Aproximadamente 50 milhões de pessoas no mundo árabe não possuem acesso básico à água potável. Além disso, cerca de 390 milhões de pessoas – equivalente a quase 90% da população total da região – vivem em países que sofrem com escassez de água.
Apesar de abrigar em torno de 6.3% da população global, o mundo árabe contém apenas 1.4% das fontes renováveis de água potável do planeta.
Os índices foram confirmados na terça-feira (28) por Rola Abdullah Dashti, secretária executiva da Comissão Socioeconômica das Nações Unidas para a Ásia Ocidental (ESCWA), durante evento organizado em cooperação com a Liga Árabe no âmbito da Conferência da ONU sobre a Água.
Sob o título “Compromisso conjunto da região árabe para acelerar a conquista da segurança hídrica”, o evento realizado em Nova York contou com a presença de diversos ministros, oficiais e especialistas árabes.
Segundo a representante da Organização das Nações Unidas (ONU), a região árabe não está no caminho adequado para cumprir as metas do item seis de seus Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, referente ao fornecimento de água limpa e serviços de saneamento universal até o ano de 2030.
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“A água na região árabe é uma fonte de prosperidade, mas também potencial causa de conflito e instabilidade. A escassez de água é uma questão de segurança hídrica, segurança alimentar, desenvolvimento e vida decente”, explicou Dashti.
Ao enfatizar a importância da cooperação em termos de água potável através das fronteiras, entre setores e partes interessadas, a oficial da ONU observou que “a diplomacia da água é uma questão fundamental”.
Dashti reiterou que sua agência lançou recentemente o Centro Regional de Conhecimento – ou “RICCAR” – iniciativa para avaliar o impacto das mudanças climáticas nos recursos hídricos e na vulnerabilidade dos setores socioeconômicos da região árabe.
O centro fornece acesso a informações que podem facilitar a cooperação, coordenação, diálogo e troca entre países, organizações e partes relevantes, ao conscientizar o público e aprimorar a rede regional incumbida de tratar das mudanças climáticas e dos recursos hídricos.
“A região árabe é a mais escassa em água em todo o mundo, com 19 de seus 22 países dentro da faixa de escassez”, comentou Shahira Wahbi, chefe do Departamento de Sustentabilidade, Recursos Naturais, Parcerias e Redução de Risco da Liga Árabe. “Vinte e um dos 22 países árabes obtêm seus principais recursos hídricos de águas transfronteiriças”.
Em entrevista à agência de notícias das Nações Unidas, Wahbi mencionou o relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, que descreveu a região como a mais impactada pelo aquecimento global. Temperaturas na região aumentam duas vezes mais rápido do que no restante do mundo.
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Wahbi pediu foco sobre oportunidades de projetos de cooperação regional no setor hídrico, ao fortalecer a capacidade regional de responder às mudanças climáticas e ajudar países árabes a mobilizar recursos financeiros adicionais.
“A água de fontes conhecidas e tradicionais, disponível à região árabe, não aumentará”, alertou Wahbi. “A solução para a questão da segurança hídrica e a escassez no mundo árabe, conforme especialistas, está no aproveitamento de recursos não-convencionais, incluindo dessalinização, reuso de águas residuais e aplicação agrícola, uso seguro de águas subterrâneas, água salobra e coleta de volumes pluviais.”
A oficial da Liga Árabe enfatizou a “necessidade de estabelecer um sistema integrado para o uso de água sob métodos não-convencionais, ao aproveitar cada gota de água disponível no mundo árabe, com intuito de alcançar suas metas de desenvolvimento sustentável.”
O Ministro de Recursos Hídricos e Meio Ambiente do Iêmen, Tawfiq al-Sharjabi, reiterou que as mudanças climáticas exacerbaram os desafios existentes na região, ao indicar queda de até três quartos nos recursos disponíveis para cada habitante. Além disso, conflito e epidemias – como no caso do Iêmen, assolado pela guerra civil e surtos de cólera – agravam a situação.
De acordo com estudos mencionados pelo ministro iemenita, nos próximos dois anos, ao menos catorze países árabes devem enfrentar duras secas. Ao menos dez países sofrerão com grave escassez de água.
Para enfrentar os desafios, al-Sharjabi sugeriu aprimoramento da pesquisa científica, criação de bancos de dados locais e nacionais, maior cooperação transfronteiriça, exploração de métodos não-convencionais e uso de tecnologia moderna para captação de água.
A Conferência da ONU sobre a Água de 2023 reuniu cerca de dez mil representantes de diversos setores para um evento de três dias, resultando em 700 compromissos para o futuro.
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