Só queria ouvir músicos internacionais, como David Bowie. Mas quando estava longe de lá, eu comecei a entender mais sobre as letras, o estilo”, contou ela.
A cantora aprendeu a tocar instrumentos ainda criança, aos seis anos, quando sua mãe a ensinou a tocar violão. Mais tarde veio o piano e, então, uma pausa. Em paralelo, também foi cedo que a artista começou a escrever para tentar registrar seus sentimentos. Quando ela percebeu que podia unir as duas coisas, as poesias e diários se tornaram sua própria música.
De volta às cores
Foi esse mix de influências e vivências que a artista levou para a carreira. “Eu cresci com a ideia de misturar a mim mesma com outros países e me tornar parte disse porque era a única forma para continuar. Para mim, é por isso que em minhas músicas agora você vê isso. Isso se reflete no meu trabalho, as culturas que eu conheci e eu amo isso. Não há fronteiras”, revelou ela.
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Ao longo da carreira, a cantora já lançou quatro discos. O mais recente deles, Back to Colors, foi lançado neste janeiro. O álbum busca resgatar melodias e a energia de alto astral que a artista expressa no dia a dia. No CD, há canções em francês, árabe, inglês e, com trechos em português, como no single “L’amor c’est la vie”. “Na verdade, eu sonho em francês. Estou totalmente imersa na cultura francesa, no Líbano eu já estudava em uma escola francesa. Mesmo quando quero cantar em árabe ou inglês, eu começo escrevendo em francês, e aí sim adapto para outras línguas”, revelou Lapidus.
Brasil e os brasileiros
Em solo brasileiro, Lapidus já tem shows na agenda, mas quer mais. Um dos shows será neste sábado (28), no Bar Alto, no bairro da Vila Madalena, na capital paulista. “Já tenho duas apresentações confirmadas, mas quero me apresentar mais no Brasil. Estou aberta para novas parcerias com músicos brasileiros também, por que não? Eu gosto muito de trabalhar com artistas latinos”, declarou a cantora.
Entre as grandes referências da cantora, está Tom Jobim. “Como você conseguiria fazer melhor do que o que ele fez? Ele colocou as músicas brasileiras em todos os países do mundo, em tantas línguas diferentes”, lembra ela. A cantora também está preparando seu próximo EP. Contudo, ainda há um longo caminho para divulgar o mais recente disco. “É como se fosse o meu filho, sabe? Um recém-nascido”, concluiu ela.
Publicado originalmente em Anba