Na história da Palestina existem muitos grandes líderes que sacrificaram tudo para defender sua terra e sua causa. No entanto, sabemos muito pouco sobre eles e sua história quase esquecida. É claro, há muitas razões para isso: ignorância, indiferença e negligência das autoridades responsáveis. Infelizmente, em alguns casos, tamanha negligência é deliberada. Por décadas, a história de sua luta desapareceu das páginas dos livros e não obteve seus direitos de divulgação na imprensa. Portanto, como pesquisadores e profissionais de mídia, temos o dever de estudar e pesquisar a biografia desses heróis para transmitir seu legado às novas gerações e erguer um farol para a libertação da Palestina.
(Episódio 4)
Abd al-Rahim al-Hajj Muhammad
Abd al-Rahim al-Hajj Muhammad nasceu em 1892 na aldeia de Thinnaba, perto de Tulkarem. Sua família (al-Saif) era conhecida por séculos de luta. Segundo relatos, um de seus antepassados lutou ao lado de Saladino durante as Cruzadas; outro enfrentou as forças de Napoleão que tentavam ocupar a cidade de Acre; porém, foi preso e enforcado. Sua família possuía vastas porções de terra que se estendiam de leste a oeste, desde Thinnaba ao Mar Mediterrâneo.
Al-Hajj Muhammad trabalhou no comércio de grãos na década de 1920, após servir o exército otomano nas cidades de Trípoli e Beirute, durante a Primeira Guerra Mundial. Era conhecido como um comerciante benquisto pelas massas camponesas, devido a sua amizade e caridade para com a população. Seus contatos se difundiam por toda a região.
Anos de luta
Enquanto Izz al-Din al-Qassam proferia seus sermões sobre a resistência armada perante a ameaça sionista na Palestina histórica – na chamada Mesquita da Independência, na cidade de Haifa –, al-Hajj Muhammad fazia o mesmo na região de Tulkarem. Seu chamado obteve êxito entre camponeses e residentes da cidade. Neste entremeio, al-Hajj Muhammad passou a coletar doações para comprar armas e conduzir treinamentos secretos perto de Thinnaba, ao aproveitar sua experiência militar prévia sob comando otomano.
Al-Hajj foi um dos principais comandantes da Grande Revolução Palestina, ao preparar grupos cuja missão era eliminar soldados e agentes adversários e conduzir ataques aos assentamentos coloniais em Tulkarem e Jenin. Dentre seus alvos, estavam colheitas que abasteciam as tropas inimigas. Autoridades britânicas e gangues sionistas passaram a descrever a região entre Nablus, Jenin e Tulkarem como “Triângulo do Terror”, devido à eficácia de suas operações.
Com a morte do sheikh Izz al-Din al-Qassam, em 20 de novembro de 1935, muitos palestinos se convenceram da necessidade de erguer a bandeira da resistência armada. Uma das lideranças mais influentes foi justamente al-Hajj Muhammad.
As massas palestinas conduziram uma greve geral contra o Mandato Britânico e passaram então a adotar esforços da luta armada. Neste período, al-Hajj Muhammad – após adquirir armas francesas, turcas e alemãs – executou uma série de ataques a comboios britânicos e sionistas. Devido a seus contatos, obteve munição da Síria e do Líbano a preços baixíssimos.
Em outubro de 1936, após as autoridades britânicas impuserem uma valiosa recompensa sobre sua cabeça, al-Hajj Muhammad emigrou a Damasco, onde construiu laços com o movimento nacional sírio e libanês. Neste entremeio, passou a arrecadar armas e ajuda financeira para regressar à Palestina, o que fez em outubro de 1937, após exatamente um ano de exílio.
Seu papel não se restringiu às ações armadas. Al-Hajj Muhammad participou ativamente de esforços políticos ao contar com seus contatos e sua perspicácia. Foi neste período que emitiu declarações contra o relatório da Comissão Woodhead – que analisava a recomendação britânica de partilha da Palestina ocupada. Al-Hajj Muhammad se opôs ainda a quaisquer ataques contra instituições políticas e econômicas de seu país – incluindo empresas e bancos –, ao considerá-las como pedra angular da independência nacional.
Martírio
No início de 1939, al-Hajj Muhammad viajou novamente a Damasco para se encontrar com a liderança palestina na diáspora e debater o processo revolucionário. Ao retornar à Palestina, foi acomodado por correligionários na aldeia de Sanur, no distrito de Tulkarem. No entanto, sua presença foi delatada por espiões britânicos e o Primeiro Batalhão do Regimento de Fronteira – sob escolta da Força Aérea Real – foi encaminhado ao local. As tropas coloniais cercaram a aldeia por todos os lados.
Abd al-Rahim al-Hajj Muhammad negou as propostas de rendição e foi executado em março de 1939. A notícia de seu falecimento se espalhou por todo o país. Lojas e estabelecimentos foram fechados em luto; milhares de palestinos velaram sua memória.
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