Mochilão MEMO: Conferência do Sindicato de Jornalistas Palestinos

No Brasil, o dia 29 de janeiro é lembrado como Dia do Jornalista. A data foi escolhida em memória de José do Patrocínio, que morreu neste dia, no ano de 1905. Ainda hoje, José do Patrocínio é considerado um dos maiores jornalistas da abolição. Coincidentemente, fomos convidados pelo amigo Mousa Alshaa, secretário do Sindicato de Jornalistas Palestinos (SJP), para participar de uma conferência sobre as violações de direitos humanos cometidas contra os profissionais de imprensa. O evento foi realizado na sede do Crescente Vermelho da Palestina, nas cidades de Ramallah e Gaza simultaneamente.

Emissário da Autoridade Palestina (AP) lê carta de participação do presidente Mahmoud Abbas, durante conferência do Sindicato dos Jornalistas Palestinos, em Ramallah, Cisjordânia ocupada, 29 de janeiro de 2023 [Lucas Siqueira/MEMO]

Ao longo do tempo que trabalho com jornalistas palestinos, venho reportando as violações que esses profissionais enfrentam diariamente no exercício de sua profissão. Durante a conferência, conhecemos o jornalista Hanzim Manoly, que gentilmente traduziu todos os pronunciamentos a “nosotros”, em espanhol. Logo de início me emocionei profundamente, pois a primeira imagem exibida foi de Muath Armaneh, o primeiro jornalista que entrevistei na Palestina.

Após ver o vídeo do resgate de Muath – jornalista que se tornou amigo –, foram apresentadas imagens de Yasser Murtaja, assassinado na Grande Marcha do Retorno (GMR), em 2018. Não tive a honra de conhecer Murtaja; porém, conheço muito bem seu trabalho e sua história. No ano passado, seu irmão, Motassem Murtaja, também me concedeu uma entrevista.

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Quando comecei a escrever sobre as violações dos direitos humanos na Palestina, percebi que ferir, prender e matar profissionais de imprensa são estratégias do estado colonial sionista para silenciar os “mensageiros da paz” – como Hanzim, nosso tradutor, os chama. Segundo dados fornecidos durante a conferência, somente no ano de 2022, ao menos 900 crimes e violações foram cometidos contra o jornalismo palestino pelo regime de ocupação israelense.

Segue alguns dados:

(Para saber mais acesse a página do Sindicato dos Jornalistas Palestinos)

O SJP alertou também para escalada de violência no campo de refugiados de Jenin, como o que presenciamos na última semana. O caso mais recente mencionado, o qual emocionou a todos os 1500 presentes na conferência, aproximadamente, foi o assassinato da jornalista Shireen Abu Akleh, baleada na cabeça em 11 de maio de 2022, enquanto cobria uma invasão militar em Jenin. Outros casos de violência contra os profissionais de imprensa palestina foram mencionados durante a conferência. Vale recordar dos relatos de Janna Jihad e Adham Al-Hajjar.

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Os ataques da ocupação israelense contra jornalistas palestinos se tornaram um caso tão pessoal que, em 2022, iniciei uma pesquisa científica sobre o assunto. Neste entremeio, me deparei com uma situação adversa de reclamações de profissionais sobre a liberdade de imprensa durante a Copa do Mundo do Catar. No entanto, desta vez, os reclamantes eram repórteres israelenses, que decidiram batizar o evento de “Copa do Ódio”. O próprio governo de Israel aconselhou aos jornalistas e torcedores israelenses que não usassem símbolos ou bandeiras do Estado sionista e que evitassem o idioma hebraico em público. Após anos escrevendo sobre as violações contra jornalistas palestinos e conhecendo tão intimamente suas histórias, não pude deixar minha indignação de lado e acabei escrevendo um artigo sobre isso, intitulado Intifada das Chuteiras, no que relato como é desproporcional o que palestinos e israelenses consideram uma violação da liberdade de imprensa.

Liberdade de Imprensa em Israel – Cartoon [Sabaaneh / Monitor do Oriente Médio]

A violência contra os jornalistas palestinos é parte dos esforços israelenses para impedir que os crimes da ocupação sejam reportados ao mundo. Intimidar, prender, agredir e violentar esses profissionais é o modus operandi sionista para calar a voz palestina. Hoje, em um dia tão especial para todos nós, “mensageiros da paz”, convido todos os colegas a refletirem: Como podemos ajudar nossos colegas da Palestina ocupada a conquistarem sua própria abolição, como fez José do Patrocínio?

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Nota: Todos os textos do Mochilão MEMO são produzidos em trânsito; por gentileza, peço que compreenda que pode haver falhas ou erros que serão corrigidos ao longo da viagem. Obrigado a todos pela compreensão.

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