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Soldados israelenses em Gaza ostentam má conduta

É hora de as redes sociais darem fim a seu viés antipalestino

Aplicativos de redes sociais [Ali Balikçi/Agência Anadolu]

Tente pesquisar no Facebook este nome, Hassan Nasrallah; o resultado virá com um alerta: “Está certo de que quer continuar? O termo procurado é eventualmente associado a atividades de Indivíduos e Organizações Perigosas, proibidas no Facebook”. O alerta não explica que mandou emiti-lo, por exemplo, muito menos propõe embasamento à política. Apenas dá ao usuário uma mensagem elusiva sobre os riscos em potencial ao procurar o termo, ao associá-lo a “Indivíduos e Organizações Perigosas”. E por que caixa alta nas palavras em questão? Por que a ênfase?

Caso você não conheça Hassan Nasrallah, aqui vai uma breve biografia: trata-se do líder de um partido político libanês chamado Hezbollah. O movimento opera legalmente no país, conforme o instável sistema político do estado levantino. O Hezbollah venceu 15 assentos legislativos nas eleições de 2021 e, junto de aliados, tem um total de 62 das 128 vagas da câmara. O Hezbollah, vale notar, exerce um papel de destaque ao combater Israel pela ocupação de partes do sul do Líbano – no ano 2000, as ações do forte braço armado do grupo forçaram a retirada das tropas estrangeiras. Alguns países – dentre os quais, os Estados Unidos, designaram o Hezbollah como organização terrorista; outros – como o próprio Líbano – consideram-no um grupo paramilitar. Contudo, o sr. Nasrallah não é conhecido por envolvimento pessoal, muito menos condenação, por atos terroristas. Fora isso, vale dizer que ele e seu partido mantêm laços com Irã e apoio à luta de resistência palestina. Não busco defendê-lo neste artigo, mas enumerar os fatos.

LEIA: Facebook exibe mensagem de alerta a usuários na pesquisa por líder do Hezbollah

Por outro, tente pesquisar o termo Itamar Ben-Gvir nas redes sociais: tudo vai bem. Não existe alerta algum. Ben-Gvir – caso o leitor não o conheça – é um membro do parlamento israelense (Knesset); hoje, ministro de Segurança Nacional sob o governo do premiê Benjamin Netanyahu. Ben-Gvir é também um autoproclamado supremacista judeu, com longo histórico de discursos de ódio, apoio aos assentamentos ilegais nos territórios ocupados, disseminação de propaganda contrária aos direitos palestinos e muito mais. No ano de 2007, como ativista político, Ben-Gvir foi condenado por incitação ao terrorismo, ao ser flagrado com placas que diziam “Expulsem o inimigo árabe”. Em agosto de 2022, em entrevista a uma rádio israelense, o então parlamentar disse que, caso se coligasse ao governo, deportaria “qualquer um que trabalhe contra Israel de dentro de Israel”. Agora, que ele pertence de fato a um dos governos mais fascistas da história de Israel, vale levar a sério suas ameaças e provocações racistas.

A política israelense contemporânea é uma dura lembrança de que a limpeza étnica sempre foi parte integral da própria ideia por trás do Estado sionista. Quando foi criado, em maio de 1948, na ocasião da Nakba ou “catástrofe”, milhares de civis palestinos foram expulsos de suas terras e casas – algo de que Ben-Gvir expressa orgulho e parece tentar emular e amplificar!

Os árabes, que o sr. Ben-Gvir quer tanto expulsar, são a população nativa da Palestina, além de 21% da população presente hoje dentro das fronteiras do território designado Israel. Cerca de 5.5 milhões de palestinos vivem também, sob ocupação e cerco militar, na Cisjordânia, Faixa de Gaza e Jerusalém Oriental – terras consideradas por Ben-Gvir como parte de Israel, a serem em breve anexadas à força, ao invés de territórios palestinos ocupados, como dizem resoluções da ONU e o direito internacional. Já como deputado, Ben-Gvir apontou uma arma a residentes do bairro palestino de Sheikh Jarrah, em Jerusalém ocupada. Na semana passada, após o massacre sionista no campo de refugiados de Jenin, Ben-Gvir reforçou apelos para que judeus israelenses sejam armados – uma proposta perigosíssima, com apoio de seu chefe, Benjamin Netanyahu. Empossado como ministro, seu primeiro ato público foi uma invasão, sob escolta, ao complexo islâmico da Mesquita de Al-Aqsa.

Como se não bastasse, Ben-Gvir é notório por exaltar terroristas como Meir Kahane, fundador do grupo Koch, banido até mesmo em Israel. Segundo relatos, um retrato de Baruch Goldstein ficava pendurado na sala de estar de Ben-Gvir. Terrorista na prática, o sr. Goldstein assassinou 29 palestinos e feriu 125 outros que oravam na Mesquita Abraâmica (Túmulo dos Patriarcas) em 1994. Ben-Gvir, como indivíduo, é conhecido por ser violento, antidemocrático e vulgar.

Obviamente, a questão subjacente ao alerta do Facebook sobre a busca a Hassan Nasrallah vai muito além do sr. Nasrallah e do sr. Ben-Gvir. Os termos de uso do gigante das redes sociais não se aplicam igualmente a todos os usuários no que se refere a Israel e Palestina.

O conglomerado Meta – que controla Facebook, Instagram, WhatsApp – requereu a uma firma terceirizada de consultoria que analisasse acusações de que as redes de fato “prejudicam” os direitos humanos do povo palestino. O relatório de setembro de 2022 abordou, por exemplo, o brutal bombardeio israelense à Faixa de Gaza no ano anterior e descobriu que o Facebook foi realmente enviesado. Muitos usuários do Facebook e Instagram, que buscavam documentar a violência da ocupação israelense, viram postagens deletadas “espontaneamente”. Embora o relatório alegue viés “não-intencional”, não se nega o fato que há inclinação ideológica, mesmo hoje. Em 2021, funcionários do Facebook advertiram que a empresa é enviesada não somente contra palestinos, mas também contra árabes e muçulmanos.

LEIA: Facebook viola direitos humanos de usuários palestinos, confirma relatório

Se este é o trabalho de moderadores humanos ou inteligência artificial pouco importa.

O Facebook e outras plataformas das redes sociais possibilitaram, é verdade, que os palestinos oprimidos superassem barreiras para emitir sua mensagem e transmitir os fatos em campo, ao ajudar a expor o apartheid israelense. No entanto, tamanho viés antipalestino para ser parte do próprio código-fonte das plataformas corporativas online, como se mostra pelo alerta proferido pelos trabalhadores. Certamente, não há liberdade de expressão – não para todos. O exemplo do sr. Nasrallah e do sr. Ben-Gvir como termos de pesquisa é bastante claro.

Nesta era das fake news, a moderação enviesada do conteúdo pode facilmente degenerar-se na difusão de mentiras e discursos de ódio e violência, ao invés de suprimi-los em favor da verdade e dos direitos universais dos povos. Não sugiro que o Facebook manifeste apoio aberto à causa palestina. Todavia, rechaçar a ocupação militar é parte consagrada da liberdade de expressão – exatamente o caso da Palestina, onde Israel é uma força flagrantemente ocupante. Para tentar solucionar a questão da inclinação ideológica das redes, quem sabe, vale às plataformas online agregar a Declaração Universal dos Direitos Humanos a seus termos e políticas de moderação. Ou será que estão acima destes ideais?

As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.

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