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Mostra em Trípoli analisa 70 anos da cultura de consumo da Líbia

Uma nova mostra em Trípoli analisa os 70 anos da cultura de consumo da Líbia. [Arquivo pessoal/Najlaa Elageli]
Uma nova mostra em Trípoli analisa os 70 anos da cultura de consumo da Líbia. [Arquivo pessoal/Najlaa Elageli]

O Projeto Despensa Líbia na cidade velha de Trípoli recupera as histórias esquecidas associadas à cultura de consumo da Líbia desde o início dos anos 1960 até o final dos anos 90. Foi inaugurado em 27 de fevereiro na Antiga Prisão Turca na Praça Signora Maria. Com o objetivo de ajudar a resgatar histórias esquecidas e associadas à cultura de consumo do país do norte da África, a mostra apresenta uma série de produtos que testemunham a evolução da sociedade líbia a partir daquela que foi a era de ouro das indústrias líbias após a independência e a descoberta do petróleo .

A mostra inclui representações e reproduções de marcas de empresas, logotipos da indústria, cartazes e gráficos publicitários. O objetivo é preservar e documentar a memória visual da Líbia para as gerações futuras.

“Quando pensamos no projeto há quatro anos, era uma época em que o país estava realmente dividido pela guerra civil e queríamos algo que unisse todos os líbios”, disse-me a curadora da mostra, Najlaa Elageli. “Queríamos amarrar o legado líbio ao patrimônio moderno, apesar do que vem acontecendo no país nos últimos dezesseis anos.”

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A ideia da mostra partiu de conversas entre a londrina Elageli e a artista tripolitana Hadia Gana. As duas observaram que os líbios adoravam usar a mídia social para compartilhar imagens de produtos fabricados na Líbia no passado, e os comentários eram nostálgicos e sinceros.

Uma nova mostra em Trípoli analisa os 70 anos da cultura de consumo da Líbia. [Foto de Najlaa Elageli]Uma nova mostra em Trípoli analisa os 70 anos da cultura de consumo da Líbia. [Foto de Najlaa Elageli]

Uma nova mostra em Trípoli analisa os 70 anos da cultura de consumo da Líbia. [Foto de Najlaa Elageli]Uma nova mostra em Trípoli analisa os 70 anos da cultura de consumo da Líbia. [Foto de Najlaa Elageli]

No entanto, a ideia realmente se concretizou quando Gana passou a fazer parte do conselho de conservação da cidade velha, e um ex-lojista a abordou pedindo ajuda com seu depósito. “Encontramos um enorme tesouro de produtos líbios do passado”, contou Gana. “São produtos que deixaram os líbios orgulhosos. Eram coisas como um refrigerante de cola, um tapete, cadernos escolares, doces caseiros e pedaços de pano. Comecei a pensar que seria uma pena mantê-lo escondido do olhar do público, então resolvemos organizar os itens e pesquisar cada um deles.”

O depósito serviu de base para a exposição, que contou com diversas peças realizadas pela artista e designer gráfico Alla Budabbus, cuja prática artística sempre foi baseada na cultura popular líbia. “Os produtos mostram claramente o que aconteceu na Líbia em termos de sociedade, política e cultura, e o impacto que tiveram na psique coletiva da Líbia”, disse Elageli.

Um exemplo é a evolução do desenho de um extrato de tomate produzido na Líbia, feito logo após a independência. Os gráficos passaram de um estilo italiano de inspiração colonial para um design e palavras muito mais líbios durante a era Kadafi, quando todas as empresas privadas foram assumidas pelo regime e nacionalizadas. “Você pode realmente ver visualmente como a propaganda de uma certa ideologia foi transmitida nesses produtos alimentícios e como ela mudou ao longo dos anos”, destacou Budabbus.

A memória coletiva e a importância do arquivo

Esta exposição será particularmente relevante para a geração mais jovem da Líbia, pois os jovens líbios têm muitos pontos cegos quando se trata de sua própria identidade. “Devido à história do país, não houve muita comunicação entre as gerações”, disse Gana. “Não temos arquivos e, se temos, estão bem escondidos. Parece uma amnésia geral.”

Budabbus acrescentou que as pessoas na faixa dos 20 anos e no início da adolescência não têm ideia de que existiam várias indústrias na Líbia porque agora tudo é importado. “Durante a década de 1980, a Líbia costumava produzir muitos de seus próprios produtos. Na década de 90, depois que nos abrimos para a economia internacional, passamos a depender mais da importação de bens do que de nossa própria produção.”

Graças ao programa, porém, surgiram novos laços com a geração mais jovem de líbios. Um grupo de jovens designers tripolitanos entrou em cena com sua própria pesquisa independente sobre logotipos da Líbia e foram convidados para uma palestra como parte da programação colateral do programa.

A resposta do público

Budabbus acredita que esta mostra está fora da caixa em comparação com o que eles estão acostumados a ter em galerias e centros de arte na Líbia. “Tem esse aspecto interativo onde as pessoas tocam os objetos e são tocadas ao mesmo tempo. Foi realmente incrível ver como as famílias, os jovens, adolescentes, avós, são afetados da maneira que foram. Conseguimos desencadear memórias, olhando para esses produtos com os quais crescemos.”

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Uma nova mostra em Trípoli analisa os 70 anos da cultura de consumo da Líbia. [Arquivo pessoal/Najlaa Elageli]

Uma nova mostra em Trípoli analisa os 70 anos da cultura de consumo da Líbia. [Arquivo pessoal/Najlaa Elageli]

De fato, a exposição pretendia atingir uma seção transversal do público líbio. Segundo Elageli, o show pretendia ser o mais amigável, democrático e inclusivo possível. “O objetivo do projeto não é apenas fazer uma exposição one-shot, mas também coletar o máximo de informações possível do público. É muito importante abrir a conversa para criar um banco de dados desse material que possa ser acessado por todos.”

O trio planeja ter o Projeto Despensa Líbia como um show itinerante e movê-lo para Benghazi, Misurata e o sul da Líbia para que possam coletar mais reações e memórias de diferentes setores da sociedade líbia. Uma publicação coletando os gráficos e sua história também deve ser compilada. “A esperança para a mostra é que possa provocar um sentimento de um chão comum na Líbia”, concluiu Elageli. “Todo esse projeto é sobre a identidade de uma nação e sobre a força que vem de conhecer a própria história..”

Budabbus está feliz que a mostra colocou um sorriso no rosto das pessoas nos momentos mais difíceis. “Vi lágrimas nos olhos das pessoas. Vi mãos no coração. Isso significa muito, pois os líbios ainda sofrem com suas experiências anteriores de guerra. Os visitantes deixaram a exposição com um sorriso. O que mais podemos pedir?”

As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.

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