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Carta Aberta à Unicamp: estão ao lado do apartheid sionista?

29 de março de 2023, às 14h40

Vista de um campo de refugiados palestinos atrás do muro do apartheid de Israel em Jerusalém Oriental em 3 de dezembro de 2014 [Muammar Awad / Apaimages]

Com surpresa deparei-me com a notícia de que em abril, esta prestigiada universidade pública promoverá em seu espaço uma feira que receberá universidades sionistas de Israel.

Confesso que no primeiro momento achei bastante estranho e incoerente, afinal, a Universidade Estadual de Campinas tem em sua história o marco na luta pelas justiças sociais, sendo palco de resistência contra governos autoritários e períodos ditatoriais.

Assim sendo, não consigo acreditar que a mesma Unicamp promoverá uma feira para divulgar universidades que carregam sangue de palestinos em suas mãos. Ainda que argumentem “fins acadêmicos”, nada justifica endossar o apoio a essas universidades que desenvolvem tecnologia genocida, usando palestinos como alvos.

Universidades essas que localizam-se em território usurpado da Palestina, cujos mártires tombaram e tombam diariamente por defender suas terras, sendo vítimas de um regime sionista supremacista, que visa o apagamento dos povos originários, extinguindo-os e substituindo-os por uma população estrangeira e racista. Universidades sionistas erguidas sob famílias eliminadas e expulsas de forma criminosa.

É inadmissível que a Unicamp tenha sua valorosa história manchada com essa absurda feira, o que mostraria seu posicionamento conivente com o etnocídio que o estado farsante de Israel promove desde 14 de maio de 1948, desrespeitando os Acordos de Oslo e as próprias Cartas e Resoluções da ONU (a saber: Artigos 1, 2, 3 e 4 da Carta das Nações Unidas; Resolução 260 -Convenção para a Prevenção e a Repressão do Crime de Genocídio; Resolução 1514 – Declaração sobre a Concessão da Independência aos Países e Povos Coloniais; Resolução 1761 – Sanções recomendadas contra a África do Sul em resposta à política governamental de apartheid; Resolução 2106 – Convenção sobre a Eliminação de todas as formas de Discriminação Racial; Resolução 3068 – Convenção Internacional sobre a Supressão e Punição do Crime de Apartheid).

Como se justifica dar palco para o apartheid israelense nesta universidade, se a mesma apresenta desde 2020 o Prêmio de Reconhecimento Acadêmico em Direitos Humanos, destinado para pesquisas que mostrem “efetiva contribuição para a proteção e defesa do direito à vida, dignidade humana e justiça social e sejam exemplo de defesa da liberdade e responsabilidade científica para a melhoria da humanidade”? É no mínimo uma contradição ideológica!

Esse tipo de evento mostra uma ofensiva do sionismo, que em mais uma demonstração de abuso, tenta ocupar o espaço acadêmico das universidades públicas brasileiras com seu regime de apartheid, divulgado e propagandeado o sionismo, cujo objetivo e colonizar e desumanizar outros povos.

As universidades sionistas permitem, justamente, o financiamento de Israel, perpetuando sua existência genocida com tais desenvolvimentos tecnológicos de sistemas, armamentos e munições para uso bélico, os quais são produzidos em territórios ocupados sob apartheid, testados no povo palestino e exportados para utilização em massa contra outros povos.

É afrontosa essa feira não apenas para com nossos camaradas palestinos, mas para toda a comunidade e sociedade civil como um todo. Vale lembrar de acontecimentos recentes que exemplificam o que argumento aqui: o uso irregular do software israelense Pegasus para espionagem de inimigos/opositores do (des)governo Bolsonaro e até mesmo o uso de tecnologias que influenciaram eleições de outros países, como denunciou a rede de jornalistas investigativos Forbidden Stories.

Não se pode omitir também as declarações do ultranacionalista e ministro das Finanças de Israel, Bezalel Smotrich, que além de propagar mentiras dizendo que “não existe povo palestino”, incita o ódio e o etnocídio escancarado da Palestina. Por sinal, esse mesmo apoiador da expansão das colônias, se define como um “homofóbico orgulhoso” e defendeu recentemente que a cidade de Huwara, na Cisjordânia (ocupada desde 1967), deveria “ser apagada”.

Como pode a Unicamp abrir as portas para essas universidades que desenvolvem essas armas e com isso abastecem a limpeza étnica na Palestina? Como pode essa instituição ignorar que famílias vivem sob cerco constante de saqueadores e assassinos?

Apenas para ilustrar o que é acolher Israel em seu espaço: é ser conivente com criminosos que, só em Gaza, considerado o maior campo de concentração a céu aberto do mundo, a população está sob um cerco que permite apenas 4 horas de eletricidade; quase 50% das crianças sofrem de anemia aguda pela má nutrição e 54% das famílias passam fome, situações promovidas de forma proposital pelo apartheid de Israel. Além disso, 95% da água não está potável também de forma proposital, forçando a expulsão das famílias.

Ou seja, dar palco para essas universidades sionistas é apoiar o regime de apartheid contra o povo palestino!

Sendo assim, Sr. Reitor, acreditando que a Universidade Estadual de Campinas realmente não trairá seus princípios humanistas e compromisso com a democracia, com a verdade e a justiça social, espero que essa feira seja cancelada perante os fatos aqui resumidamente apresentados, o que mostraria a grandiosidade da instituição.

Afinal, sujar o nome da Unicamp com sangue palestino, vítimas do apartheid de Israel, não é algo que irão se orgulhar.

Agradeço pela atenção,

Luiz Fernando Leal Padulla  – Professor, Biólogo, Doutor em Etologia. Mestre em Ciências, Especialista em Bioecologia e Conservação,

Internacionalista e apoiador da causa Palestina