Mohammad Saed, palestino de Gaza, que viu sua noiva pela última vez minutos antes de ela ser morta por ataques aéreos israelenses, na terça-feira (9), recordou passar os últimos momentos do casal discutindo como posar para a foto de matrimônio.
“Passei 15 minutos com ela antes de ser morta”, comentou Saed, de apenas 19 anos, à agência de notícias Reuters, de uma sala em ruínas na residência da família de Danias Adas, sua falecida noiva, onde se encontraram no dia anterior.
“Prometemos não deixar um ao outro até que a morte nos separe. E assim foi”, relatou o jovem bastante emocionado, prendendo a respiração.
Sua noiva, também de 19 anos, e a irmã, Iman, de somente 16 anos de idade, foram mortas por jatos israelenses que atingiram o edifício vizinho, onde um suposto líder do movimento de Jihad Islâmica, Khalil al-Bahtini, vivia com esposa e filha. A família al-Bahtini foi também dizimada.
Dania já estava morta quando bombeiros a retiraram dos escombros. Iman faleceu no hospital, confirmou sua mãe, devastada, Asmahan Adas. As jovens estão entre os dez civis mortos pelos bombardeios de terça-feira, incluindo cinco mulheres e quatro crianças.
A mãe recorda ter chamado as filhas pelo nome; contudo, sem resposta.
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“Estava cheio de poeira, mas não liguei e entrei na sala. Queria salvar minhas filhas, quando vi a sala inteira cair sobre suas cabeças”, recordou Asmahan à Reuters. “A ocupação tomou de mim meus bens mais preciosos, minhas filhas amadas”.
Israel insistiu que al-Bahtini era um dos três líderes da Jihad Islâmica alvejados pelo ataque, ao acusá-lo de ser responsável por disparos de foguetes através da fronteira na última semana. O exército confirmou a morte de sua esposa e filha, mas alegou tentar conter baixas civis.
Contudo, oficiais palestinos de Gaza reiteraram que Israel alvejou de forma direta e deliberada edifícios residenciais no território costeiro, onde 2.3 milhões de pessoas vivem em situação de miséria, em uma área de apenas 365 km².
As atitudes de Israel demonstram desdém pela vida de civis palestinos, reiteraram os oficiais. De acordo com o Ministério da Saúde de Gaza, ao menos 21 pessoas morreram desde terça.
Os palestinos vivenciaram diversas guerras travadas por Israel desde o início do cerco, em 2007. Os 16 anos de bloqueio israelense prejudicaram gravemente o desenvolvimento da economia e do setor de saúde e empobreceram a população.
Israel retirou soldados e colonos de Gaza em 2005, sob um plano de desengajamento. Contudo, limita o acesso dos palestinos ao mar e controla seu espaço aéreo. As únicas duas travessias de bens e pessoas são fechadas regularmente por Israel e Egito. A situação é descrita como prisão a céu aberto.
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