Uma cerimônia da Assembleia Geral, realizada nesta segunda-feira, marcou o Dia Internacional em Memória das Vítimas da Escravidão e do Comércio Transatlântico de Escravos, observado em 25 de março.
O secretário-geral, António Guterres, destacou o que ele chamou de “indústria da escravidão” que representou “o maior episódio de migração forçada da história humana.”
Zumbi dos Palmares
Segundo o líder das Nações Unidas, o comércio de escravos, “arrasou o continente africano, retardando o desenvolvimento da região por séculos.”
Ele traçou um paralelo entre a exploração da era colonial e as desigualdades socioeconômicas de hoje em dia. Para Guterres, a escravidão representa um “trauma transgeracional”.
Já o presidente da Assembleia Geral, Csaba Korosi, reforçou a importância de criar, através da educação, uma cultura de “respeito às vítimas” e o “dever da memória”. Ele também propôs a difusão de histórias de resistência como a do líder Zumbi dos Palmares, do Brasil.
Pela primeira vez, para marcar a data na Assembleia Geral, uma brasileira esteve no pódio. A filósofa Djamila Ribeiro, que lembrou que o Brasil foi o último país das Américas a abolir a escravidão.
Segundo ela, o mito da “democracia racial” dificultou a luta da população negra por memória e verdade. E que é necessário haver um entendimento real do tema.
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Djamila Ribeiro disse que “esse entendimento e ações corretivas, como políticas de reparação, foram adiadas por décadas.”
Ecos da escravidão
A ex-professora universitária, comentou que, no país, a expressão “deixar o passado para trás” foi parte de uma estratégia ideológica para negar o racismo, desconsiderando a opressão e os danos causados na população negra.
Para a escritora, os ecos do passado escravista reverberam nas altas taxas de estupro contra mulheres e nos discursos de ódio nas redes sociais. Ela afirmou que as estruturas econômicas e sociais no Brasil continuam empobrecendo a população negra e seus descendentes.
Trauma transgeracional
Para o secretrário-geral da ONU, o racismo deve ser entendido como legado da escravidão e combatido por todos. “Cabe a todos nós lutar contra o legado de racismo da escravidão”, disse ele.
O secretário-geral destacou ainda histórias de luta e resistência, como a da rainha Ana Nzinga of Ndongo, da atual Angola. Ele lembrou o papel da líder africana como inspiração para diversos movimentos de independência.
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Publicado originalmente em ONU News