Nesta quinta-feira (23), o Fundo Monetário Internacional (FMI) voltou a advertir que o Líbano vive uma “situação perigosíssima” um ano após se comprometer com reformas econômicas que jamais implementou, reportou a agência Reuters. A instituição fez um apelo ao governo libanês para que não peça novos empréstimos ao Banco Central.
Ernesto Rigo, chefe da missão do FMI, afirmou em coletiva de imprensa realizada em Beirute que as autoridades devem acelerar a implementação das condições acordadas para assegurar um pacote de ajuda no valor de US$ 3 bilhões.
“Esperava-se mais em termos de implementação e aprovação de leis”, declarou Rigo, ao reiterar que os avanços caminham “devagar demais”.
“O Líbano vive uma situação perigosíssima”, destacou Rigo, em comentários francos e bastante incomuns no que se refere à negociação e à postura convencional de sua instituição.
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O Líbano assinou um acordo com o FMI há quase um ano, mas não cumpriu as condições para garantir um programa completo, visto como crucial para sua recuperação fiscal em meio a uma das piores crises financeiras do planeta.
Há ao menos três anos, a economia sofre danos exponenciais devido ao colapso da moeda, que perdeu cerca de 98% de seu valor em relação ao dólar. A inflação chegou a três dígitos e forçou a população ao êxodo ou à miséria.
A crise explodiu após décadas de corrupção e gastos desenfreados dentre as elites governantes. Em resposta, bancos que emprestaram fundos exorbitantes ao Estado libanês decidiram limitar o acesso de clientes comuns a suas poupanças, levando ao caos generalizado no país.
O governo estima perdas no sistema financeiro de mais de US$ 70 bilhões, a maioria das quais foram acumuladas pelo Banco Central.
“Basta de empréstimos do Banco Central”, alertou Rigo. “Ao longo dos anos, o governo pediu sucessivos empréstimos ao Banco Central. Não somente no passado, mas também nos últimos meses, algo que recomendamos firmemente que pare.”
O FMI solicitou que as perdas do setor financeiro sejam distribuídas de maneira a preservar os direitos dos pequenos depositantes e limitar o acesso a ativos estatais. Políticos poderosos e bancos locais, no entanto, resistem à ideia, protelando a recuperação.
Ainda assim, Rigo disse que o FMI “nunca abandonaria” um estado-membro, muito embora não haja cronograma para que o Líbano implemente suas reformas.
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