O investimento da Arábia Saudita no Credit Suisse foi quase totalmente perdido, com estimativa de prejuízo em torno de US$ 1,5 bilhão, conforme reportagem do Wall Street Journal.
Mohammed Bin Salman – príncipe herdeiro e governante de facto do regime árabe – ordenou ao Banco Nacional Saudita que fizesse o investimento no ano passado, após aumento no preço do petróleo. A ordem de Bin Salman contrapôs conselhos de assessores e especialistas.
O investimento saudita no Credit Suisse deveria servir como porta de entrada ao reino no setor bancário global, ao consolidar um status emergente como potência de investimentos abastecida por petróleo. O investimento, porém, se perdeu, com a fusão de emergência do Credit Suisse com o grupo financeiro UBS.
Na semana passada, o Credit Suisse se tornou o mais recente banco a sofrer uma grave queda nos níveis de confiança, fazendo com que suas ações e títulos despencassem em valor. Clientes se apressaram em retirar seu dinheiro.
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Conforme o Wall Street Journal, o banco sofreu êxodo de até US$ 10 bilhões por dia na semana passada. Reguladores temiam que o banco se tornasse insolvente caso não houvesse solução ao problema. O banco UBS – também suíço – interveio para salvar o Credit Suisse.
O colapso do Credit Suisse também aniquilou bilhões de dólares em investimentos do fundo soberano do Catar e da família Olayan, radicada na Arábia Saudita. A perda coloca os estados do Golfo entre aqueles com maior prejuízo com a queda vertiginosa das ações desde o colapso do Silicon Valley Bank (SVB) na última semana passada.
O efeito cascata superou a cadeia de montanhas do Vale do Silício e chegou à Suíça.
Acredita-se que as atuais perdas sejam reminiscentes de como os estados do Golfo queimaram investimentos em bancos ocidentais e fundos de cobertura durante a crise de 2007 e 2008. O valor dos ativos estrangeiros dos países do Conselho de Cooperação do Golfo despencou em US$ 100 bilhões em 2008, chegando a cerca de US$ 1,2 trilhão.
Um analista econômico do Oriente Médio observou à reportagem que os bancos sauditas não investiam pesadamente em bancos estrangeiros até pouco tempo. Porém, há agora ambição da coroa em obter participação no setor bancário global – parte de uma agenda de diversificação econômica, que inclui o aumento do portfólio do Fundo de Investimento Público (PIF).
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O risco de investir no Credit Suisse foi mencionado por executivos do fundo soberano saudita. Alguns economistas apresentaram até mesmo questões legais para prevenir o príncipe herdeiro sobre o prejuízo em potencial.
Ao ignorar os alertas, o fundo saudita facilitou contato entre o Credit Suisse e o Banco Nacional Saudita – intimamente ligado ao governo. Em último caso, o próprio príncipe herdeiro deu sinal verde para o banco investir na Suíça.
A região do Golfo tem laços profundos com o Credit Suisse. O Catar – rico em gás natural – começou a comprar ações na instituição durante um período de volatilidade de 2008 e liderou um grupo de investidores privados que injetaram bilhões na empresa nas semanas seguintes ao colapso do Lehman Brothers. Hoje, a participação catari supera US$ 3 bilhões.