O Ministério de Relações Exteriores do Brasil (Itamaraty) condenou os ataques aéreos de Israel contra a Faixa de Gaza desde a madrugada desta terça-feira (9), que incorreram em baixas civis. Os bombardeios resultaram na morte de três supostos comandantes do grupo de resistência de Jihad Islâmica, em suas residências na Cidade de Gaza. Ao menos dez civis também faleceram, incluindo membros de suas famílias, um dentista, sua esposa e seu filho.
No total, vinte e dois palestinos morreram, incluindo quatro crianças, e dezenas ficaram feridos – alguns em estado grave. Dezenas de prédios residenciais foram destruídos.
Veja a seguir o comunicado na íntegra:
O Governo brasileiro tomou conhecimento, com consternação, do bombardeio realizado na madrugada de hoje pela Força Aérea de Israel a áreas residenciais na Faixa de Gaza, no Estado da Palestina, provocando a morte de ao menos 13 cidadãos palestinos, incluindo 10 civis, dentre os quais crianças.
O Governo brasileiro expressa condolências aos familiares das vítimas e manifesta sua solidariedade ao povo e ao governo do Estado da Palestina.
O Brasil lamenta que em 2023, ano do 30º aniversário dos Acordos de Paz de Oslo, já se tenham registrado as mortes de mais de 100 palestinos e mais de 15 israelenses em conflito. Ao reiterar que não há justificativa para o recurso à violência, sobretudo contra civis, o governo brasileiro apela às partes que se abstenham de ações que levem a uma escalada de tensão.
O Brasil reitera seu compromisso com o direito internacional, com o direito internacional humanitário e com a solução de dois Estados, para que Palestina e Israel possam conviver em paz e segurança, dentro de fronteiras mutuamente acordadas e internacionalmente reconhecidas. Reafirma, ainda, que a mera gestão do conflito não constitui alternativa viável para o encaminhamento da questão israelo-palestina, sendo urgente a retomada das negociações de paz.
Lula e Israel-Palestina
Vale notar que o comunicado do Itamaraty reflete uma mudança de tom assumida pelo governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva desde sua posse, em janeiro de 2023. A equipe de Lula – encabeçada pelo chanceler Mauro Vieira – deu uma guinada em relação à política externa de seu antecessor de extrema-direita, Jair Bolsonaro. Lula busca uma posição mais protagônica no cenário internacional, ao contrário das posições de Bolsonaro, alinhadas ao sionismo e à antiga administração americana de Donald Trump.
O atual presidente brasileiro – veterano político de esquerda em terceiro mandato – possui um histórico de falas pró-Palestina e críticas a Tel Aviv, apesar de ter mantido a compra de armas e outros equipamentos fabricados no Estado sionista.
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Em 2009, em seu segundo mandato, Lula recebeu na capital Brasília o então presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, considerado “inimigo de Israel”, durante uma visita que incitou críticas no exterior.
Um ano depois, contudo, Lula se tornou o primeiro chefe de Estado brasileiro a viajar à “Terra Santa” desde o imperador Dom Pedro II, em 1876. Lula, porém, se recusou a visitar o túmulo de Theodor Herzl, pai fundador do sionismo, durante as celebrações de seu 150° aniversário.
Poucos dias depois, Lula pôs flores no túmulo do líder palestino Yasser Arafat em Ramallah, na Cisjordânia ocupada.
Em 1° de dezembro de 2010, um mês antes de passar a faixa presidencial a Dilma Rousseff, seu governo reconheceu oficialmente o Estado da Palestina.
Logo após Lula ser empossado ao terceiro mandato, o Itamaraty repudiou a invasão do ministro de Segurança Nacional de Israel, Itamar Ben-Gvir, notório militante colonial, ao complexo da Mesquita de Al-Aqsa, em Jerusalém ocupada.
Em 24 de abril, uma delegação da Frente em Defesa do Povo Palestino, reunindo organizações e ativistas, foi recebida pela Secretaria de Comunicação (Secom) da Presidência da República para reivindicar do governo que denuncie o apartheid israelense contra os palestinos.
Para os membros da Frente, o governo pode atuar para que a Assembleia Geral da ONU adote resoluções e medidas contra o apartheid e apoiar a investigação do Tribunal Penal Internacional sobre os crimes de guerra e lesa-humanidade perpetrados nos territórios ocupados. A delegação reforçou também apelos para que o governo interceba pelo retorno de Islam Hamed, hoje com 36, preso por Israel desde a adolescência, para que possa viver na terra de sua família.
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