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Tentativas de suicídio nas prisões do Egito levam a pedidos por inquérito internacional

Policial egípcio entrando na prisão de Tora, na capital egípcia, Cairo, em 11 de fevereiro de 2020 [Khaled Desouki/AFP/Getty Images]

A organização Democracy for the Arab World Now (DAWN) pediu ao Conselho de Direitos Humanos da ONU que “investigue casos graves de abuso recentemente reportados na notória prisão de Badr no Egito”.

A entidade observou que três mensagens vazadas de prisioneiros em custódia na Ala 3 da prisão de Badr foram corroboradas em entrevista com uma fonte que tem amigos e parentes detidos no local, bem como relatos de abusos generalizados e tentativas de suicídio no complexo.

Em comunicado divulgado nesta terça-feira (14), a organização internacional instou a ONU a “realizar uma investigação imparcial e independente sobre as alegações de abuso dentro da prisão de Badr, incluindo uma visita ao complexo”.

“O Conselho de Direitos Humanos da ONU deve organizar uma investigação para liderar tais esforços e realizar um inquérito completo sobre os abusos generalizados e sistemáticos que ocorrem dentro das prisões em todo o país”, prosseguiu a nota.

Era Sisi - Cartoon [Carlos Latuff/Monitor do Oriente Médio]

Era Sisi – Cartoon [Carlos Latuff/Monitor do Oriente Médio]

Jon Hoffman, diretor de pesquisa do DAWN, afirmou: “As mensagens vazadas da prisão de Badr detalhando abusos horríveis destacam tanto a crescente desesperança que os detentos sentem quanto a completa falha das supostas reformas prisionais do presidente egípcio [Abdel Fattah] el-Sisi. As revelações das condições graves dentro do complexo são emblemáticas de abusos mais amplos e sistêmicos em curso nas prisões do país e merecem uma análise detalhada”.

“A prisão de Badr simboliza os fracassos do governo de Sisi e seu flagrante desrespeito pelos direitos e vidas do povo egípcio. Os prisioneiros que sofrem as piores privações sofrem perigo de vida, tortura e retaliação brutal para que o mundo saiba pelo que passam; devemos exigir ao menos uma investigação internacional”, acrescentou Hoffman.

LEIA: Nova carta vazada da prisão egípcia de Badr revela tentativas de suicídio

A primeira carta de um prisioneiros (sem data), contrabandeada da ala carcerária em Badr, emergiu ao público no final de fevereiro, com detalhes de violações, incluindo proibição de visitas familiares, alimentação indevida, condições sanitárias precárias e negligência médica.

Segundo a carta, após revista nas celas, um prisioneiro, Hussam Abu Shorouk, enforcou-se e dois outros, Mohamed Turk Abu Yara e Awad Noaman, tentaram se suicidar cortando os pulsos e foram transferidos para o ambulatório local.

A família de Awad Noaman confirmou nas redes sociais sua tentativa de suicídio. Sua esposa visitou Badr após saber do incidente e perguntou aos administradores penitenciários sobre sua condição. Segundo a esposa, as autoridades negaram as tentativas de suicídio, mas a impediram a comunicação com o marido.

Duas outras cartas vazadas – datadas de 1º e 2 de março – confirmaram os abusos dentro da prisão. A segunda carta observa que as autoridades continuam a negar cuidados médicos aos presos, apesar das condições precárias de numerosos prisioneiros, sobretudo idosos.

A terceira carta reafirma que a administração começou a transferir alguns prisioneiros para outros complexos para tentar acabar com os atos de protesto.

“As autoridades da prisão continuam a se recusar a fornecer cuidados médicos a detentos em extrema necessidade de assistência. Em resposta e protesto contra os abusos contínuos, os prisioneiros queimam cobertores”, reportou a terceira carta.

Em 2021, o presidente e general egípcio Abdel Fattah el-Sisi anunciou o lançamento de uma nova “Estratégia Nacional de Direitos Humanos” que incluía planos para “modernizar” as penitenciárias. Como parte do plano, Sisi anunciou a abertura de novas prisões baseadas no “modelo americano” que garantiriam a “proteção a saúde e bem-estar dos prisioneiros”.

A prisão de Badr é considerada um dos novos complexos.

Sisi chegou ao poder via golpe de estado, em 2013, após destituir o presidente eleito Mohamed Morsi. Desde então, é denunciado por graves violações de direitos humanos.

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