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Soldados israelenses em Gaza ostentam má conduta

Carta Aberta à Unicamp: estão ao lado do apartheid sionista?

Vista de um campo de refugiados palestinos atrás do muro do apartheid de Israel em Jerusalém Oriental em 3 de dezembro de 2014 [Muammar Awad / Apaimages]

Com surpresa deparei-me com a notícia de que em abril, esta prestigiada universidade pública promoverá em seu espaço uma feira que receberá universidades sionistas de Israel.

Confesso que no primeiro momento achei bastante estranho e incoerente, afinal, a Universidade Estadual de Campinas tem em sua história o marco na luta pelas justiças sociais, sendo palco de resistência contra governos autoritários e períodos ditatoriais.

Assim sendo, não consigo acreditar que a mesma Unicamp promoverá uma feira para divulgar universidades que carregam sangue de palestinos em suas mãos. Ainda que argumentem “fins acadêmicos”, nada justifica endossar o apoio a essas universidades que desenvolvem tecnologia genocida, usando palestinos como alvos.

Universidades essas que localizam-se em território usurpado da Palestina, cujos mártires tombaram e tombam diariamente por defender suas terras, sendo vítimas de um regime sionista supremacista, que visa o apagamento dos povos originários, extinguindo-os e substituindo-os por uma população estrangeira e racista. Universidades sionistas erguidas sob famílias eliminadas e expulsas de forma criminosa.

É inadmissível que a Unicamp tenha sua valorosa história manchada com essa absurda feira, o que mostraria seu posicionamento conivente com o etnocídio que o estado farsante de Israel promove desde 14 de maio de 1948, desrespeitando os Acordos de Oslo e as próprias Cartas e Resoluções da ONU (a saber: Artigos 1, 2, 3 e 4 da Carta das Nações Unidas; Resolução 260 -Convenção para a Prevenção e a Repressão do Crime de Genocídio; Resolução 1514 – Declaração sobre a Concessão da Independência aos Países e Povos Coloniais; Resolução 1761 – Sanções recomendadas contra a África do Sul em resposta à política governamental de apartheid; Resolução 2106 – Convenção sobre a Eliminação de todas as formas de Discriminação Racial; Resolução 3068 – Convenção Internacional sobre a Supressão e Punição do Crime de Apartheid).

Como se justifica dar palco para o apartheid israelense nesta universidade, se a mesma apresenta desde 2020 o Prêmio de Reconhecimento Acadêmico em Direitos Humanos, destinado para pesquisas que mostrem “efetiva contribuição para a proteção e defesa do direito à vida, dignidade humana e justiça social e sejam exemplo de defesa da liberdade e responsabilidade científica para a melhoria da humanidade”? É no mínimo uma contradição ideológica!

Esse tipo de evento mostra uma ofensiva do sionismo, que em mais uma demonstração de abuso, tenta ocupar o espaço acadêmico das universidades públicas brasileiras com seu regime de apartheid, divulgado e propagandeado o sionismo, cujo objetivo e colonizar e desumanizar outros povos.

As universidades sionistas permitem, justamente, o financiamento de Israel, perpetuando sua existência genocida com tais desenvolvimentos tecnológicos de sistemas, armamentos e munições para uso bélico, os quais são produzidos em territórios ocupados sob apartheid, testados no povo palestino e exportados para utilização em massa contra outros povos.

É afrontosa essa feira não apenas para com nossos camaradas palestinos, mas para toda a comunidade e sociedade civil como um todo. Vale lembrar de acontecimentos recentes que exemplificam o que argumento aqui: o uso irregular do software israelense Pegasus para espionagem de inimigos/opositores do (des)governo Bolsonaro e até mesmo o uso de tecnologias que influenciaram eleições de outros países, como denunciou a rede de jornalistas investigativos Forbidden Stories.

Não se pode omitir também as declarações do ultranacionalista e ministro das Finanças de Israel, Bezalel Smotrich, que além de propagar mentiras dizendo que “não existe povo palestino”, incita o ódio e o etnocídio escancarado da Palestina. Por sinal, esse mesmo apoiador da expansão das colônias, se define como um “homofóbico orgulhoso” e defendeu recentemente que a cidade de Huwara, na Cisjordânia (ocupada desde 1967), deveria “ser apagada”.

Como pode a Unicamp abrir as portas para essas universidades que desenvolvem essas armas e com isso abastecem a limpeza étnica na Palestina? Como pode essa instituição ignorar que famílias vivem sob cerco constante de saqueadores e assassinos?

Apenas para ilustrar o que é acolher Israel em seu espaço: é ser conivente com criminosos que, só em Gaza, considerado o maior campo de concentração a céu aberto do mundo, a população está sob um cerco que permite apenas 4 horas de eletricidade; quase 50% das crianças sofrem de anemia aguda pela má nutrição e 54% das famílias passam fome, situações promovidas de forma proposital pelo apartheid de Israel. Além disso, 95% da água não está potável também de forma proposital, forçando a expulsão das famílias.

Ou seja, dar palco para essas universidades sionistas é apoiar o regime de apartheid contra o povo palestino!

Sendo assim, Sr. Reitor, acreditando que a Universidade Estadual de Campinas realmente não trairá seus princípios humanistas e compromisso com a democracia, com a verdade e a justiça social, espero que essa feira seja cancelada perante os fatos aqui resumidamente apresentados, o que mostraria a grandiosidade da instituição.

Afinal, sujar o nome da Unicamp com sangue palestino, vítimas do apartheid de Israel, não é algo que irão se orgulhar.

Agradeço pela atenção,

Luiz Fernando Leal Padulla  – Professor, Biólogo, Doutor em Etologia. Mestre em Ciências, Especialista em Bioecologia e Conservação,

Internacionalista e apoiador da causa Palestina

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