Nesta sexta-feira (28), o Ministério da Inteligência do Irã mudou a versão sobre supostos casos de envenenamento contra estudantes do país, ao acusar “inimigos” estrangeiros e dissidentes de fomentar rumores sobre os episódios.
A reviravolta coincide com resultados de um inquérito que desmentiu o caso, relatou a agência de notícias Reuters.
A suposta onda de ataques teria afetado milhares de meninas em idade escolar, causado pânico e indignação, após meses de protestos no Irã contra os governantes clericais devido à morte em custódia de Mahsa Amini, presa por violar as regras do hijab (véu islâmico).
“O papel dos inimigos em alimentar a crise é certo e inegável”, afirmou o ministério, segundo a imprensa estatal. “Indivíduos, grupos e a imprensa ocidental se concentraram nisso nos últimos meses, além de políticos e órgãos internacionais”.
A alegação contrapõe a ampla cobertura da imprensa estatal iraniana sobre o caso. O ministério culpou ainda artimanhas e “histeria” das estudantes pela disseminação das notícias.
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“Pesquisa de campo e averiguações laboratoriais não revelaram qualquer substância capaz de causar intoxicação”, constatou o relatório. “Não houve mortes ou sequelas”.
O ministério acusou dissidentes não identificados de provocar medo para produzir propaganda e ameaçou “indiciar indivíduos, grupos e redes de imprensa que culpabilizaram o governo … e se alinharam com os inimigos do país”.
Apesar da versão atual de que “inimigos” da república tenham conduzido um elaborado complô para sabotar a teocracia vigente, suspeitas recaíram em grupos linha-dura ligados ao regime.
Os supostos casos de envenenamento começaram em novembro, no ápice dos protestos no Irã, na cidade xiita de Qom. Vinte e oito das 31 províncias teriam sido afetadas, causando um surto de abandono escolar entre meninas iranianas e protestos de familiares.