Protestos contra a reforma judicial proposta pelo premiê israelense Benjamin Netanyahu não mostraram sinais de apaziguamento neste sábado (1°), apesar da tramitação ser suspensa pelo governo devido a uma crise interna deflagrada há uma semana.
Dezenas de milhares de pessoas saíram às ruas para exigir que a reforma fosse abandonada por completo, segundo informações da agência de notícias Reuters.
Cercado pela agitação doméstica e expressões de preocupação e desaprovação em Washington, Netanyahu interrompeu sua reforma na segunda-feira (27), supostamente para tentar firmar um acordo político entre sua coalizão de extrema-direita e partidos de oposição.
Netanyahu demitiu seu ministro da Defesa, Yoav Gallant, após este expressar críticas à reforma e alertas de um motim das Forças Armadas. A medida alimentou mais e mais protestos e forçou Netanyahu a recuar. Gallant permanece no cargo interinamente.
“Não acreditamos em nada do que sai da boca de Bibi [Netanyahu]”, comentou Emanuel Keller, de 30 anos, durante um protesto em frente à residência oficial do presidente israelense Isaac Herzog, onde ocorrem as negociações. “Esta é uma manobra política para nos dissuadir”.
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A reforma transfere poderes do judiciário ao executivo, em particular na nomeação de juízes. Netanyahu é réu por corrupção, acusado de tentar mudar a legislação por interesses próprios, em detrimento da Suprema Corte.
Críticos veem a iniciativa do governo como uma ameaça à independência da justiça e tentativa de golpe legal. Apoiadores alegam buscar um tribunal “menos elitista e intervencionista”.
Netanyahu diz que as reformas são necessárias para equilibrar a balança entre os três poderes. Seu partido Likud e aliados políticos de extrema-direita responderam aos protestos ao convocar seus próprios apoiadores às ruas, o que alimentou tensões e discursos de violência.
Segundo a imprensa local, mais de 150 mil pessoas participaram dos protestos contra o governo neste sábado. A maior manifestação ocorreu novamente na cidade de Tel Aviv, centro comercial do país e capital de facto do estado ocupante.
“Vamos vencer porque não podemos viver de outro modo. Não podemos viver em um estado que não é democrático”, insistiu o manifestante Limor Moyal em Tel Aviv.
Os protestos internos lesam ainda mais a imagem da “democracia” em Israel, sob impacto já severo de denúncias internacionais de apartheid perpetrado contra os palestinos.