Poucos podem afirmar ter produzido riqueza de conhecimento e alcançado o domínio da história do Oriente Médio, mas a curiosidade insaciável de Roy Mottahedeh pelo passado nos deixou com um tesouro de obras. Lendo os ensaios que ele escreveu nos últimos cinquenta anos e reunidos em seu novo livro In the Shadow of the Prophet: Essays in Islamic History (Na Sombra do Profeta: Ensaios sobre a História Islâmica), você tem uma sensação do passado sussurrando para você de várias maneiras. Mottahedeh não apenas disseca o passado, mas também reflete as preocupações de certos períodos em ensaios que são agora artefatos históricos. Para mim, foi isso que tornou este volume um prazer de ler.
Mottahedeh conquistou muitos admiradores ao longo de sua carreira como professor de história na Universidade de Harvard. Sua obra mais famosa, The Mantle of the Prophet: Religion and Politics of Iran (O Manto do Profeta: Religião e Política do Irã), tornou-se uma leitura obrigatória para qualquer pessoa interessada na história iraniana. Escrito alguns anos após a revolução iraniana de 1979, quando questões sérias sobre o Irã estavam sendo feitas, Mottahedeh aceitou o desafio e produziu um livro único; incomumente, foi organizado tematicamente em vez de cronologicamente. Sua escrita demonstrou um brilho criativo em uma narrativa ousada da história de uma forma que interessaria a muitas pessoas. Foi The Mantle of the Prophet que me deixou curioso sobre sua outra obra.
Como eu esperava e ansiava, os ensaios do livro em análise abrangem uma ampla gama de tópicos, incluindo a formação da lei islâmica, a ideia de Jihad e a amizade na filosofia islâmica. O que transparece nos ensaios é a sensação de que Mottahedeh não está apenas nos ensinando; ele também está tentando aprender algo ao longo do caminho.
Gostei particularmente de seu ensaio sobre Kashan medieval, que me permitiu pensar mais sobre o papel de cidades menores dentro de impérios e civilizações. Elas são muitas vezes ignorados pelos historiadores, mas, como aponta Mottahedeh, “embora as cidades menores nem sempre escapassem de saques e pilhagens, esses assentamentos sobreviveram como centros alternativos para os quais as pessoas deslocadas poderiam se deslocar. Eles também poderiam servir como locais de refúgio de crenças minoritárias, como é o caso do xiismo em Kashan.” Em outras palavras, embora Kashan não seja uma cidade importante no Irã, ainda é importante para entender o fluxo e refluxo da história iraniana.
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Traçar a história medieval de Kashan não é fácil, pois não existem manuscritos sobreviventes sobre a cidade. Assim, um certo grau de trabalho de detetive foi necessário para construir uma imagem de como era. Mottahedeh explica que a cidade cresceu em importância quando os mongóis saquearam o país e se tornou um importante centro de produtos têxteis e artesanais, bem como um lugar onde o xiismo cresceu antes que o Irã se tornasse oficialmente um país de maioria xiita. “Kashan era consideravelmente menor que Isfahan e um pouco menor que seu vizinho xiita, Qom”, escreve ele. “No entanto, diversas fontes indicam que Kashan manteve uma vida cívica e regional relativamente robusta do século 4/10 até o século 9/15.”
O ensaio sobre a amizade na filosofia islâmica foi particularmente esclarecedor. Resumindo, a amizade dos autores medievais pode ser pensado como uma espécie de “amor cardinal”.
“É por meio da amizade que a associação de pessoas se transforma em comunidade”, destaca Mottahedeh. “Na sua forma mais profunda, a amizade é o vínculo mais forte que pode existir entre os seres humanos. É também uma capacidade humana que pode ser focada em Deus e Deus acolhe esse foco. Sem amizade não teríamos sociedade e nenhuma relação espiritualmente profunda [sic] com o Divino.”
Este capítulo do livro não só nos leva a pensar no passado, mas também a pensar no presente e em algo que tem impacto no nosso quotidiano.
In the Shadow of the Prophet… oferece uma ampla gama de envolvimento instigante e intelectualmente estimulante com a história do Oriente Médio, iraniana e islâmica. Ele oferece a qualquer um que tenha paixão pela história novos horizontes para explorar e um senso de propósito renovado.
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